//NOTAS SERRANAS// O que você precisa saber sobre a sua cidade

   

Escolha certa?

Com a derrota do governador Rodrigo Garcia na corrida ao Palácio dos Bandeirantes e sua adesão ao bolsonarismo, o prefeito Elmir Chedid anunciou que apoia os candidatos bolsonaristas no segundo turno das eleições. Ele disse que vai pedir votos na cidade para Tarcisio de Freitas (Republicanos) para o governo do Estado e Jair Bolsonaro (PL), que tenta se reeleger presidente da República - embora até o momento não saiba o que representa o cargo. No entendimento do prefeito, o lado que escolheu é o melhor para o município.

Na contramão

O posicionamento indica que os interesses políticos pesaram mais na decisão de Chedid do que a gestão catastrófica de Bolsonaro em áreas de atribuição dos municípios, mas que a União tem obrigação de apoiar financeiramente, entre as quais saúde e educação.

Guerra ideológica

O trabalho da prefeitura para conter a disseminação da covid-19, conscientizar a população sobre a necessidade do isolamento social e do uso de máscaras foi dificultado pelas declarações e posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro, apontado por muita gente séria como responsável por boa parte dos quase 700 mil mortos durante a pandemia. O prefeito usou suas redes sociais inúmeras vezes para pedir que as pessoas ficassem em casa, usassem máscaras e para defender o fechamento do comércio, seguindo a orientação do ex-governador João Doria (PSDB). 

Deboche e desprezo

O governador se tornou o principal opositor de Bolsonaro que, durante a pandemia, defendeu um tal de tratamento precoce, sem comprovação científica, debochou dos pacientes, chegando a imitar um doente com falta de ar, e menosprezou a dor das famílias das vítimas, além de atrasar a compra de vacinas, o que suscitou a abertura de uma CPI no Senado por suspeitas de corrupção.

Educação

Serra Negra também sofre e continuará sofrendo os efeitos das medidas de Bolsonaro na área da educação de responsabilidade da administração municipal. A União promoveu cortes significativos de investimentos para a construção de creches e pré-escolas no país ao longo do atual governo. O Ministério da Educação destinou no ano passado R$ 101 milhões para obras de creches em prefeituras, uma redução de 80% em relação a 2018 ,quando foram investidos R$ 495 milhões.

Mais cortes

Os repasses para construção de creches este ano ainda não chegaram a R$ 100 milhões. Além disso, o Projeto de Lei Orçamentária enviado ao Congresso por Bolsonaro prevê um corte de R$ 1,096 bilhão no programa “Educação Básica de Qualidade”. O presidente vetou ainda este ano o reajuste do valor dos recursos repassados aos Estados e municípios para a merenda escolar. 

No fio da navalha

Nos próximos dias até as eleições em 30 de outubro, Elmir Chedid terá a tarefa de defender um governo cujas ações e prioridades se confrontam com valores baseados na defesa da vida, empatia e educação, defendidos pelo prefeito durante a pandemia. Chedid estará defendendo um governo em que 800 bibliotecas foram fechadas e um clube de tiro aberto por dia. O prefeito terá de pedir votos para Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Infraestrutura de um governo que propôs cortar 97% dos investimentos no setor em 2023. Talvez isso explique seu aparente desânimo ao anunciar em suas redes o apoio a Bolsonaro. Os interesses políticos do grupo parecem se sobrepor aos valores pregados nos dois primeiros anos de administração municipal.

Abaixo das expectativas

Os integrantes do Clube dos Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal, não esconderam a decepção com os resultados das eleições durante a sessão do dia 3 de outubro. As derrotas do governador Rodrigo Garcia e de deputados apoiados por políticos do município também podem explicar a adesão do grupo Chedid aos bolsonaristas que disputam o segundo turno. O mais decepcionado com o resultado das urnas parecia ser o presidente do clube, César Augusto Borboni, o Ney.

Migração de votos

Ney considerou que Edmir Chedid (DEM) com 7.573 votos e o bolsonarista Marco Bueno (Republicanos) com 3.133 votos poderiam ter uma votação mais expressiva. Lamentou ainda a derrota do deputado federal Vanderlei Macris (PSDB) para o qual fez campanha e do deputado federal Ricardo Izar. Ele reclamou dos votos à bolsonarista Carla Zambelli e a Guilherme Boulos (PSOL).

Menos recursos

As derrotas de Rodrigo Garcia e a dos deputados apoiados pelos políticos locais significam, avaliou Ney, menos recursos para a cidade. Os grupos políticos da oposição e da situação têm como principal estratégia para engordar a receita do município atrair emendas parlamentares estaduais e federais. Ney calcula que sem Vanderlei Macris e Ricardo Izar os cofres municipais devem perder pelo menos R$ 2 milhões anuais, que iriam para a saúde. “É um orçamento de R$ 2 milhões que Serra Negra perde e que a prefeitura tem de tirar do orçamento para colocar na saúde”, afirmou.

Compra de votos

A expectativa de Ney é de um orçamento municipal ainda mais apertado em 2023. A Confederação Nacional dos Municípios já previa perdas na arrecadação com a aprovação do projeto que reduz o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, transportes coletivos e comunicações. A redução foi uma estratégia de Bolsonaro para diminuir o impacto da inflação no custo de vida e melhorar os resultados nas urnas.

Vai faltar dinheiro

A manobra do governo federal para baratear o preço dos combustíveis vai afetar todas as áreas em 2023, na avaliação do presidente do Clube dos Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal. “A arrecadação de ICMS era por causa do combustível; quando baixa o combustível a arrecadação é outra. As coisas vão começar a voltar para o lugar. A arrecadação vai começar a cair e quando o dinheiro começar a fazer falta, vai fazer falta para a Guarda Mirim, vai fazer falta para todas as entidades”, afirmou.

Apoio do grupo

Ney ainda não manifestou apoio público aos bolsonaristas. A tendência é que por unanimidade os 11 membros do Clube de Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal, declarem estar do lado de Bolsonaro. Leonel Atanázio (União Brasil) já declarou seu voto no primeiro turno e devem acompanhá-lo os demais colegas que fazem parte da base do prefeito: Renato Giachetto, Anna Barbara Magaldi, Wagner Del Buono e Eduardo Barbosa, que já pedia votos ao presidente no primeiro turno. Roberto de Almeida (Republicanos), Viviani Carraro (Avante) e Rosimar Gonçalves (Republicanos) são bolsonaristas.

Restam dois

A vereadora Anna Beatriz Scachetti não anunciou apoio a nenhum dos candidatos. Seu partido, o PSD, liberou a bancada para fazer os apoios. Nos bastidores, a informação é que Beraldo Cattini, líder do governo, é contra a privatização dos Correios, uma das pautas de Bolsonaro para um eventual próximo mandato. Mas com o apoio oficial do prefeito aos bolsonaristas, não lhe restará alternativa, senão apoiar o carrasco dos carteiros.

SUS dependente

Apesar de ser empresário da área da saúde, o presidente do Clube dos Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal, se declarou beneficiário do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a perda de recursos das emendas parlamentares dos deputados, Ney se incluiu entre os prejudicados. “Eu não tenho plano de saúde, eu uso SUS. Mas perde muito mais as pessoas que precisam mais”, afirmou. Ainda assim, ele deve seguir o prefeito no apoio ao governo bolsonarista, que nunca escondeu desde a campanha da eleição passada sua intenção não só de reduzir os repasses para as áreas de saúde e da educação como trocar o SUS pela privatização e adoção de "vouchers".

Uma coisa só

A situação e a autoproclamada oposição serrana vão estar do mesmo lado neste segundo turno, apoiando Tarcísio de Freitas em São Paulo e Bolsonaro para a presidência da República. O modelo de governo bolsonarista é defendido pelos dois lados. Procurado pelo Viva! Serra Negra para falar sobre seu apoio, o presidente do Clube dos Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal, não respondeu às perguntas da reportagem. 

Edição jornalística

O candidato a deputado estadual derrotado, Marco Bueno, enviou resposta aos questionamentos do Viva! Serra Negra. Mas afirmou que só autorizaria sua publicação se ela fosse na íntegra. O Viva! Serra Negra é um veículo informativo independente e pauta sua atuação por princípios jornalísticos tradicionalmente estabelecidos. Um desses princípios é justamente não aceitar imposições de leigos em seu trabalho. Bueno certamente desconhece regras editoriais que são usualmente empregadas por todos os veículos de imprensa, o Viva! Serra Negra incluído. Uma delas é que cabe aos editores a escolha do que publicar. No caso de sua mensagem ao Viva!, merece destaque o trecho que diz que ele vê que "nesse momento as pessoas devem fazer uma escolha entre dois candidatos que defendem ideias diferentes e, de minha parte, não posso estar alinhado com quem defende o aborto, a liberação das drogas, quem é contra a polícia militar, quem defende ideais comunistas, quem defende a destruição da base familiar e religiosa, a sexualização precoce de crianças, quem apoia corruptos que já destruíram recentemente o Brasil, enfim... Essa é uma eleição de defesa de ideais, não exatamente de candidatos."  

Explicações

Sobre o apoio do prefeito Elmir Chedid, Bueno foi sucinto: "Não tenho o que opinar. As pessoas são livres para apoiarem quem elas quiserem." E ao comentar o fato de que ele e o prefeito, adversários na eleição de 2018 e nesta, estarem agora do mesmo lado, se estendeu um pouco mais: "Creio que quando, porventura, afirmamos que 'estamos dentro do mesmo espectro ideológico' isso pode dar a conotação de que pensamos da mesma forma, o que não retrata uma verdade absoluta. Temos formas divergentes de pensarmos quanto ao 'modus-operandi' no que tange a administração pública, por exemplo, ao mesmo tempo que podemos ter pensamentos convergentes quanto à questão ideológica."

Amigos do rei

Ao que indicam as declarações do prefeito Elmir Chedid e de seu adversário Marco Bueno, o candidato Tarcísio de Freitas já tem dois interlocutores em Serra Negra. Marco Bueno afirma ser amigo do candidato bolsonarista, embora ele tenha deixado cerca de 200 pessoas esperando por ele no Serra Negra Esporte Clube em plena campanha eleitoral. Do outro lado, Elmir afirmou que durante a reunião com os prefeitos da região para decidir os apoios, seu irmão, o deputado reeleito Edmir Chedid, disse ter recebido uma ligação de Tarcísio na qual ele teria garantido manter os recursos e repasses de programas para a cidade. Se Tarcísio der o mesmo cano em Chedid que deu em Marco Bueno, Serra Negra não terá como sair do enrosco financeiro que a compra de votos bolsonaristas deve provocar nos cofres públicos de todas as esferas de governo em 2023. 

Sessão ordinária 

O Clube dos Aprovadores de Serra Negra, antiga Câmara Municipal, promove nesta segunda-feira outra sessão em ritmo lento, quase parando, talvez ainda reflexo da campanha eleitoral. Sendo assim, seus integrantes vão aprovar rapidamente - não poderia ser de outra forma -  apenas dois projetos de lei, um que institui nas escolas da cidade o projeto Hino nas Escolas e o outro, em segunda votação, que institui no município o Programa de Cooperação Código Sinal Vermelho. Como se vê, essa deverá ser uma sessão tão desanimada quanto o comportamento da atual diretoria do clube desde sua posse.





Comentários