//ENTREVISTA// Serra Negra não faz greves

Leandro Tomazi: "Cortes são grande retrocesso na atividade educacional"


O advogado e sociólogo Leandro Tomazi, presidente da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil de Serra Negra, tem uma explicação simples para o fato de o protesto nacional  contra os cortes orçamentários na educação pelo governo Bolsonaro ter sido ignorado na cidade: "Serra Negra não tem grande histórico em relação à atuação política, em especial em relação a greves e paralisações, e nesta situação em específico, talvez o impacto direto dos cortes não seja tão sentido pela população."

Tomazi, que também é coordenador e professor universitário do curso de direito do trabalho da Unisepe/Unifia, em Amparo, reconhece, porém, em entrevista ao Viva! Serra Negra, que o movimento dos professores, alunos e funcionários ligados à educação, exerce "importante papel, discutindo não somente um corte em si, mas sim quais os rumos que o Brasil deve adotar para tentar resolver o problema educacional".

A seguir, a íntegra de sua entrevista:

Viva! Serra Negra - Qual sua opinião sobre o movimento  nacional da educação? 
Leandro Tomazi - Os movimentos sociais são, não somente direitos assegurados pela Constituição Federal, mas também armas para o equilíbrio entre os reflexos das políticas públicas adotadas pelos governos. Não há como deixar de citar os movimentos democráticos da “Diretas Já” e dos protestos de “Junho de 2013” como símbolos da luta popular contra o governo em relação aos rumos adotados, sejam nos campos sociais ou econômicos. Assim, mais do que legítimos, os movimentos são necessários para o equilíbrio de forças e pressão direta da população aos poderes constituídos, em especial ao Palácio do Planalto e ao Congresso Nacional. Assim, ao buscar forças contra o corte nos orçamentos do Ministério da Educação, alunos, professores e funcionários ligados às áreas da educação, exercem importante papel, discutindo não somente um corte em si, mas sim quais os rumos que o Brasil deve adotar a curto, médio e longo prazo para tentar resolver uma série histórica e preocupante do sistema educacional já mitigado em anos anteriores.

Viva! Serra Negra - Qual sua opinião sobre o corte de investimentos na educação que atinge as universidades em especial, mas também o ensino básico? 
Leandro Tomazi - Primeiramente, vimos que o próprio governo causou uma grande confusão, trazendo um corte de 30% sobre os investimentos nas universidades públicas e depois dizendo que se trata somente de 3,5% do orçamento. Em si, e a princípio, ambas as porcentagens estão certas, uma vez que o corte de 30% sobre o orçamento não obrigatório representa um total de 3,5% sobre todo o orçamento do Ministério da Educação. Todavia, esse corte de em média 30% sobre o orçamento das verbas não obrigatórias, podendo até ser maior para algumas universidades, representa um grande retrocesso na atividade educacional, pois afetará diretamente as verbas discricionárias que compõem bolsas educacionais e de pesquisas, em especial nas áreas de iniciação científica de alunos graduandos, ou de pós-graduandos no mestrado ou doutorados, impactando diretamente a produção universitária, que hoje coloca algumas das universidades públicas brasileiras entre as maiores da América Latina e do mundo, em termos de produção e pesquisa. 

Viva! Serra Negra - Por que você acha que a adesão é tímida em Serra Negra?
Leandro Tomazi - Serra Negra em si não tem grande histórico em relação à atuação política, em especial em relação a greves e paralisações, e nesta situação em específico, não somente como reflexo do que ocorre no Brasil, que também não é um país voltado a grandes atuações se comparado a outros países da América Latina ou Europa, talvez o impacto direto dos cortes não seja tão sentido pela população. Apesar de o contingenciamento de investimentos também afetar a educação básica, que é de responsabilidade dos governos estaduais e municipais, em si, estes entes detêm grande parte dos recursos de sustentação, o que faz com que esse corte tenha reflexo muito menor do que no ensino superior, de responsabilidade na maioria das vezes exclusiva do governo federal. Atrelado a um histórico eleitoral onde cerca de 80% do eleitorado válido apoiou as políticas públicas do governo eleito em 2018, creio que a mitigação do impacto direto dos cortes faça com que o sentimento e opinião da população não tragam neste momento força pelo protesto ao contingenciamento.

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