//CARLOS MOTTA // A opção do prefeito pela barbárie vai custar caro para a cidade



A família Chedid domina o cenário político de Serra Negra desde 1973, quando Jesus, pai do atual prefeito e de seu irmão gêmeo, deputado estadual, foi nomeado chefe do Executivo por Laudo Natel, então governador do Estado. A primeira eleição direta para prefeito em Serra Negra foi em 1979, no fim do mandato de Jesus Chedid. O vencedor foi Antonio Luigi Italo Franchi, o Bimbo, homem de confiança do da família.

E lá se vai, então, meio século de quase absoluto controle da cidade pelos Chedid.  É algo impressionante, principalmente porque Serra Negra se situa no Estado mais rico e pretensamente mais progressista do país, não nos rincões onde a informação é produto escasso e a consciência das pessoas se dobra à sua sobrevivência.

Pior, tal domínio se dá a partir da segunda metade do século XX, quando os chamados "coronéis", os manda-chuvas regionais da República Velha, exerciam o poder apenas nos livros de história.

O caso de amor entre Serra Negra e a família Chedid certamente será objeto de estudo algum dia desses.

Por enquanto, resta a nós, simples observadores do cotidiano, conjecturar sobre os motivos dessa ligação quase umbilical entre os serranos e os Chedid.

Poderíamos explicar isso, por exemplo, pelo fato de a família e seus prepostas terem feito administrações estupendas, que levaram Serra Negra ao ápice do desenvolvimento econômico, cultural e social. 

Mas embora obras físicas erguidas nas últimas décadas tenham resistido ao tempo - e algumas delas ainda exibem certa grandiosidade -, elas não foram suficientes para afastar da cidade o ar modorrento que caracteriza as pequenas comunidades do Interior brasileiro. Nem de inspirar cérebros entorpecidos por anos e anos de apatia a realizar prodígios de imaginação e criatividade.

Tampouco pode-se dizer que nesse meio século chedidiano Serra Negra tenha registrado avanço significativo nos indicadores econômicos e sociais. Prova disso é a renda média per capita da população, uma das mais baixas da região, ou a dependência praticamente exclusiva do turismo como principal fonte de receita. 

A pandemia mostrou o que se procura esconder na cidade: centenas de famílias sobreviveram por meio da caridade, à custa de doação de cestas básicas. Só esse fato revela o quão distante do aceitável é a vida por aqui.

Dia desses, o prefeito foi às redes sociais para informar de que lado está neste segundo turno da mais importante eleição do país, que contrapõe um projeto de destruição absoluta da rede de proteção social assegurada pela Constituição de 1988, que vem se acelerando desde o golpe que destituiu a presidenta Dilma, em 2016, e outro que pretende recuperar o que já foi destruído - saúde, educação, investimentos em infraestrutura, controle de gastos públicos, eliminação da fome e da miséria etc...

Para surpresa de alguns, que viam no prefeito uma pessoa educada, instruída, uma pessoa civilizada, enfim, ele declarou que dá o seu apoio aos candidatos que estão levando o Brasil, em todos os aspectos, às portas da barbárie. 

Não é difícil, porém, compreender esse aparente paradoxo. O meio século de domínio que a família do prefeito impôs à Serra Negra explica por si só a sua decisão. A eleição do candidato do PT, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ao governo do Estado, iria causar sérios problemas ao grupo político e empresarial dos Chedid. 

Antipetista radical, o irmão gêmeo do prefeito, dificilmente terá as facilidades que encontrou nos corredores do Palácio dos Bandeirantes ao longo das dezenas de anos em que exerce mandatos legislativos se Haddad vencer a eleição. Com a vitória do candidato bolsonarista, praticamente nada muda. 

E se nada muda para os negócios do clã Chedid, confirmada essa hipótese, nada vai mudar também para Serra Negra, que continuará a passar os dias na pasmaceira de sempre, sem nenhuma perspectiva de dar um salto rumo à modernidade. Seu futuro talvez seja mais um meio século de marasmo...

Esse é o preço que os serranos podem ter de pagar por causa do pragmatismo do prefeito e da sua opção pela barbárie. 

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra


 




Comentários

  1. Motta não se esqueça de algo interessante: Jeus Chedid jamais foi eleito diretamente para os cargo de Prefeito em nosa cidade. Foi indicado pela ditadura como Prefeito Bioônico. Sobre as tais obras grandiosas do pasado, ainda hoje, pagamos por elas através de precatórios.

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  2. Realmente me espantou a decisão do Prefeito, moro em São Paulo, sou turista ai, mas acompanhei um pouco as ações dele, principalmente durante a pandemia, tive a impressão que tentou defender as normas sanitárias corretas, isolamento, vacinas, máscaras...etc e me parece que também a preocupação com os mais necessitados, com a retomada da economia...enfim...parece que tinha , digamos assim, ter escolhido o lado certo da história...enfim........

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