//EDUCAÇÃO// Dia da Família faz mais gente feliz

Marina e sua filha Aghata: Dia da Família é melhor para estreitar os laços 

Salete Silva

Na semana passada, muitos serranos, em especial moradores nas imediações das instituições municipais de ensino, habituados à movimentação de mães e crianças, música e festa que alegravam os bairros na segunda semana do mês de maio, manifestaram estranheza com o silêncio e a ausência das comemorações.

Serra Negra não comemora mais nem Dia das Mães nem Dia dos Pais e há boas razões para isso, como a história de Maria Eduarda, a Duda. Aos seis anos, a menina não conteve as lágrimas e veio aos prantos quando, em vez da mãe, viu a irmã mais velha chegar à escola para sua apresentação do Dia das Mães.

A mãe havia falecido pouco mais de um ano antes. Era sua primeira festa na escola sem ela. A tristeza da menina comoveu professores, funcionários, coleguinhas e mães que participavam do evento.

 “Eu me senti muito triste porque a presença da irmã não substituía a mãe”, recorda-se a pedagoga Sirlane Pereira Franca, na época professora de Duda na Escola de Ensino Básico (EMEB) Professor Durval de Paula Chagas, no Campo do Sete. 

“Cortou meu coração fazer a apresentação com a   menina chorando porque sabia que a mãe nunca mais voltaria”, recorda-se a professora. Casos como o de Duda já vinham alertando especialistas da educação sobre a necessidade de alteração nas comemorações do Dia das Mães e do Dia dos Pais.


Duda e Attilio: boa mudança
Desde o falecimento da mãe, Duda passou a morar só com o pai. Seu caso é apenas um dos mais variados modelos de família que constituem hoje a sociedade brasileira.

A diversificação de orientação sexual, conceitos, costumes, hábitos e religião tem influenciado os tipos de famílias formadas muitas vezes por duas mães ou dois pais, ou apenas pai e filhos, mãe e filhos, avós e netos, entre outras composições.  

Essas mudanças influenciaram a Base Nacional Comum Curricular (BMCC) – documento que norteia os conteúdos escolares da educação infantil ao ensino médio. 

Reelaborada recentemente para aperfeiçoar seus conteúdos, a BMCC leva em consideração a nova realidade das famílias brasileiras com o objetivo de promover o respeito e a inclusão de todas as crianças e contemplando a diversidade social.

Seguindo essas orientações, as escolas municipais de Serra Negra a partir deste ano substituíram as festas de Dia das Mães e Dia dos Pais pelo Dia da Família.

A mudança causou inicialmente certa estranheza e até alguma contrariedade. “A princípio confesso que fiquei muito triste porque a gente espera o ano inteiro para ver a apresentação dos nossos filhos”, revela Erica Rodrigues Batista, mãe de João Vinícius, de dois anos, aluno da Escola Municipal de Educação Infantil Albino Brunhara.


Erica e João: "Entendi a mudança"
Erica relata que ficou sabendo da mudança na semana em que seria realizada a festa. “Questionei as atendentes sobre os motivos da alteração, conversei com algumas pessoas e vi que não era o que pensava e que para mim seria um dia feliz, mas não para as crianças que não têm mãe”, afirma.

Erica diz que acabou concordando que o Dia da Família é muito melhor não só para estreitar os laços da criança com as pessoas com quem realmente convive como para seu desenvolvimento neurobiológico.

“O Dia da Família é muito mais adequado para estreitar os laços com quem realmente se importa e está presente na vida da criança”, diz. Marina Lopes, mãe de Aghata, de seis anos, aluna da Escola Municipal Alzira Silveira Palma e Silva concorda: “Fiquei contrariada, mas logo entendi. Algumas mães não entenderam.”

A mudança é muito bem-vinda para o pai de Duda, o empresário da área de hotelaria e eventos Attilio Fioritti, que depois da difícil experiência da filha na primeira festa sem a mãe deixou de levar a menina para a escola no dia da apresentação.

“Entendo o lado das mães e pais que gostavam da apresentação, mas a mudança vai beneficiar muitas crianças”, afirma. 

O Dia das Mães não passou em branco, informa a assessoria de imprensa da prefeitura. As crianças fizeram lembrancinhas, as escolas foram enfeitadas e algumas delas trabalharam com atividades lúdicas. “Talvez a gente não consiga agradar a todos, mas temos que pensar no que é melhor para as crianças pois esse modelo de família tradicional mudou”, diz a professora Sirlane.

 A comemoração do Dia da Família será no segundo semestre, em data a ser confirmada.

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