//FERNANDO PESCIOTTA// Como criar uma crise



A aprovação no Senado da PEC que limita a atuação do STF se transforma numa crescente crise entre os Poderes. A decisão foi duramente criticada por ministros da Corte, abriu um vácuo no seu diálogo com o governo e atraiu novas investidas do Senado.

O estopim é o voto do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (foto), a favor da PEC. Os ministros ficaram particularmente incomodados com Wagner, que parece ter sido decisivo para a aprovação da proposta.

Após as duras críticas do presidente do STF, Luis Roberto Barroso, e ministros, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quis parecer macho e ameaçou avançar ainda mais contra o tribunal, fazendo tramitar a proposta que fixa mandatos para os ministros.

Por incrível que pareça, a voz mais sensata nessa questão é da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Para ela, o voto de Jaques Wagner foi um erro, lembrando a atuação do STF na pandemia e na defesa da democracia. “Mudar o STF é revanche da extrema-direita”, disse.

Jaques Wagner ou sabe de coisas que não sabemos ou está muito equivocado. Ele alegou que seu voto foi “estritamente pessoal”. Só se esqueceu de que líder de governo não tem direito a voto pessoal.

O resumo da ópera é que quem sai ganhando é o presidente da Câmara, Arthur Lira, como avaliam análises da mídia. A chegada da PEC à Câmara lhe dá ainda mais poder. Afinal, caberá a Lira decidir se coloca a matéria em votação e quando.

Por enquanto, a tendência é de dar prioridade às pautas econômicas, empurrando a PEC para 2024.

----------------------------------------------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


Comentários