//SALETE SILVA// Terceirizamos a juventude



O "Carnaval Família" faz a alegria de papais e mamães de crianças de zero a dez anos. Essa é aquela idade em que os pais, em especial os mais baladeiros, querem brincar felizes ouvindo as canções de outros carnavais que marcaram seu tempo de juventude. Na companhia da família e dos filhos pequenos a brincadeira fica ainda mais divertida e para os papais dos pequeninos é praticamente mágica. Mas essas crianças crescem e como todos os jovens e adolescentes seus sonhos são outros.

O que fazemos nessa hora?  Excluímos os filhos de nossas vidas, mandamos brincar em outro lugar em especial se já entraram no mundo dos adultos, cederam à propaganda das bebidas, da cerveja e já perderam o controle e extrapolaram os limites? Eles que vão brincar em outro lugar!

Que pai faz isso? Os que preferem jogar o problema para debaixo do tapete e não enfrentar a situação com coragem e persistência. Os que preferem fazer de conta que o problema não existe ou que acha que a solução é terceirizá-lo para a escola, às instituições públicas e à sociedade.

É quando a sociedade exclui seus jovens e terceiriza o problema sem enfrentar os desafios que as novas gerações estão impondo não só aos pais, mas às autoridades policiais, gestores públicos e aos formuladores de políticas públicas.

O desafio de boa parte da adolescência e da juventude é escapar da dependência química, dos transtornos mentais, da depressão, da ansiedade e do medo desencadeado muitas vezes pela própria desestruturação familiar, desemprego, dificuldade de acesso às universidades e à desesperança.

O excesso de informação, a exposição excessiva às tecnologias, o assédio da publicidade e propaganda das grandes marcas têm agravado esse problema. E o que faz a sociedade? Vira as costas para as novas gerações e finge que o mundo é da família margarina.

“Exporta” sua juventude e finge que essa parcela de jovens doente, empobrecida que precisa de ajuda não existe. Criamos o mundo da fantasia e continuamos sonhando que nossos filhos ainda são aqueles pequenos com os quais nos divertimos nas ruas durante sua infância com confete e serpentina no Carnaval.

Vamos pensar sobre isso. 

Decidi escrever esse texto depois de obter informação de que metade ou mais dos jovens serranos escolheram cidades vizinhas para se divertir nas quatro noites de Carnaval. 

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra




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