//CARLOS MOTTA// Asfaltar ruas não é favor, é obrigação da prefeitura



A Prefeitura de Serra Negra está inundando suas redes sociais com a propaganda do asfaltamento de ruas da cidade. É aquele blá-blá-blá de sempre: dezenas de milhões de reais investidos, dezenas de ruas, milhares de quilômetros de asfalto, nunca se fez algo assim, a prefeitura trabalhando - e por aí vai, numa sucessão de clichês usados e abusados por todos os prefeitos do Brasil.

Antes de mais nada, é bom lembrar: estamos a quatro meses das eleições municipais, e o prefeito serrano concorre à reeleição. 

Dessa forma, assim como todos os políticos da velhíssima guarda, apostou alto na máxima, também velhíssima, de que espalhar o "pretinho" pelas ruas é uma maneira fácil de ganhar votos.

E é mesmo.

Ruas asfaltadas eliminam poeira e lama, valorizam os imóveis, ajudam na mobilidade, trazem bem-estar para a população.

É por isso que as prefeituras têm a obrigação de prover uma pavimentação de qualidade para as vias urbanas e promover a sua manutenção e sinalização. Investir nisso não é favor, é, repito, obrigação das prefeituras.

E se Serra Negra estava precisando asfaltar tantos quilômetros de vias públicas é porque os prefeitos que por aqui passaram não fizeram o dever de casa. É bom salientar que há 16 anos a prefeitura local está sob a responsabilidade do grupo político do atual chefe do Executivo. 

Outro detalhe que é bom lembrar é que os recursos para a pavimentação asfáltica não saem do bolso do administrador, ou seja, não são um presente que ele dá à população. O dinheiro vem dos próprios moradores, que pagam IPTU - altíssimo em Serra Negra - e outros impostos e taxas municipais, estaduais e federais.

Assim, falar que o munícipe não está sendo cobrado pelo asfalto é balela - o morador tem pago por esse serviço há muito tempo, sem tê-lo recebido até agora.

Além de tudo isso, há outras coisas a considerar, como por exemplo a qualidade do material empregado na pavimentação e a escolha das vias que vão receber o asfalto. 

Já há queixas de moradores sobre buracos que apareceram em ruas recém-asfaltadas e quanto ao fato de que vias centrais, recapeadas há poucos anos, estão novamente recebendo mais uma camada do "pretinho", enquanto outras, de terra ou em péssimo estado de pavimentação, ficaram fora do cronograma de obras.

Todos querem ver Serra Negra mais bonita, mais saudável e mais acolhedora. E todos devem saber que é obrigação dos prefeitos trabalhar para isso.

O prefeito fazer propaganda de algo que não é mais que sua obrigação pode indicar que não há mais nada para ele mostrar à população. Ou que, agindo assim, a população vai esquecer daquilo que não foi feito.

E, convenhamos, há muito para ser feito para trazer Serra Negra ao século 21.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra



 


Comentários

  1. Muito bem colocado.
    Todos nós pagamos tudo o que Executivo e Legislativo consomem e gastam.
    E pagamos muito.
    E com relação ao critério de escolha das vias que receberam asfalto, este parece passar distante de questões técnicas ou ambientais.
    Em 08/02/2019 questionei via protocolo (735 ou 736) a Prefeitura sobre quais são os critérios adotados na escolha das vias que recebem a pavimentação . Nunca responderam de forma objetiva quais são os critérios.
    Vi diversas ruas de pequena extensão, de baixa declividade e sem saída que obviamente recebem predominantemente tráfego de veículos leves de moradores que foram asfaltadas e, vi outras mais extensas que estão sobrecarregadas pelo tráfego diário de caminhões, ônibus, utilitários, automóveis e motocicletas que não recebem o devido cuidado. Pra piorar a manutenção é realizada pela prefeitura empregado materiais impróprios e metodologia inadequada.
    E parece que ainda continuamos a aceitar calçadas com largura muito, muito, mas muito inferior as recomendadas nas consagradas normas técnicas da ABNT. Pra que se importar com o pedestre e PCDs, né?
    Por estas e por outras fica a impressão de que a escolha das vias beneficiadas é política e não técnica e o que importa é espalhar o asfalto independente se atropelamos os passeios públicos.
    Enquanto decisões políticas prevaleceram sobre as técnicas, todos perdemos qualidade de vida e gastamos mais dinheiro (vide o custo do desassoreamento dos lagos). E não adianta falar que a conta vai pra sabesp, afinal, a conta de sabesp quem paga é o munícipe.

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