//SAÚDE// Uma cidade dependente do SUS

Teresa Cristina, a nova secretária de Saúde: "A porta está aberta para todos"
Salete Silva

A nova secretária de saúde de Serra Negra, Teresa Cristina Cesar Fernandes, a TC, assumiu a pasta em 25 de abril com a incumbência de dar continuidade à gestão de Bárbara Regiani, exonerada no mês passado.

O maior desafio, no entanto, é alocar com eficiência os recursos cada vez mais escassos numa área prioritária de atendimento do setor público e um dos principais, senão o principal, alvos de críticas da população que, praticamente na sua totalidade (97% dos serranos), depende do Sistema Único de Saúde (SUS).

A legislação obriga o investimento de 15% da arrecadação municipal na área da saúde. A prefeitura de Serra Negra, informa a nova secretária, investe 27%, quase o dobro do obrigatório, e ainda assim não consegue dar conta de todas as demandas.

A tendência, avalia TC, é de restrições orçamentárias cada vez maiores. “A preocupação é que haverá mais cortes do governo federal, assim como já vem ocorrendo, e tudo ficará a cargo dos municípios”, prevê.

Ela se refere, entre outras dificuldades, à Emenda Constitucional 95, aprovada no governo Michel Temer, que congela os recursos federais do SUS, cuja verba disponível vem sendo cada vez menor.

A maior parte do orçamento da área, estimado em R$ 27 milhões, TC explica, provém da arrecadação municipal. Verbas de emendas parlamentares, programas estaduais e recursos federais complementam o orçamento.  

Despesas fixas com serviços, como salários, energia elétrica e insumos que não param de subir são custos arcados pelo município. “Não adianta esperar milagre. Não vai vir dinheiro de lugar nenhum e a gente sabe disso”, acrescenta. As soluções terão de ser encontradas pela eficiência.

A escassez de verbas ocorre num momento em que mais brasileiros, entre os quais serranos, dependem dos serviços de saúde pública. A crise econômica e o consequente aumento do desemprego obrigaram milhões de brasileiros a trocar os planos de saúde privados – muitas vezes oferecidos como benefício pelos empregadores – pelo atendimento do SUS.

Boa parte dos esforços da secretaria nos últimos anos, TC lembra, se concentrou na reorganização do sistema para atender um crescimento acelerado em pouco tempo da demanda pelos serviços públicos.

Num curto prazo, praticamente toda a população serrana passou a utilizar os serviços públicos de saúde. “Isso não era assim e a gente teve de se reorganizar”, explica.

Mais equipes para os programas de saúde da família, novos carros, investimentos em saúde bucal e convênio com o hospital, entre outras medidas, foram priorizadas nessa reestruturação, para ampliar o atendimento.

Ainda assim, as críticas ao sistema crescem, em especial nas redes sociais, e acirram as discussões entre vereadores da situação e oposição na Câmara Municipal. Para a secretária, o aumento das críticas de políticos e cidadãos incluindo as dirigidas ao Hospital Santa Rosa de Lima são decorrentes do aumento da demanda dos serviços do SUS entre a população.

Reclamações

“O maior número de reclamações pode estar associado ao grande crescimento da população SUS dependente”, argumenta. Isso serve para o hospital e para os postos de saúde. Nos postos de saúde, ela avalia, as reclamações são mais ligadas às relações com as pessoas.

“Por mais que se capacite os funcionários, estamos lidando com um ser humano que às vezes pode sair do controle, tratar um pouco mal e a gente não pode negar”, admite. Outro alvo de reclamação é o sistema de transporte para os pacientes que fazem exames e consultas em outros municípios, como Atibaia.

Além do desconforto, os serranos reclamam das condições que obrigam o paciente a permanecer quase um dia inteiro no local, mesmo depois de ter realizado seu exame. “Não conseguimos pagar um transporte para cada um para levar e trazer”, explica. “É inviável financeiramente e tiraria recursos de outras áreas”, acrescenta.

O investimento na substituição de frota de carros, que, segundo ela, encontrava-se em condições não ideais, vai melhorar o transporte dos pacientes para consultas e exames e em breve deverá ter disponibilidade de 24 horas.

A secretária também rebateu críticas à contratação da empresa que realiza o transporte de ônibus que leva os pacientes para as consultas fora da cidade. Segundo ela, a contratação é feita segundo a legislação e seguindo as regras do Tribunal de Contas.

Outro motivo de críticas frequentes, o agendamento de consultas e exames, também tem sido tratado com prioridade, segundo a secretária. Exames de laboratório entram automaticamente no sistema assim que os médicos fazem a prescrição. Já os mais complexos seguem uma prioridade definida pelo médico regulador do Sistema de Regulação.

“Entre uma endoscopia de rotina e outra com suspeita de câncer, qual é a prioritária? ”, questiona. A lista não é de chegada, é de prioridades, ressalva. A secretaria acata encaminhamentos feitos por políticos e vereadores, mas todos os pedidos, segundo TC, são submetidos à avaliação de prioridades do médico regulador.

“A porta está aberta para todos, vamos olhar o cidadão para o que ele precisa”, afirma. Alguns casos, no entanto, não dependem do município. O Estado é que disponibiliza vagas, por exemplo, para cirurgia neurológica. “Se o Estado não oferece vagas, não temos como encaminhar as pessoas”, explica.

Mudança cultural

A população, ela aponta, pode contribuir para tornar o sistema mais eficiente se melhor entender seu funcionamento. As 11 unidades de saúde do município, entre as básicas e as de família, estão preparadas, ela garante, para atender a população nas suas necessidades primárias.

Além dos agentes de saúde que vão às casas, as unidades de família contam com enfermeiros, psicólogos e  nutricionistas na maioria delas, além do médico da família e de ginecologistas e pediatras. Duas unidades apenas - Leais e Salto - não funcionam diariamente porque, segundo ela, não há demanda para isso.

Para a secretária são necessárias mudanças na cultura do serrano. Uma delas é com relação aos atendimentos de urgência e emergência, que devem ser feitos pelo hospital, enquanto as unidades de saúde ficam com o serviço primário, ou seja, dores de cabeça, gripes, situações clínicas básicas.

Os enfermeiros, ela argumenta, são capacitados para fazer esse primeiro atendimento e encaminhar aos hospitais os casos de urgência e emergência. Outra contribuição da população, ela aponta, seria a redução das faltas aos exames e consultas agendados.

“Precisamos também mudar a concepção sobre o que é um bom atendimento médico”, avalia. O bom médico regulador é capacitado para pedir apenas os exames necessários e medicar da melhor forma possível. O excesso de exame e medicamentos, ela explica, onera os custos.

A nova secretária terá também um olhar holístico na sua gestão, uma vez que, como terapeuta ocupacional,é especialista em Floral de Bach pelo Instituto Dr. Edward Bach e facilitadora em Constelação Familiar Sistêmica. “A gente agrega tudo”, afirma, lembrando que no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), do qual foi coordenadora, já foram utilizados florais, técnicas de reiki e até constelação familiar. “A população aceita, gosta e obtém ótimos resultados”, afirma. 

No vídeo abaixo, Teresa Cristina diz quais são as prioridades de sua gestão.



Comentários

  1. suas matérias são muito boas Salete, é um prazer lê-las, parabéns...

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  2. Com 97% dependendo do SUS,com hospital ineficiente e ultrapassado,carente de aparelhamento e sem o Mais Médicos,sorry...é torcer pra não precisar.

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