//POLÍTICA// Professor explica como combater as fake news

Wagner Romão:  é preciso voltar para os grupos das famílias
e amigos dos quais as pessoas se afastaram


As eleições seriam mais limpas se a justiça eleitoral tivesse uma ação mais efetiva no combate às fake news. A disseminação de mentiras nas redes sociais diminuiu em relação a 2018, mas essa diminuição ainda é muito tímida e prejudica o processo eleitoral. 

A avaliação é de Wagner Romão, professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, entrevistado no programa Serra Negra na Roda em 12 de outubro. Candidato a uma vaga à Assembleia Legislativa pelo PT, Romão teve 17 mil votos. 

Além de as multas aplicadas aos infratores que disseminam fake news serem irrisórias, Romão lembra que não há perda de candidaturas nem de mandatos e se isso ocorrer leva muito tempo devido à lentidão da Justiça Eleitoral. “O modo como se faz política hoje, pelas redes sociais, com essa velocidade de difusão das mensagens, a população não consegue aferir o que é real ou não”, disse.

Romão lembrou que a disseminação de fake news faz parte do cenário eleitoral desde 2016 e que precisa ser rechaçado com a punição dos infratores. Para que isso ocorra, ele salientou, é preciso equipar a Justiça para que ela ganhe capacidade de investigação.

“Os partidos da esquerda conseguiram ter um pouco mais de condições de se contrapor a essa fábrica de fake news. Mas a Justiça ainda está muito lenta e só a punição severa pode barrar isso”, acrescentou. A maior dificuldade, o professor avalia, é identificar o emissor da mensagem e quais são suas intenções.

A militância tem um papel importante na atuação para desmentir as mensagens disparadas pelas redes sociais e a melhor forma de atuar, o professor aponta, é voltar para os grupos das famílias e amigos dos quais as pessoas se afastaram justamente devido às divergências políticas. 

“Muita gente saiu do grupo da família, muitas pessoas que a gente ama estavam disseminando mentiras, às vezes inocentemente ou não. Sair da bolha é parar de conversar com nós mesmos e muito educadamente dialogar nesses espaços e tentar se contrapor quando ver uma informação falsa”, explicou.

Essa tem de ser a atuação no Facebook e no WhatsApp. “Se cada um de nós fizer uma parte disso, a gente vai aos poucos minando essa máquina”, salientou. Para o professor, no entanto, ninguém ganha eleição apenas nas redes sociais. Romão explicou que a presença da militância nas ruas é essencial para impulsionar as redes sociais e as duas atuações se complementam.

O professor avalia como muito positivo o resultado do primeiro turno das eleições de 2022 para o campo progressista. Ele considera significativa a liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 48% de votos, que quase lhe deram vitória no primeiro turno depois da perseguição política que o impediu de participar das eleições de 2018 e apesar da enxurrada de liberação de recursos públicos proibidos pela Constituição em período eleitoral por Jair Bolsonaro (PL).

Apesar do resultado surpreendente no Estado que deu a liderança do candidato ao governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romão também avalia como positivo o resultado de Fernando Haddad (PT) que ficou em segundo lugar com 35% dos votos, uma marca conquistada pelo partido em São Paulo apenas em 2010 quando Aluízio Mercadante disputou o governo do Estado com o atual candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin.

“Para quem estava injustamente preso em 2018, não pôde participar das eleições, depois de tudo o que aconteceu nesses anos de Bolsonaro na Presidência da República, depois do que a gente soube de todo o comprometimento da Lava Jato do Moro, com uma certa posição política, um processo judicial absolutamente viciado, ter o Lula como o candidato mais votado, com mais de 48% dos votos é algo digno de nota”, afirmou.

Ele comemorou também a votação ao governo do Estado de São Paulo. “O Haddad chegar com 35% é muito relevante e acho que temos de festejar”, disse. Na sua avaliação a maior surpresa foi a votação para o Senado, que deu a vitória ao candidato Marcos Pontes (PL). O professor também considerou importante a votação no campo progressista tanto na Câmara Federal quanto na Assembleia Legislativa e lamentou o retrocesso no Senado.

Romão destacou ainda como resultado das urnas a indicação forte do quase desaparecimento da terceira via, o que obrigou não só o PSDB mas políticos de outros partidos ligados aos tucanos em São Paulo, como o União Brasil, do prefeito Elmir Chedid e de seu irmão deputado estadual Edmir Chedid, a apoiar os bolsonaristas por uma questão de sobrevivência política.

Romão, que concorreu a uma vaga à Assembleia Legislativa e obteve 17 mil votos, também falou sobre a credibilidade das pesquisas eleitorais e o que elas já apontam para o segundo turno. Na sua avaliação, as pesquisas divulgadas indicam que há margem de crescimento da candidatura não só de Lula como a de Haddad.

“A pesquisa do Ipec mostrou que tem uma margem grande de crescimento do Haddad e do Lula no Estado de São Paulo”. Ele considera que contribui para isso o apoio de Simone Tebet (MDB) e de Ciro Gomes (PDT). “Tebet cresceu muito na campanha, foi assertiva, foi clara, se expressa bem e passa credibilidade e o apoio dela ao Lula não foi apoio tímido. É apoio de alguém que disse que temos diferenças, mas neste momento meu voto é de Lula”, afirmou.

Apesar das vantagens, Romão reconhece que as próximas semanas ainda vão ser difíceis. “Temos muitas fake news, temos o Bolsonaro apostando tudo. O vídeo da Damares deixou claro que estão jogando tudo para a continuidade desse governo. Vai vir muita coisa e a gente tem de estar forte”, finalizou.

A seguir, a íntegra da entrevista: 




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