//EDUCAÇÃO// O jeito de Serra Negra alfabetizar

Rita Pinton, Vanessa Petroli e Cleide Sigolo: método fônico com outras ferramentas
Assim que assumiu o Ministério da Educação, no mês passado, Abraham Weintraub alterou praticamente o comando de todas as áreas da sua pasta. Um dos poucos sobreviventes é o Secretário de Alfabetização, Carlos Nadalin.

Sua manutenção no cargo indica que a alfabetização no país deverá mesmo dar prioridade ao chamado método fônico, aquele em que as crianças têm de identificar os segmentos de som que formam uma palavra e que para muitos especialistas em alfabetização é uma forma limitada e mecânica de ensinar a ler e escrever.

Na rede de ensino municipal de Serra Negra a nova diretriz do governo federal para a alfabetização deverá ter pouco impacto. O método fônico já vem sendo usado desde 2009 nas escolas da prefeitura que atendem crianças do maternal até o primeiro ano do ensino fundamental.


Método fônico: som e letras
Mas se deu certo por aqui foi porque sua implantação contou com suporte de um profissional de fonoaudiologia para treinar os professores e a rede incrementou o aprendizado com outras ferramentas de alfabetização. Entre elas as da educadora italiana Maria Montessori, que partindo de uma perspectiva desenvolvimentista se baseia na conquista da educação pela criança com a busca do conhecimento por meio da experiência.

Não é só som da letrinha e apostila. “Toda sexta-feira, por exemplo, tem o projeto leitura no qual as crianças levam livros para casa. Além disso, damos suporte para enriquecer o vocabulário”, explica Vanessa Petroli, diretora da rede municipal e especialista em método fônico. “Trabalhamos o concreto e também a imaginação da criança com atividades livres para expressar arte”, acrescenta.

Para o uso do método fônico é preciso oferecer aos professores um treinamento com um profissional de fonoaudiologia, ressalva a diretora e ex-coordenadora pedagógica Cleide Gambeta Sigolo, que acompanha o uso do método fônico nas escolas do município desde sua adoção.

A aplicação dessa metodologia ajudou a impulsionar o índice de alfabetização das crianças da rede municipal de ensino de 12% para 90% em nove anos, comemora a secretária de Educação, Rita Pinton. Ela ressalva, no entanto, que além da introdução do método, contribuiu para isso a exigência da alfabetização no primeiro ano do ensino fundamental. Até então, não havia essa exigência legal.

Para cumprir a legislação, a rede contratou e adotou as apostilas de ensino do sistema Somos Educação, o maior grupo de educação básica do Brasil, adquirido no ano passado pela Kroton numa operação financeira gigantesca envolvendo R$ 4,6 bilhões. A Somos Educação é dona de várias marcas na educação, como Anglo, Centro Educacional Sigma e Maxi, além de escola de idiomas.

Escolas da rede privada da região também utilizam marcas do Somos Educação e misturam as ferramentas de alfabetização em salas de aulas utilizando o método global que defende que a criança percebe as coisas e a linguagem em seu aspecto global, que a leitura é uma atividade de interpretação de ideias e que a análise de partes deve ser um processo posterior.

Nas escolas da rede estadual de ensino fundamental (2º a 9º ano) o método fônico perde força e outras ferramentas são usadas no aprendizado.

Essa mudança do sistema não prejudica as crianças que saem da rede municipal no primeiro ano do ensino fundamental para as redes privada ou estadual que usam outros métodos, segundo Vanessa. A criança assimila o som da letra, da sílaba, da palavra e depois o texto, explica Vanessa. “Quando vai para outras redes de ensino ela já assimilou isso, porque aprendeu a sonoridade e adquiriu a atenção que também é treinada”, afirma.

Para estender esse método a todas as escolas, o governo federal, segundo as especialistas, terá de investir em programas parecidos com outros já adotados no país, como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, introduzido em 2013, fruto de um compromisso assumido pelos governos federal, estaduais e municipais para que as crianças sejam efetivamente alfabetizadas até os oito anos de idade, no fim do terceiro ano do ensino fundamental. Mas mesmo assim professores da rede estadual garantem que sozinho o método fônico não faz milagre, porque para aprender a ler e escrever com funcionalidade é preciso compreender o mundo à volta.

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