//SALETE SILVA// Livro de serrano aborda pandemia com olhar crítico mas leve

Murilo: crônicas leves sobre uma doença pesada


A covid-19 está de volta e os registros em Serra Negra crescem exponencialmente todas as semanas sem que a prefeitura tenha até agora divulgado um balanço dos números de casos este ano na cidade. É uma boa hora para fazer a leitura de “Histórias de uma Pandemia Anunciada”, do serrano Murilo Camano Murr, biomédico e nutricionista, que ganha a vida escrevendo sobre saúde.

Os serranos vão se identificar de cara, no primeiro capítulo, com a descrição de Murilo sobre a cidade de onde veio. Ele usa para isso perguntas típicas feitas quando alguém lhe para na rua: “Você é filho de quem? Trabalha com o que? Namora, é casado com quem? De quem ele (a) é filho (a). Qual seu sobrenome?”

Sua definição sobre a cidade vai além:  (...) "Venho do interior, mais precisamente da cidade de Serra Negra/SP. Uma cidadezinha com pouco mais de 29 mil habitantes, um ótimo lugar para se viver quando falamos de qualidade de vida, mas mal administrada politicamente, com potencial não aproveitado."  

Apesar da crítica inicial, seus relatos demonstram o apreço pela cidade, que trocou pela capital no início da pandemia, mas para a qual retornou quase três anos depois, como o bom filho à casa torna. 

"Aqui as coisas não custam o triplo do que valem, há natureza para observar e ar puro para respirar, além de um silêncio ensurdecedor, principalmente durante a noite - remédios naturais contra o estresse", escreve.

O diário de pandemia de Murilo são crônicas curtas, bem escritas e humoradas que ajudam a refrescar a memória de um passado recente, mas que foi um dos piores, senão o pior, momento da história do Brasil, e que, como conclui o escritor, não nos transformou em seres mais humanos solidários e cidadãos. 

Quando o Brasil atingiu meio milhão de mortos, Murilo escrevia sobre os horrores não só da doença agressiva, mas do descaso de um governo que usou a pandemia para fazer politicagem, afrouxou medidas e retardou a vacinação. Lembra ainda do negacionismo de parte da população que insistia em tomar uma medicação sem efeito e que ainda insiste em pregar que a vacina é um experimento e que se vacinar deve ser uma opção.

Em meio ao caos, todo mundo deve ter vivido alguma tranquilidade enquanto tentava levar uma vida e fazer coisas do dia a dia como passear com os pets, arrumar um emprego e encontrar familiares há meses distantes. Com Murilo não foi diferente. Foi em um desses raros momentos, mas num passeio de grego, que ele relata de forma bem humorada como adotou um novo amigo.

A pandemia de covid-19 poderia ficar só na lembrança se ainda hoje não tivéssemos o dado assustador de que a cada quatro dias morrem no Brasil ao menos três crianças ou adolescentes de até 14 anos devido a complicações da doença e que em Serra Negra somente 66 doses de reforço da vacina bivalente foram aplicadas no ano passado. "Histórias de uma Pandemia Anunciada" nos convida a essa reflexão. 

O livro está à venda no site da Kotter Editorial (aqui) e livrarias online. 

Vale a leitura!

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra



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