//FERNANDO PESCIOTTA// Divergência construtiva?

Foto: Ricardo Stuckert



O ex-presidente da Argentina Alberto Fernández deu uma demonstração de civilidade e respeito à democracia ao transmitir o cargo a alguém tão desclassificado como Javier Milei num evento marcado pela concentração de extremistas de direita em Buenos Aires.

Para nós, porém, o evento mais importante do final de semana foi a Conferência Eleitoral do PT, em Brasília (foto). Apesar do esforço concentrado da mídia brasileira em apontar divergências e insinuar atritos incontornáveis, o evento revelou opiniões diferentes, mas alguma maturidade na defesa de pontos de vista, resultando numa demonstração de esforços para que o governo Lula seja bem-sucedido. Não chega a ser o ideal, mas é como Lula gosta.

A presidente nacional da legenda, chamou de “austericídio fiscal” a busca pelo equilíbrio fiscal e orçamentário. Haddad respondeu que “não é verdade que déficit faz crescer”.

O ministro reconheceu, ainda, que há resistências no Congresso à aprovação de medidas de ajuste fiscal e de aumento da arrecadação, fundamentais para seu objetivo, e classificou a direção do BC de “durona” por não velocidade à queda dos juros.

“A vida não está fácil, não temos uma base progressista no Congresso. Não estou falando mal ou bem, é um fato. E não temos uma diretoria mais arejada no Banco Central. É uma diretoria muito haukish [austera, no jargão econômico], muito durona. Temos de trabalhar com o contexto político que temos”, acrescentou.

Gleisi classificou o desempenho da economia como “muito bem-sucedido”, concordou com o contexto político e fez um alerta para os petistas dizendo que se a popularidade do presidente Lula cair o Congresso pode “engolir” o governo, lembrando a gestão Dilma Rousseff.

Para garantir esse pilar, o ministro de Comunicação, Paulo Pimenta, promete uma estratégia focada nos 30% da população que consideram o governo “regular”. “Nosso objetivo é fazer com que essa parcela abra a porta para ouvir o que a gente tem a dizer”, afirmou.

As ações são bem-vindas, principalmente se falarem também com os públicos avessos ao PT, como o evangélico. Todos precisam saber o que o governo tem feito, mesmo que não concordem. Com o tempo, muitos se convencerão. Indicaria, ainda, uma ênfase na reconstrução, o que pode dar a Lula uma forte marca para seu terceiro mandato.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com



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