//SALETE SILVA// Amor incondicional



A minha barriga não cresceu. Não tive enjoos nem fiz ultrassom. Não preparei enxoval nem o quarto de bebê. Não pensei em nomes porque não sabia se seria menino ou menina ou se já viria com um nome. Só corri Brasil afora atendendo aos chamados de assistentes sociais de Minas Gerais, Nordeste e do Paraná. Foi chute na trave umas quatro vezes.

Sofri todos os Dias das Mães que passei sem meu filho nos braços. Minha gravidez durou cinco anos. Meu filho nasceu com dois dias e no instante em que o peguei no colo me tornei mãe. Daí para frente tudo foi igualzinho às mães biológicas: mamadas noturnas, fraldas, médico, escola, febre, garganta inflamada, noites sem dormir, choro e preocupação, alegrias e tristezas.

Tristezas só quando adoece ou está triste. Sinto alegria e gratidão o tempo todo. Meu filho foi um presente dos céus e para recebê-lo tive de abrir o coração e largar mão do filho idealizado, dos laços consanguíneos, do quarto e enxoval, e em especial dos preconceitos e racismo. Esses dois últimos foram mais difíceis. O Brasil é um país preconceituoso e racista. O racismo também estava em minhas entranhas. 

Mães por adoção aprendem durante a gravidez que filho não é o ser com o qual sonhamos e idealizamos. Filho é nosso amor de almas que nos espera em algum lugar do Universo. Para chegar até ele a única bússola é o amor incondicional.  

Só vive plenamente quem experimenta desse amor e nem precisa parir.  Basta abrir o coração, não necessariamente para receber um filho. Pode ser um sobrinho, um enteado, um vizinho ou qualquer um que necessite chamar alguém de mãe. Ame-o de forma incondicional e descobrirá o amor de mãe. Aproveito para agradecer a genitora do meu filho. Onde quer que esteja lhe serei eternamente grata.  

Feliz Dia das Mães.

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra



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