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Pelo menos três vezes por semana pratico corrida de rua. Faz bem para o corpo e para a alma. A liberação de hormônios garante a sensação de bem-estar, alivia o estresse, reduz a ansiedade e ajuda a melhorar meu humor de mulher que enfrenta às vezes até três jornadas de trabalho diárias.
Nesta segunda-feira, 6 de março, na minha primeira corrida da semana do Dia da Mulher, chamaram-me a atenção as mulheres com as quais cruzei no trecho entre o Campo do Sete e a Praça Sesquicentenário.
Em cada uma delas vislumbrei um pouco das mulheres homenageadas pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari e o Viva! Serra Negra, que na quarta-feira, 8 de março, vão estar reunidas para receber pessoalmente a homenagem.
A mulher que andava a passos largos, provavelmente para chegar ao trabalho sem atraso, tinha muito da trabalhadora do comércio homenageada.
A mãe que levava para a escola as duas crianças pequenas tinha alguma coisa da merendeira que dedicou sua vida a alimentar os alunos da rede municipal.
Na garota negra com a mochila nas costas vi um pouco da mulher que venceu o racismo e hoje tem sua própria agência de turismo.
Cada uma das homenageadas leva consigo algo da mulher brasileira e carrega na sua história o desafio de viver em uma sociedade ainda machista, racista e que registra um caso de feminicídio por dia.
A mídia e as redes sociais costumam destacar as mulheres bem sucedidas que deram certo como empreendedoras ou como CEOs pioneiras de grandes companhias. Essas mulheres se tornam notícia justamente porque são exceções.
Duas das mulheres homenageadas em Serra Negra são da área da saúde que, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), recebem 24% menos do que os seus colegas homens. Uma delas, agente da saúde, funcionária imprescindível para a prevenção de doenças entre a população mais pobre de Serra Negra, não pôde virar notícia.
Desistiu na última hora de relatar aos serranos sua história de vida e seus desafios profissionais como mulher devido a pressões de superiores que tentaram inspecionar o conteúdo da reportagem que seria publicado, segundo apurou o Viva! Serra Negra.
O objetivo da homenagem é justamente valorizar pessoas como a maioria das trabalhadoras brasileiras, invisíveis aos olhos da sociedade, apesar de sua relevância para a comunidade e para o país. Dificilmente elas são alvos de homenagens oficiais, como monções de aplausos e títulos de cidadãos.
O olhar do jornalista Carlos Motta, editor do Viva! Serra Negra, captou em cada uma das mulheres homenageadas o retrato feminino de Serra Negra, cidade construída também com suor e lágrimas de mulheres como dona Isabel, que dedicou 38 anos à cafeicultura, principal atividade agrícola do município.
Peço desculpa por não ter incluído você, mulher trabalhadora, branca, negra, amarela, mãe e avó que dedica sua vida à família e à sociedade. Mas espero ter conseguido representá-la em cada uma das homenageadas.
O Dia Internacional da Mulher é mais de luta do que de comemorações, para que homens e mulheres sejam livres para fazer suas escolhas e para que possam usufruir dos mesmos direitos e oportunidades.
Enquanto esse dia não chega, tornando desnecessário um dia especial para nos dar alguma visibilidade, sigamos na luta! Viva as mulheres!
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Salete Silva é jornalista profissional diplomada (ex-Estadão e Gazeta Mercantil) e editora do Viva! Serra Negra
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