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Mercado de locação e venda de imóveis está estagnado em Serra Negra |
Salete Silva
O comércio imobiliário em Serra Negra se mantém estagnado, sem perspectivas concretas de retomada dos negócios. Há centenas de imóveis desocupados para alugar e vender na cidade e pouca demanda de locação ou aquisição.
A tendência de alta do desemprego desde o início do ano é o principal entrave para o aumento da procura por aluguéis, enquanto a economia estagnada dificulta a venda e compra de imóveis, segundo empresários do ramo imobiliário do município.
O setor em Serra Negra segue tendência observada no país, que ainda não registrou aquecimento sustentado dos negócios neste ano, apesar das perspectivas positivas de empresários divulgadas em fevereiro, quando se iniciava 2019 e o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
A previsão era de um ano positivo para os empreendimentos imobiliários segundo 97,7% dos líderes do setor do país ouvidos pelo GRI Cluber, entidade que reúne os principais "players" das áreas imobiliária e de infraestrutura com atuação em 20 países.
Quase esse mesmo porcentual (96,6%) tinha também expectativa de uma performance boa ou excelente para a economia até o fim do ano. Os indicadores disponíveis sobre o setor, no entanto, ainda não mostram uma tendência segura.
Apesar de uma retomada no primeiro bimestre, a última pesquisa do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (CreciSP), referente ao mês de março em relação a fevereiro, revela recuo de 4,17% nas vendas de imóveis usados e queda de 2,63% na locação residencial.
No ano, no entanto, mantém um crescimento positivo em relação a 2018 de 13,11% no comércio de imóveis e 9,54% na locação, por causa de um ligeiro aquecimento dos negócios nos dois primeiros meses deste ano.
“A oferta de imóveis para alugar tem crescido, só que a demanda está bem abaixo”, diz o empresário Charles Francis Barroso, da Barroso Imóveis e Administração.
Especialista no mercado de locação, sua empresa dispõe de cerca de 350 imóveis desocupados no município, o número mais alto registrado pela Barroso em 43 anos. “Nas melhores épocas tínhamos uma oferta de 30 a 40 imóveis”, lembra.
Os últimos anos, segundo ele, têm sido os piores para o setor em Serra Negra. O mercado de locação começou a declinar no município, ele estima, no último trimestre de 2014 e a queda foi se acelerando até agora. “Atingiu todos os segmentos imobiliários de forma geral, do imóvel de padrão mais alto às quitinetes”, relata.
Além disso, não há mais demandas sazonais. “Antes havia um período de maior procura por imóveis de três dormitórios, depois crescia em outro segmento, como o de um ou dois dormitórios, e assim se alternava”, relata. Agora, a demanda está igualada.
Ocorreu um efeito escadinha: o cliente do imóvel de três dormitórios (R$ 1,2 mil preço médio) caiu para o de dois dormitórios (R$ 900), o de dois para o de um dormitório (R$ 600) e o de um dormitório para a quitinete (R$ 400). “Os que residiam em quitinete voltaram para o sítio ou para a casa da família”, avalia.
O setor já viveu outras crises, como no governo Collor, ele lembra. Também já viveu momentos de queda nos negócios por desaquecimento pontual de outros setores da economia. Mas nada se compara, segundo ele, aos dias atuais.
Quando há queda do preço do café, por exemplo, que afeta o agronegócio, indiretamente o setor imobiliário é atingido, assim como quando caem as vendas do comércio, mas, ele ressalva, esse efeito é menos intenso, mais localizado e passageiro.
As vendas de imóveis na cidade também estão paradas, confirma José Carlos Bragatto, da Bragatto Imóveis. “Estamos passando por um momento difícil, que não é atual, vem de uns quatro anos para cá, e que se intensificou a partir de 2016”, afirma Bragatto.
O perfil do consumidor interessado em adquirir um imóvel na cidade se alterou. Anos atrás Serra Negra atraía visitantes interessados na aquisição de imóveis para o lazer, fins de semanas, feriados e férias. Além dos apartamentos, chácaras e sítios eram imóveis atrativos.
Nos últimos anos isso mudou, constata Bragatto. Paulistas de diversos municípios do interior de São Paulo e paulistanos têm interesse de transferir residência para Serra Negra. “São famílias da capital e do interior e também aposentados que querem usufruir do bem-estar que a cidade proporciona”, afirma.
A dificuldade é vender o imóvel em que residem para adquirir outro em Serra Negra. Com a economia estagnada e o consumidor sem capacidade de investimento, Bragatto explica, é difícil fechar um negócio.
O desaquecimento do setor provocou uma acomodação dos preços. O metro quadrado, estimado entre R$ 3,5 mil a R$ 4 mil em Serra Negra, é inferior ao de São Paulo que, segundo ele, já chegou a uma média de R$ 8 mil em imóveis de igual padrão.
O preço dos imóveis mais caros, de três dormitórios, garagem em bom prédio, gira em torno de R$ 600 mil, e o de dois dormitórios entre R$ 350 mil e R$ 400 mil, preços, ele avalia, inferiores ao da capital. Mas ainda assim os interessados precisam vender para comprar na cidade.
Bragatto, no entanto, se mostra bastante otimista: “Como a gente tem de ser otimista, acredito que vai melhorar ainda este ano”, diz ele, apesar da previsão dos economistas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1% em 2019.
Suas expectativas têm como base as especulações dos clientes, que pedem informação no site da sua empresa. “Sinal de que estão interessados”, conclui.
Barroso não compartilha do mesmo otimismo, embora espere dias melhores: “Não tenho perspectivas, o problema econômico é muito grande e o setor só vai reagir quando o desemprego começar a cair e o emprego crescer”, afirma.
A queda das vendas no comércio local, nitidamente observada no movimento que, para esta época do ano já deveria mostrar reação positiva, segundo ele, se reflete também no mercado de locação: “Quando uma loja contrata uma funcionária extra, por exemplo, muitas vezes ela sai do sítio ou melhora suas condições de vida, quer ficar mais próxima da cidade e isso aquece nosso setor”, explica.
A aprovação da reforma da Previdência, na sua opinião, é necessária, mas não é garantia nem de retorno de investimentos nem de crescimento de emprego. “As reformas são necessárias, mas a pergunta é: elas vão criar emprego?”
Além disso, ele lembra, o emprego tem de vir com estabilidade, senão ninguém aluga uma casa nova. Esse é o caso de Graziele Monaliza de Oliveira, comerciária, grávida de oito meses, que decidiu dividir a residência com os pais:
“Eu e meu marido alugamos uma casa maior para os quatro.” As exigências de depósito das imobiliárias, ela avalia, são muito altas, de pelo menos seis meses, por causa da inadimplência. A saída que encontrou foi negociar com o proprietário e esperar por tempos melhores de empregabilidade.
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Matéria fantástica. Através do setor imobiliário é possivel perceber o empobrecimento da população.
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