//SALETE SILVA// Escola deve fazer discussão sobre gênero, diz advogada feminista

Raquel Tamassia: "Quero o empoderamento da mulher negra
que está morando longe e trabalha nove horas por dia"

A importância da discussão de gênero na escola como medida de combate à violência doméstica foi tema de palestras realizadas durante a campanha Agosto Lilás de prevenção à violência contra a mulher e divulgação da Lei Maria da Penha.

“Discutir gênero na escola é falar sobre a Lei Maria da Penha. É dizer que meninas podem brincar de carrinho e andar de skate, que mulheres podem várias coisas e que não são aptas exclusivamente às matérias das ciências sociais”, afirmou a advogada Raquel Tamassia.

Especialista em empoderamento feminino, feminismo e sororidade, Raquel foi convidada para proferir a palestra “É Hora de Quebrar o Silêncio”, realizada no plenário da Câmara Municipal no dia 25 de agosto.

A iniciativa foi da Frente Parlamentar do Direito das Mulheres, integrada pelas vereadoras Viviani Carraro, Anna Beatriz Scachetti e Ana Bárbara Regiani Magaldi.

A advogada explicou que a escola é o local em que é possível oferecer oportunidades iguais de desenvolvimento a todas as crianças, independentemente de seu gênero. Raquel lembra que os meninos desenvolvem habilidades para as ciências porque os brinquedos destinados a eles estimulam o raciocínio lógico.

Os brinquedos oferecidos às meninas são voltados para as atividades da casa, explicou. A advogada avalia que a sociedade patriarcal não dá voz às mulheres que tiveram sua história escrita pelos homens. 

Para as meninas são oferecidos brinquedos para ficar dentro de casa e para os meninos para estarem fora de casa. "Eles são ensinados a brincar de carrinho, que está nas ruas, e as meninas de vassoura, que está dentro de casa”, comparou. “Onde está a bola, fora, e onde está a boneca, dentro”, acrescentou.

Raquel citou ainda a diferença de tratamento social concedido a homens e mulheres. A advogada mencionou uma reportagem recente que viralizou nas redes sociais sobre um advogado que teve tratamento preferencial por estar com o filho no colo na hora de apresentar as alegações orais do seu processo.

“Houve várias reportagens 'fofuras' sobre esse advogado com o bebê no colo”, disse a advogada que comparou o caso com outro que também virou notícia nas redes, de uma advogada que foi repreendida por um desembargador no Amazonas por ter entrado em uma audiência online amamentando seu bebê de apenas seis meses.

“O pai é retratado como fofo quando cuida uma vez na vida e a mãe é condenada porque uma vez não tinha com quem deixar a criança”, comparou Raquel. A advogada explicou que o empoderamento feminino não se restringe à conquista de uma ou outra mulher ao cargo de CEO em uma empresa.

O verdadeiro empoderamento feminino, destacou, é o que concede poder de participação social a todas as mulheres da sociedade, permitindo que tenham acesso a seus direitos, incluindo o de igualdade de gênero.

"Quero o empoderamento da mulher negra que está morando longe e trabalha nove horas por dia e não tem transporte e não tem com quem deixar as crianças”, afirmou. 

Para que isso ocorra, Raquel lembrou que são necessárias políticas públicas para que o Estado garanta a proteção necessária, como a assistência dos filhos, para que as mulheres possam se dedicar ao seu desenvolvimento de forma plena.

Raquel citou duas mulheres negras, a deputada federal do PT, Benedita da Silva, e a escritora e filósofa Lelia Gonzalez, como essenciais para o avanço do país em relação à democracia e à igualdade de direitos da população negra. 

“Claro que não conquistamos tudo o que tínhamos que alcançar, mas uma boa parte foi por conta dessas duas mulheres negras, que nunca temeram a voz”, afirmou a advogada.

Agosto Lilás

Mais uma palestra da campanha Agosto Lilás será realizada pelo juiz da Comarca de Serra Negra Carlos Eduardo Silos de Araújo, na quarta-feira, 31 de agosto, na escola Romeu Campos Vergal, na Rua Manoel Saragioto, 421, Parque Fonte São Luiz.

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra



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