//FERNANDO PESCIOTTA// Risco reputacional



A maioria apertada do Comitê de Política Monetária do Banco Central, composta pelos diretores do BC, considerou apropriado reduzir o ritmo de corte dos juros para 0,25 ponto porcentual por considerar que o cenário econômico esperado não se confirmou.

É o que diz a ata do encontro. O Copom, portanto, joga no colo do governo a responsabilidade por não cortar os juros como previsto. A alegação é de que a mudança na meta fiscal para 2025 pode interferir na expectativa inflacionária.

Para dissimular, cita-se também o cenário global, incerto por causa da confusa política monetária dos EUA. Para piorar, acrescenta-se na ata o crescimento econômico brasileiro acima do esperado.

Os diretores que defenderam manter o corte de 0,5 ponto temiam o “custo reputacional” do BC ao romper com a estratégia traçada em março, “esvaziando o poder das comunicações formais do comitê”. Tinham razão.

O ministro Fernando Haddad considerou a ata “técnica” e “correta”. Apesar da reação diplomática, para colocar panos quentes e seguir adiante, a ata revela uma parte do Copom ainda contaminada, com decisões políticas atreladas ao conservadorismo econômico. E, infelizmente, indica que dificilmente os juros fecharão o ano abaixo de 10%.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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