//EDUCAÇÃO// A cidade ignorou o grande protesto

No dia de grandes manifestações em vários pontos do país, tudo normal em Serra Negra

Salete Silva


Professores, estudantes e trabalhadores da educação participaram de manifestações em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica ao longo desta quarta-feira, 15 de maio, em diversas partes do país.

Em Serra Negra, as escolas das redes estadual, municipal e privada funcionaram normalmente e não houve nenhum ato ou paralisação. Algumas instituições da rede pública registraram pequeno número de absenteísmo entre os professores, sem que houvesse interrupção das atividades.

Mas embora o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tenha sido eleito com 81% dos votos do município, a ausência de manifestações e paralisações de professores na cidade não pode ser interpretada como apoio da categoria aos cortes de investimentos na educação ou ao governo federal, segundo coordenadoras e diretoras de escolas ouvidas pela reportagem do Viva!Serra Negra.

E apesar de o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ter dito que a prioridade do governo é a educação básica, especialmente a educação infantil, alfabetização e ensino profissional, essas áreas também foram atingidas pelos cortes orçamentários que afetarão as universidades.

Foram congelados até agora R$ 680 milhões, que iriam para a educação infantil até o ensino fundamental. Com relação à construção e manutenção de creches e pré-escolas, a Pasta contingenciou 17% dos R$ 125 milhões do orçamento autorizado. Além disso, ainda não está definida a renovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que em Serra Negra representa R$ 7,5 milhões, destinados ao pagamento dos salários dos professores municipais.

“Os professores de Serra Negra estão descontentes com os cortes e também com a nomeação de pessoas inexperientes para áreas essenciais, como a alfabetização”, disse uma coordenadora de ensino que pediu para não revelar a identidade. Os docentes, no entanto, não aderiram às paralisações da categoria para não sofrer sanções.

Alguns cargos estão condicionados ao número de faltas, como o “Categoria O”, que permite apenas duas ausências a cada dois anos. Além disso, como a cidade é pequena, explicou essa coordenadora, há poucas opções de trabalho e os profissionais, incluindo os da rede privada, temem perder seus empregos.

Para Marco Moreira, professor de história da rede estadual, Serra Negra ter ficado de fora do movimento nacional em defesa da educação reflete o apoio da maioria da população da cidade ao governo Bolsonaro e a partidos como o PSDB, que, na sua opinião, não têm compromissos com a área educacional. 

“Então, não se pode esperar muito apoio para a educação”, afirmou. Para ele, os cortes no orçamento das universidades e também da educação básica indicam que essa não será prioridade do atual governo.

Alguns professores de Serra Negra participaram de manifestações em municípios vizinhos, como Amparo, que realizou ato em defesa da educação na Praça Pádua Salles.

“Muito grandioso ver alunos, pais e educadores unidos pela educação”, disse Érica Pilom,  professora de História da rede pública. “Independentemente de partido, ideologia ou posição política, está clara a intenção desse governo de sufocar o pensamento crítico”, acrescentou.

Para a professora do ensino fundamental Mara Roselaine Pinto da Fonseca, os cortes são inadmissíveis porque recursos, na sua opinião, existem, o que falta é compromisso social. Érica e Mara compartilham da opinião de que a ausência de manifestações na cidade se deve ao medo das sanções que os professores podem sofrer e à falta de informação.

“Não acho difícil aderir às manifestações. Acredito que falta informação sobre seus direitos e compromisso com seus ideais”, conclui Mara. 

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