//ENTREVISTA// O prefeito abre o jogo (2)

Sidney Ferraresso: "Os turistas elogiam a limpeza da cidade"

Salete Silva e Carlos Motta

Nesta segunda parte da entrevista que deu ao Viva! Serra Negra, o prefeito Sidney Ferraresso (DEM) diz que está muito preocupado com o fato de que, até agora, o governo federal não confirmou se o Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, previsto para expirar no ano que vem, terá continuidade. Serra Negra recebe anualmente R$ 7,5 milhões do Fundeb, usados para pagar os professores da rede municipal. "Se não vier o Fundeb, o que faremos? Vou chamar vocês e vou chorar junto", afirmou Ferraresso.

O prefeito também rebateu as críticas de moradores que acham que Serra Negra está mal cuidada e de que as administrações se preocupam mais com o turismo do que com os problemas da cidade. "Quando dizem que gastamos R$ 500 mil no Carnaval, que isso dava para comprar três, quatro ambulâncias, ora tem de ter as ambulâncias e tem de ter o Carnaval", afirmou. 

A seguir, a segunda parte da entrevista: 

Viva! Serra Negra – Boa parte das reclamações dos serranos, em especial nas redes sociais, é com relação à zeladoria: limpeza de praças, bancos quebrados, fontes fechadas... Alguns dizem que Serra Negra já foi mais bem cuidada. Qual é a sua avaliação sobre essas queixas?
Sidney Ferraresso – Nós temos, a respeito de praças, essas coisas, uma reclamação pontual que é a Fonte São Luís. Estamos com projeto pronto, já estivemos com os moradores, vamos aplicar R$ 250 mil lá e vamos reformular aquilo, que está realmente deixando a desejar. As outras praças aqui da cidade e os demais locais eu considero que estão em bom estado. O que acontece hoje é que com as redes sociais e com a instantaneidade, sabe como funciona... Se tiver um buraco na rua, você tira uma foto do buraco. Se eu arrumar no outro dia, a imagem que ficou é a do buraco. Ninguém vai tirar uma foto e dizer que o prefeito tapou o buraco. Muitas outras coisas são assim. Quando recebemos turistas, conversamos com alguém, temos algum evento na praça, me apresento como prefeito, recebo muitos elogios e eles dizem “que cidade limpa”, “que cidade bem cuidada”. Tem reclamação, a gente procura resolver, e é chato até falar isso, mas sujeira, às vezes é o povo que faz. Você vê o bueiro que está até à boca entupido, é porque alguém jogou uma garrafa, jogou alguma coisa nele. Isso é a educação do povo, mas aqui ainda é muito melhor do que muitos lugares. Acho que com a convivência nossa com o turismo, o nosso morador aprendeu a conviver com pessoas de outras cidades. Então, não temos tido problemas, não, e o que tem a gente procura resolver.

Viva! Serra Negra – O sr. acha que o turista não tem a impressão de que a cidade está descuidada?
Sidney Ferraresso – Não. Eu recebi outro dia um turista aqui na praça, ele veio me dar os parabéns, e isso ficou na minha cabeça. Ele falou: “A sua cidade é nível internacional, a limpeza que a gente vê aqui só se vê na Europa.” Se você andar por aqui, a cidade está bem cuidada, as praças... nossas garis prestam um bom serviço.

Viva! Serra Negra – O sr. acha que essas queixas dos moradores podem ser um problema de comunicação?
Sidney Ferraresso – Não sei. Pode ser, sim. Nós, este ano, vamos reformar as três praças. Vamos fazer uma reforma grande na praça da igreja, como a chamamos. Aquela praça tem muita escada, muitos degraus, hoje só se fala em acessibilidade. Nós temos um projeto para aquela praça, para a João Zelante e a praça da Prefeitura, e para a Sesquicentenário. É uma verba federal, de R$ 900 mil, obtida pelo deputado Herculano Passos (MDB), que temos de aplicar nessa área. 

Viva! Serra Negra – Com relação à Fonte São Luís, houve queixa de que o novo projeto vai tirar uma área do parque...
Sidney Ferraresso – O espaço do parque não vai diminuir. Será construído apenas um salão de 25 metros quadrados ali. Será um centro de convivência. Há um professor lá que já dá aula de caratê de graça, na garagem dele, e ele dará aulas nesse espaço. Quando eu era vice-prefeito, fazíamos curso de panificação, ovo de Páscoa, na igreja. Será um local para se reunir, comemorar aniversário do morador... Se ele quiser fazer uma festinha ali, pode ser também.

Viva! Serra Negra – A questão colocada por algumas pessoas é principalmente a da água. Elas querem que seja uma água pura, que não tenha contaminação.
Sidney Ferraresso – E esse pessoal tem razão. Se o turista vai lá visitar – lá não vai muito turista –, mas se ele vai lá admirar o local, é muito natural que ele queira tomar a água. Mas lá é difícil. Muito difícil. A Sabesp e a vigilância sanitária vão começar a semana que vem a trabalhar lá. Vamos arrumar briga, porque alguns moradores vão ter de quebrar a calçada, o corredor da casa, porque jogam o esgoto... Lá, nessa fonte, 50 anos atrás, havia vazamento de esgoto. Vai ser difícil fazer a água correr limpa.

Viva! Serra Negra – Qual é a opinião do sr. sobre a reclamação de moradores de que as administrações municipais se preocupam mais com o turismo do que com outras áreas importantes para os serranos, como a saúde?
Sidney Ferraresso – Não gosto desse tipo de comparação. Quando dizem que gastamos R$ 500 mil no Carnaval, que isso dava para comprar três, quatro ambulâncias, ora tem de ter as ambulâncias e tem de ter o Carnaval. O turista vem aqui. Se pudesse não fazer o Carnaval, não gastar nada nos quatro dias... Mas preciso fazer. A concorrência de outras cidades está grande. Este ano, por sinal, foi um belo Carnaval. Inovamos em algumas coisas, deu certo. Fizemos um Carnaval kids com crianças, foi maravilhoso. A saúde é uma coisa assim: quando as pessoas precisam de serviços médicos, o estado de espírito dela é diferente de ir a uma festa. Se você está com uma pessoa doente, quer resolver. 

Viva! Serra Negra – A saúde para as pessoas em geral é o principal problema. 
Sidney Ferraresso – A saúde aqui, nós fizemos pesquisa, ela melhorou muito. A ex-secretária, Bárbara [Regiani], fez um trabalho excelente, a saúde melhorou muito. Hoje, por exemplo, nossas consultas são mais rápidas que na Unimed. Quem tem Unimed sabe disso. Quem tem Unimed e precisa de um médico espera dois meses, nós aqui, se demorar quinze dias, a pessoa reclama com o prefeito, com o vereador. Mas isso faz parte. Na Unimed ou outro plano de saúde, paga-se e espera-se. Aqui, a saúde é boa, temos aqui além dos nossos postos de saúde, o programa saúde da família, nós temos um hospital, que quando reclamam acham que o hospital é da prefeitura. O hospital não é da prefeitura. É uma entidade particular, nós repassamos R$ 420 mil mensais e mais R$ 100 mil do SUS. A obrigação do município hoje é só o pronto-socorro. O pronto-socorro nosso nem necessitaria ser no hospital. Se quiséssemos, o pronto-socorro poderia ser em outro lugar. É lógico que a facilidade está aí, se for um caso grave, é só atravessar a porta e interna-se. Senão, a gente ajuda. Isso é saúde. Quanta coisa daria para fazer se o hospital fosse autossuficiente...

Viva! Serra Negra – E sobre as reclamações a respeito dos médicos?
Sidney Ferraresso – Estamos contratando mais dois médicos para ficarmos com quatro. A meta são quatro. Sabe como funciona o saúde da família? Faz o cadastro, os agentes comunitários vão na casa, conhecem a vida do paciente. Contratamos também um médico do trabalho. O problema maior da saúde são os remédios, que são caros. Há uma cesta de remédios que somos obrigados a ter nos postos e os de alto custo a gente passa para o Estado. O alto custo tem de fazer um processo e é demorado. Alguma coisa aqui a gente faz, avaliação social, a pessoa requer e a gente acaba fornecendo. A nossa saúde é boa em comparação com outros municípios. A gente fica contente quando as pesquisas mostram queda no número de reclamações.

Viva! Serra Negra – Voltando à educação, há a necessidade da renovação do Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, que repassa anualmente R$ 7,5 milhões para Serra Negra, usados no pagamento de todos os professores da rede municipal. O Fundeb vai expirar em 2020 e até agora o Ministério da Educação não priorizou esse assunto e gasta mais tempo polemizando com professores e estudantes. O sr. não acha isso preocupante?
Sidney Ferraresso – Preocupante. Esse Fundeb está vencendo e eu digo que a sua preocupação é a minha. Se não vier o Fundeb, o que faremos? Vou chamar vocês e vou chorar junto. Isso é um problema de 5.500 municípios brasileiros. Se não mandarem mais o Fundeb, o problema é meu e de todos os municípios. Isso é muito mais importante do que as discussões que o ministro da Educação tem tido com os professores. Serra Negra é uma ilha, porque em toda a região o ensino é municipalizado. Os municípios da região estão em pior situação, porque eles pagam também os professores da rede estadual. Nós temos convênio com o Estado, que é a merenda. Nós fornecemos a merenda para todas as escolas estaduais e o transporte, mas o Estado repassa parte do custo. É um convênio e a gente tem de pôr um pouco. O Fundeb é muito preocupante e pouca gente sabe, vocês levantaram esse problema e ele é sério e ele existe.

Viva! Serra Negra – Outro alvo de críticas dos munícipes é o transporte público. Qual é a sua avaliação sobre ele? O sr. tem algum projeto para essa área?
Sidney Ferraresso – Nunca recebi uma reclamação sobre transporte público. Nenhuma, como a de que o ônibus atrasou, que é ruim, que está sujo ou que o motorista é mal-educado, nunca recebi reclamação. É uma empresa que faz. O atendimento é bom demais, ônibus novos e em muitos horários. Às vezes recebo crítica até de que o ônibus está andando vazio, com pouca gente. Ônibus tem à vontade. 

Viva! Serra Negra – Como é na área rural?
Sidney Ferraresso - Tem muitos horários para a área rural. Na Ramalhada, o que a gente atende? No domingo, a Ramalhada tem seis horários. Estamos muito bem servidos de ônibus. É o meu terceiro ano, não fiz reajuste de tarifa de passagem. Estou praticando os mesmos preços do ex-prefeito Bimbo [Antônio Luigi Ítalo Franchi] ainda. Há tão pouca gente que paga. Estudante não paga, funcionário público não paga, mais de 65 anos não paga, deficiente não paga, criança que vai para creche não paga e acompanhante que leva a criança não paga. Pouquíssimos pagam. O transporte é muito subsidiado. Gasta R$ 400 mil por mês e arrecada cerca de 60 mil.

Viva! Serra Negra – Como é feita a remuneração e a contratação da empresa? 
Sidney Ferraresso - A remuneração é feita por quilômetro. A contratação vem de outros governos, chama outorga, a prefeitura fez uma licitação, a empresa ganhou por 20 anos. Já está fazendo uns dez anos. Os ônibus que circulam não podem ter mais de seis anos. Os ônibus são novos, todos adaptados para acessibilidade. Temos poucos deficientes na cidade, mas eles têm o elevador, que encarece muito. 

Viva! Serra Negra – Há previsão para a criação da Secretaria de Cultura?
Sidney Ferraresso – Na eleição houve debate na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e apresentaram um documento para eu assinar, me comprometendo a não aumentar o número de secretarias. Eu assinei. Antes de entregar o documento, me disseram que todos os outros candidatos já haviam assinado. Assim como foi com o hospital, aumentei R$ 50 mil por mês porque assumi um compromisso. De um mês para outro já tive de aumentar a verba de R$ 280 mil para R$ 320 mil. Então, assinei que não aumentaria o número de secretarias. Essa ideia da OAB é válida, porque um maluco pode aumentar o número de secretarias, o que só acarreta aumento de gasto público. Só que nós aprovamos na Câmara o plano de cultura, que prevê a criação da secretaria. Então, mandei a presidente do Conselho de Cultura falar com a OAB. Senão, vão dizer que sou mentiroso, não cumpro a palavra. Ser político hoje está difícil. Disseram que Socorro recebe verbas porque tem uma Secretaria de Cultura. Mandei o pessoal trazer para mim as informações de Socorro para encaminhar para os vereadores para mostrar que estamos deixando de receber verbas porque não temos uma Secretaria de Cultura. Mas não trouxeram até agora. 

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