//SALETE SILVA// Santa, heroína, superpoderosa... Não, apenas mãe e mulher



No Dia das Mães tratem-nos apenas como humanas. Mães não são dotadas de superpoderes. Nada de santas nem heroínas

Mães sentem amor incondicional pelos filhos, mas são egoístas. Querem momentos só seus para ler um livro, fazer uma refeição tranquila, ouvir sua música favorita ou assistir àquela série sem ser interrompida.

Mães são mulheres. Apreciam batom na boca, vestido bonito, sair para dançar ou ficar em casa sem nada para fazer, à toa mesmo.

Mães são profissionais e as que criam sozinhas seus filhos trabalham às vezes mais de 12 horas diárias para sustentá-los e para alcançar sucesso na carreira e dar do bom e do melhor a sua prole.    

Mães erram, e como, erram. Cedem ao choro incansável e dão hambúrguer, batata frita e refrigerante. Mães cansadas às vezes esquecem que o pequeno já ficou no celular mais tempo do que deveria.

Algumas mães planejam a gravidez, outras não. Mas nenhuma recebe um manual sobre como educar e criar com sucesso seus filhos quando os levam para casa.

Mães são alvos também incessante dos algoritmos da internet que lhes recomendam  consumo, comportamento e experiências e que as enlouquecem com  fake news como as de ameaças de ataques às escolas.

Mães ficam aborrecidas quando as escolas as chamam porque alguma coisa não vai bem. Mães falam bobagens e se equivocam quando dão um conselho que o filho nem pediu. Mães gritam quando perdem a paciência, mães magoam quando excedem nas críticas e cobranças. Mães se sentem profundamente tristes quando reconhecem o erro. Algumas tentam e nem sempre conseguem voltar atrás. Outras deixam isso pra lá.  

Mães são seres humanos incumbidos de orientar e formar cidadãos para uma sociedade que está doente, com valores invertidos em que os pretos ainda sofrem com o racismo, as mulheres são espancadas e mortas pelo feminicídio, milhões de pessoas ainda vivem na miséria e a meritocracia é que vai definir se seus filhos são bons ou não para sobreviver a tudo isso.

Mães não têm solução mágica e boa parte delas necessita urgentemente de uma rede de apoio para criar os filhos que não têm creche, que o pai abandonou, que dão despesas que o salário não paga e que a sociedade muitas vezes rejeita. 

As homenagens que as comparam a figuras divinas ou à Mulher Maravilha só fazem lembrar do peso de toda essa responsabilidade. Neste Dia das Mães deixem-nos ser apenas humanas exatamente como somos o resto do ano.  

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra

   


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