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A experiente e competente jornalista Salete Silva, que trabalhou em alguns dos mais importantes veículos de imprensa do país e hoje edita comigo este Viva! Serra Negra, publicou em sua página pessoal do Facebook um estarrecedor texto, no qual relata a ameaça à sua vida por parte de um bolsonarista.
Em maio de 2019, o saudoso professor Dalmo de Abreu Dallari, talvez o mais ilustre filho de Serra Negra, em entrevista ao Viva! Serra Negra explicou a importância que a cidade teve em sua formação:
"Serra Negra é fundamental em minha história de vida. Lá passei minha infância e fui testemunha e participante de uma convivência fraterna e solidária de pessoas e famílias de diferentes origens e formações. Lá havia remanescentes de antigas famílias brasileiras e havia também muitas famílias de imigrantes italianos. Alguns brasileiros eram herdeiros de pequenas propriedades rurais e havia também famílias italianas que tinham adquirido pequenas propriedades. E todas conviviam pacificamente, em completa harmonia, dando apoio recíproco."
Se estivesse vivo e soubesse do ocorrido com a jornalista Salete Silva, o professor Dalmo Dallari certamente lamentaria que a "convivência fraterna e solidária" que vivenciou em Serra Negra tenha sido substituída, por algumas pessoas, por expressões do mais puro e repugnante ódio.
A diversidade de opiniões é o tempero da democracia. Podemos não concordar com o que diz o outro, podemos combater as ideias do outro, mas quando esse combate passa da retórica para a violência - ou a ameaça de violência - está rompido qualquer traço de civilidade.
Por isso uma ameaça à vida, seja ela de que forma for, é um crime.
Sem mais, transcrevo abaixo a publicação da jornalista Salete Silva, com a esperança de que a sociedade serrana repudie esse tipo de comportamento e reflita sobre o que espera para o futuro da cidade e do país.
AMEAÇA E PERSEGUIÇÃO
Recebi mais uma ameaça pelo Messenger. Pergunto aos eleitores e apoiadores de Bolsonaro, vocês já receberam algo parecido em suas redes sociais? Já lhe disseram que precisam levar porrada até perder o sentido por defender suas ideias?
Jornalista há mais de 30 anos acompanhei e vivenciei todos os momentos importantes da história política do país nesse período, das Diretas Já passando pelo impeachment de Collor à eleição do primeiro presidente trabalhador da história do país ao golpe da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas nunca recebi ameaça semelhante.
Desde a redemocratização do país e o fim da ditadura militar sempre expressei livremente meus pensamentos.
Tenho receio até de colar adesivos em meu carro. Me pergunto, por que eles podem e eu não? Por que não posso colocar a bandeira do Partido dos Trabalhadores na fachada da minha casa sem medo de agressões a mim e a minha família e eles podem? Meu filho me pediu que não o fizesse com receio de represália e preconceitos.
Somos coibidos de exercer nosso direito de cidadania. Não me venham falar de censura a Jovem Pan, reclamar das sanções impostas à disseminação de mentiras nas redes sociais.
Se não abriram seu Messenger, seu WhatsApp ou qualquer conta das suas redes sociais e não encontraram um recado como este, talvez não tenha ficado muito claro ainda que o país passa pelo momento mais violento e de maior risco para a nossa democracia.
É preciso virar essa página da nossa história.
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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico) e editor do Viva! Serra Negra
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