//SAÚDE// Prefeito joga pesado e vence 1º round da disputa pelo comando do hospital

Assembleia geral extraordinária contou vários representantes do grupo político do prefeito

A administração municipal de Serra Negra colocou todo o seu time para jogar na disputa pelo comando do Hospital Santa Rosa de Lima. A estratégia já deu resultado no primeiro embate, marcado pela assembleia extraordinária, convocada por representantes do grupo político da oposição e realizada na sexta-feira, 17 de fevereiro, na capela do hospital.

A chapa da situação, formada pera concorrer à eleição na nova diretoria da Santa Casa de Misericórdia de Serra Negra, mantenedora do hospital, e encabeçada pelo atual provedor, Renato Cazotto De Santi, com o apoio do prefeito Elmir Chedid, conseguiu rejeitar por unanimidade a exclusão dos 26 associados admitidos em outubro do ano passado e aprovados pela diretoria em reunião realizada em dezembro. Com isso, os novos associados ganham direito não só a voto nas eleições para a renovação da diretoria em abril como participação na disputa eleitoral.

Além da presença em peso de representantes do grupo político da família Chedid, a assembleia foi permeada por momentos de tensão, em que até o nome de Deus foi evocado para aplacar os ânimos. 

Os 26 novos associados ocupam cargos de confiança na prefeitura e entre eles há pelo menos cinco secretários municipais: Berenice Fabiana Del Buono, da Agricultura; Daniele Pachioni Siloto, da Assistência Social; Ricardo Minosso, da Saúde; Danilo Mainente, dos Esportes; e até o titular do Turismo e Desenvolvimento Econômico Econômico, Carlos Tavares de Toledo, que mora na cidade de Socorro.

Integra ainda a lista de novos associados o chefe de Gabinete do Executivo, Rodrigo Demattê Angeli; o assessor especial de Gabinete e secretário do Meio Ambiente, Wanderlei Lona; e integrantes da equipe de imprensa da prefeitura, incluindo o diretor de Comunicação, Tárcio da Costa Cacossi, que reside em Bragança Paulista.

Força desproporcional

A força numérica entre os dois grupos que disputam a direção do hospital era visivelmente desproporcional. Entre os poucos representantes da oposição que pleiteavam a exclusão dos novos associados, dois já foram importantes aliados do grupo político da situação: o ex-prefeito e ex-presidente da Câmara Municipal João Dei Santi, hoje aliado ao grupo liderado pelo candidato derrotado nas últimas eleições municipais, Marco Bueno, e o médico e ex-vice-prefeito Rodrigo Magaldi, que se desfiliou do União Brasil, partido do prefeito Elmir Chedid, depois das eleições de 2022 para a renovação da mesa diretora da Câmara Municipal - sua esposa, a vereadora Ana Barbara tinha pretensão de presidir a Casa. O médico não deixou oficialmente o grupo.

O associado da Santa Casa de Misericórdia de Serra Negra Ricardo Dias Souza, advogado da Associação Beneficente Shdss, ex- fornecedora de serviços médicos e ex-administradora dos plantões do Pronto-Socorro do Hospital Santa Rosa de Lima, iniciou as apresentações das justificativas do pedido de exclusão. O advogado chamou de artimanha eleitoral a aprovação pela diretoria dos 26 novos associados, em reunião do dia 28 de dezembro de 2022, com base em fichas de filiação datadas de 7 e 10 de outubro do ano passado. O objetivo, argumentou, seria garantir a vitória da chapa da situação nas eleições de abril de 2023.  

Souza avalia que as fichas poderiam ser preenchidas com qualquer data e não foram apresentadas na reunião de novembro, um mês depois das filiações. "Por que outubro? Porque a última ficha de filiação do dia 10 conta exatamente até 10 de abril, que seria a data de votação e que dariam seis meses necessários, disse".

O advogado questionou ainda alguns fatos em relação à reunião do dia 28 de dezembro. Um dos diretores que teria afirmado não aprovar a associação de 26 pessoas de uma única vez não teria sido informado sobre o evento como os demais diretores pelo WhatsApp. 

Souza disse ter encaminhado um questionamento sobre isso, protocolado em 10 de janeiro, mas não obteve resposta. Outro diretor da Santa Casa, o tesoureiro Márcio Almeida Santos, presente na assembleia, justificou o pedido de exclusão dos 26 nomes sob o argumento de que só havia recebido e aprovado a filiação de quatro fichas, e não 26 como diz o provedor. 

O provedor Renato De Santi justificou a inclusão dos 26 nomes com o argumento de que ninguém quer participar da associação por ter receio de ficar com o CPF negativo.

Souza ainda citou declarações do vereador César Augusto Borboni, o Ney, proferidas durante a sessão da Câmara Municipal de segunda-feira, 17 de fevereiro. "O vereador Ney falou em alto som o seguinte: que todos os 26 membros vieram aqui simplesmente se filiar para votar", afirmou. O advogado apresentou o áudio da sessão, no qual o vereador teria dito que a chapa da oposição deveria fazer o mesmo.

"Comprovado que houve fraude em documento particular para alteração de data, o senhor Renato cometeu crime e se o vereador Ney defendeu isso, de forma pública, fez apologia a crime, utilizando a tribuna da Câmara", concluiu. O advogado disse que pretende entrar com pedido de cassação do vereador por falta de decoro parlamentar. "Quando encontrarem o vereador o agradeçam por mim porque para mim nunca foi tão fácil achar uma prova como esta", concluiu. O Viva! Serra Negra procurou o vereador para que respondesse a essa acusação, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

O advogado tentou argumentar ainda que o atual provedor é responsável pelos prejuízos financeiros da Santa Casa, mas ao ser interrompido, bateu com força na mesa, aos gritos, e protagonizou o momento de maior tensão no local. Aliados da chapa da situação ameaçaram agredir o advogado. Os da oposição intervieram e a confusão foi desfeita com a retirada de Souza da capela. Ele voltou em seguida e pediu desculpas.

Ataques ao Viva!

O médico Rodrigo Magaldi disse considerar estranho o ingresso, que chamou de "abrupto", de 26 novos associados. "Causou-me estranheza esse ingresso abrupto de pessoal que é um pessoal diferenciado que tem de fazer parte, trabalhar na diretoria. É estranho porque foi colocado o meu nome e o da Bárbara [Ana Bárbara, sua esposa e vereadora]." 

Magaldi lembrou ainda que realiza "alguns poucos" trabalhos para a Associação Beneficente Shdss, ex- fornecedora de serviços médicos e ex-administradora dos plantões do Pronto-Socorro do Hospital Santa Rosa de Lima e cujo proprietário é casado com a dona da empresa que fornece serviços laboratoriais à instituição.

O médico citou ainda a reportagem do Viva! Serra Negra na qual o secretário da Saúde, Ricardo Minosso, revelou que, dependendo do resultado das eleições, a administração municipal planeja ficar apenas com o Pronto-Socorro do hospital, terceirizando os serviços de centro cirúrgico e internações, o que, segundo ele, poderia levar ao fechamento da instituição.

"Fiquei muito descontente com o artigo do Viva! Serra Negra porque tenho certeza absoluta, Minosso, que você jamais falaria algo nem parecido com aquilo. Você, secretário de Saúde, diferenciado que é, vai optar ou pensar minimamente, imaginar o pensamento de fechar com o tanto que a gente deu de sangue a esse lugar, ou você está fora de si, então tenho a certeza disso", afirmou. 

Magaldi disse ter absoluta certeza de que as palavras do secretário foram deturpadas pela reportagem do portal. "Sei que você já falou isso para o pessoal todo na vereança, para o prefeito e tudo mais e eu tenho certeza absoluta que as tuas palavras foram deturpadas, porque é impossível que alguém queira o fechamento do hospital."

O secretário, que estava presente na assembleia, não desmentiu as declarações publicadas pelo Viva! Serra Negra. Ele não respondeu a Magaldi e nem à reportagem do portal, que acompanhava e gravava a assembleia e que o questionou sobre o assunto. Preferiu não se pronunciar.

O ex-prefeito João Dei Santi tentou sugerir mudanças no estatuto da Associação Santa Casa de Misericórdia para que os próximos associados peçam afastamento se assumirem cargos de confiança, como o da maioria dos novos associados. Dei  Santi argumentou que a atuação dos membros da entidade com o afastamento dos membros que ocupam cargo de comissão seria mais isenta. O pedido foi negado com a justificativa de que não estava incluído na pauta da assembleia, conforme prevê o estatuto.


 

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