//TRABALHO// 1º de Maio passa em branco na cidade

Paulo Roberto da Silva: "Não temos condição de participar da greve geral"
Com mais 43 mil trabalhadores com carteira assinada demitidos em fevereiro e um recuo de 0,53% na renda, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), os trabalhadores brasileiros chegam ao 1°de Maio deste ano ainda sem perspectiva de retomada do mercado de trabalho e de aumento de renda.

A situação não é diferente em Serra Negra, que em 2016 contava com 8,1 mil pessoas ocupadas, ou seja, 28,6% da sua população, segundo a última pesquisa sobre renda e emprego no município, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o secretário-geral do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes de Serra Negra, Paulo Roberto da Silva, os trabalhadores de municípios pequenos têm menor capacidade de mobilização do que os das capitais.

Os sindicatos, ele admite, perderam credibilidade entre a população e os trabalhadores, por causa da enxurrada de notícias negativas divulgadas pela mídia de forma geral. As relações em Serra Negra são ainda mais difíceis, na sua opinião, porque a população é conservadora, incluindo os trabalhadores.

“Por aqui greves só aconteceram nos anos 2000, a nossa paralisação foi a primeira”, afirma. Depois, ele recorda, vieram a da empresa de ônibus, a do hospital e a de funcionários da prefeitura. Mas agora, admite, é muito difícil qualquer paralisação ou mesmo mobilização.

“As centrais sindicais estão chamando para uma greve geral da qual não temos condições de participar”, diz. 

Ele calcula que os hotéis, bares e restaurantes de Serra Negra empreguem cerca de 2 mil pessoas, com salários que variam de R$ 1.355,00, o piso, a R$ 3 mil, valor mais alto, pago em especial a cozinheiros. “Alguns chegam a ganhar um pouco mais, mas os acordos de reajuste salarial nesses casos são individuais", informa. Depois da reforma trabalhista, avalia, as negociações ficaram mais difíceis para os trabalhadores.

Na tentativa de melhorar o acordo da categoria, o sindicato incluiu na última convenção coletiva algumas ressalvas para compensar alterações na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que, na avaliação dos sindicalistas, poderiam causar prejuízos aos empregados. 

“Mas só conseguimos mesmo o reajuste pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para recuperar a inflação”, relata Silva.

A tendência, segundo ele, é de que mesmo com alguma recuperação do nível de atividade econômica do país o trabalhador deverá ter alguns direitos suprimidos em consequência da reforma trabalhista e em especial da Previdência, se o projeto em tramitação for aprovado.

“Se reduzirem de um salário mínimo para R$ 400 o valor do BPC (Benefício de Prestação Continuada) pago a idosos carentes, como prevê o projeto de reforma, os trabalhadores mais pobres vão ser muito prejudicados”, destaca.

A última pesquisa sobre renda e trabalho em Serra Negra do IBGE mostra que o salário médio pago no município em 2016 era inferior à média salarial do Estado. Na época o salário médio mensal na cidade era de 1,8 salário mínimo, equivalente naquele ano a R$ 1.408. No Estado, a média salarial, segundo o IBGE, equivalia a R$ 1.760. No ranking com outros municípios do Estado, nesse quesito, Serra Negra ocupava a posição 580 de 645 municípios.

Centrais sindicais unidas

Este 1º de Maio marca a união de todas as centrais sindicais do país -  CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical (duas), Nova Central e UGT, além das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo - em manifestações contra a PEC 6, que trata da reforma da Previdência. 

"As centrais estão construindo a data da greve geral. Por isso, é importante a realização de grandes atos do 1º de Maio no Brasil inteiro", diz o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. Segundo ele, como parte da agenda, as centrais já aprovaram a realização de um dia nacional de luta, em 15 de maio. Nessa data, começa a paralisação nacional dos trabalhadores na educação.

É a primeira vez que as centrais sindicais brasileiras realizam um ato unificado de 1º de Maio. Além da reforma da Previdência, as entidades defendem a manutenção da política de valorização do salário mínimo. 

"Vamos esclarecer, nos atos públicos, o que é a nefasta reforma da Previdência, mas também iremos conversar com os trabalhadores sobre as graves consequências das medidas adotadas pelo governo de Bolsonaro para a economia, os direitos políticos e individuais e para a soberania do Brasil”, diz Sérgio Nobre.

Em São Paulo, o 1º de Maio será no Vale do Anhangabaú, na região central da capital, e terá início às 10 horas, com apresentações artísticas e culturais. À tarde será realizado o ato político. Entre os artistas confirmados, estão Leci Brandão, Simone e Simaria, Paula Fernandes, Toninho Geraes, Mistura Popular, Maiara e Maraísa, Kell Smith e a dupla Júlia e Rafaela

O Dia do Trabalho, ou do Trabalhador, é uma data comemorativa internacional, celebrada anualmente em 1º de maio em quase todos os países do mundo, sendo feriado em muitos deles. A homenagem remonta ao dia 1º de maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago, com o objetivo de conquistar condições melhores de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho, que chegava a 17 horas diárias, para 8 horas.

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