//FUTEBOL// Vai dar Palmeiras no Brasileirão?


Antero Greco
especial para o Viva! Serra Negra



Todo ano, nesta época, o cronista esportivo se depara com um desafio: indicar favorito, ou principais candidatos, ao título brasileiro. Sem ficar em cima do muro, trata-se de um enrosco. Sabe por quê? Porque, por aqui, ao menos a metade dos participantes larga em condições de chegar a topo. E não raro um menos cotado carrega a taça para casa.

Não pense que é moleza, como na Itália, na França, na Espanha, na Alemanha, para ficar em algumas das ligas mais importantes. Se cravar Juventus, PSG, Real Madrid/Barcelona e Bayern de Munique, o palpiteiro tem enorme chance de acertar. Nem por isso, esses torneios deixam de ser interessantes.

Está bem, está bem, deixemos de enrolação. Sendo assim, como zagueiro argentino (dos antigos) que carimba tornozelos dos rivais, vou direto ao assunto: coloco Palmeiras como o rival a ser superado, com o perdão do lugar-comum. O atual campeão brasileiro não só manteve o elenco forte do ano passado como ainda trouxe novas caras para Felipão usar.

Como exigem corneteiros, essas figuras tão associadas à vida palestrina, título seria obrigação. Por ser campeonato de ida e volta, com 38 rodadas, elenco e regularidade contam muito – tanto quanto estratégia de jogo, ou até mais. Foi assim em 2018. Depois de início oscilante, sob comando de Roger Machado, o alviverde apelou para a experiência de Felipão e se deu bem.

O tarimbado treinador, sem inventar, teve o bom senso de usar quase todo os atletas – e se fez a festa em dezembro. O Palmeiras nem sempre mostrou futebol vistoso, porém foi consistente, sofreu pouco, sustentou longa invencibilidade (superou a do Corinthians de 2017), ficou com o troféu com o maior número de vitórias, menor de derrotas, melhor defesa etc. Não há como negar que, se repetir a proeza, dará a lógica.

Mas bem que poderia dar espetáculos com mais frequência, não é mesmo? Talento tem.

Então, será Palmeiras de barbada? De jeito nenhum, que não sou louco de cravar isso. Ainda mais que nossas equipes mudam no meio do ano, quando chega o mercado europeu. E seria leviano ignorar a força de outros concorrentes. Cito três, óbvios: Flamengo, Cruzeiro e Grêmio. Por razões semelhantes às dos campeões de agora.

O Flamengo tem grupo de jogadores forte, com qualidade acima da média, se considerarmos o mercado nacional. Nada de comparar com os endinheirados estrangeiros. Caberá a Abel Braga (até quando?) dar padrão de jogo para essa turma. Padrão que Cruzeiro e Grêmio têm, já que há várias temporadas não mudam comando: Mano Menezes e Renato Gaúcho já mostraram do que são capazes. Não foi por acaso que conquistaram títulos de peso.

Desse quarteto, imagino, suponho, creio (estou cheio de dedos...), deva sair o campeão.

Calma lá, que vem a turma dos que correm por fora. Incluo três: Corinthians, São Paulo e Internacional. Por respeito às camisas, histórias e investimentos. Os corintianos tiveram como “reforço” o retorno de Fabio Carille – e o moço se firma como técnico eficiente. Vira e mexe, apela para uma retranca daquelas. Inegável, porém, que sabe ajeitar uma equipe.

Os são-paulinos andam num jejum danado, gastaram os tubos, trouxeram Hernanes, Pato, Tchê Tchê, Victor Bueno e outros menos votados, além do técnico Cuca, para ver se dão volta olímpica. Os colorados há décadas montam elencos de respeito, flertam com o sucesso e ficam no meio do caminho. Um dia dará certo.

Depois vem o pessoal da “geral”, o blocão dos que têm pretensão de Libertadores ou Sul-Americana. E, em vários casos, de apenas não cair para a Série B. Abro com o Santos, que tem como maior trunfo o técnico Sampaoli. O argentino faz proezas com uma rapaziada de nível médio; deve dar trabalho para os principais concorrentes.

Vale a pena ficar de olho no Athletico Paranaense, com um treinador jovem (Thiago Nunes) e uma boleirada boa. Raciocínio semelhante serve para o Fluminense, que aposta no amadurecimento de Fernando Diniz e na permanência de alguns jovens de valor. O problema é a falta de grana. Coloco aqui também o Atlético Mineiro, que tem um punhado de gente boa de bola, mas se perde pelo caminho e nas escolhas e/ou demissões de treinador.

Daí pra frente vem a zona da confusão ou os candidatos a surpreenderem. Há curiosidade para ver o Fortaleza sob a batuta de Rogério Ceni, ou como vão se virar Botafogo e Vasco e seus corriqueiros problemas, dentro e fora de campo. Bahia, Ceará, Goiás serão só coadjuvantes? E Avaí, CSA, Chapecoense terão fôlego para suportar as cobranças da elite nacional?

A jornada é longa, reviravoltas acontecem, polêmicas não faltarão mesmo com o VAR – ou apesar dele -, treinadores cairão. Meteremos o pau no nível do futebol. Mas uma coisa não dá para esconder: o Brasileirão é muito bacana. Eu pelo menos gosto. Minha paixão é por time daqui e não de fora.

Boa sorte para todos.

Antero Greco é jornalista, apresentador/comentarista do SportsCenter, da ESPN Brasil.

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