//FERNANDO PESCIOTTA// A propaganda como detergente da VW



Faz sucesso nas redes sociais e em grupos de WhatsApp o novo filme publicitário da Volkswagen, com o qual a montadora comemora 70 anos no Brasil e lança o modelo ID.Buzz, que está sendo chamado de nova Kombi e que custa em torno de R$ 300 mil.

O filme de forte apelo emocional tem Maria Rita interpretando “Como nossos pais”, canção de Belchior, ao lado de sua mãe, Elis Regina, graças à inteligência artificial.

A peça é linda e bem-sucedida no seu objetivo de lembrar que todos crescemos em torno de um VW. No final da década de 1960, eu mesmo aprendi a dirigir numa Kombi 1962. Da mesma forma, o filme explora a bela poesia de Belchior para ligar o passado ao futuro.

Maravilhoso, mas não consigo dissociar as coisas. A Volkswagen ainda nos deve explicações e pedidos de desculpas por seu passado tenebroso. Sua origem é hitlerista, com uso de mão de obra escrava levada de campos de concentração.

Até hoje seu principal acionista é o clã Porsche Piëch, que usou o envolvimento com o nazismo e leis antissemitas para expropriar famílias judias, incluindo seu sócio-criador do grupo, Adolf Rosenberger.

No Brasil, a VW foi colaboradora da ditadura militar. Seguiu o exemplo da matriz com Hitler e cresceu com a ditadura. Monitorou sindicalistas, trabalhadores e supostos opositores do regime.

Segundo a agência Deutsche Welle, o relatório final de autoridades sobre a investigação da participação da empresa na repressão no Brasil, publicado no dia 31 de março de 2021, deixa claro que a VW estabeleceu “por disposição própria uma intensa relação de contribuição com órgãos da repressão” sabendo que colocaria seus funcionários ao risco de prisões ilegais e à tortura.

O documento lembra que o presidente da empresa no Brasil em 1964, Friedrich Schultz-Wenk, fez muitos elogios aos militares golpistas. Schultz-Wenk foi filiado ao partido nazista, mas isso não foi impedimento para a VW mantê-lo como presidente de uma de suas mais importantes subsidiárias.

No mesmo dia em que a peça publicitária estourava nas redes e na mídia, a montadora anunciou investimento de R$ 5,2 bilhões no Brasil.

Ninguém vai falar dos seu passado.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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