//MEIO AMBIENTE// Voltam as queimadas, volta o debate sobre como combatê-las



Quase 100% das queimadas registradas no município são criminosas, mas o Corpo de Bombeiros e as autoridades policiais locais quase nunca conseguem identificar os criminosos. Como sempre ocorre no período de estiagem que vai até outubro, Serra Negra vem registrando focos de incêndio, que foram tema de discussão dos vereadores.

Embora a Câmara Municipal tenha aprovado mais um requerimento solicitando informações à prefeitura sobre os procedimentos e planejamento da administração municipal para evitar novos incêndios, os vereadores admitiram que a petição enviada ao prefeito Elmir Chedid não deverá surtir efeito, assim como ocorreu em anos anteriores.

“Quantos requerimentos desses, quantas discussões e preocupação nossa? O problema é o povo mesmo, que 'taca' fogo”, disse o vereador Wagner Del Buono. Autora do requerimento, a vereadora Anna Beatriz Scachetti, sugeriu uma campanha de conscientização e solicitou maior apoio da prefeitura ao trabalho das brigadas de incêndio.

A informação de que 99% dos focos de incêndio na cidade são criminosos é do 1º sargento PM Anderson Mieli, que sugeriu, segundo a vereadora, que a brigada de incêndio funcionasse além do horário comercial e também nos fins de semana. “A gente nunca sabe quando vai acontecer um incêndio”, justificou.

O vereador Roberto de Almeida lembrou que a Câmara Municipal, em legislaturas anteriores, chegou a discutir um projeto de lei mais rigoroso para evitar as queimadas, que acabou sendo rejeitado e substituído por outro mais flexível em relação às medidas de prevenção das queimadas.

A dificuldade de combate às queimadas e preservação do meio ambiente de Serra Negra foi atribuída ainda pelo vereador à carência de um Conselho Municipal do Meio Ambiente.

O prefeito Elmir Chedid informou à ativista ambiental Iza Bordotti de Carvalho que a prefeitura estuda a criação do conselho, mas não tem data para o início de seu funcionamento. Chedid, garantiu, no entanto, que será criado até o fim de seu mandato em 2024.

Almeida reivindicou também aumento do efetivo do Corpo de Bombeiros civil e solicitou maior treinamento das brigadas, assim como das pessoas que enfrentam os focos de incêndio, como os proprietários e trabalhadores rurais. O pessoal do campo acaba se arriscando nos incêndios com medo dos prejuízos nas propriedades. Na cidade, comparou o vereador, as pessoas só tiram fotos. Mas nos sítios, os moradores se arriscam para não tomar prejuízo.

O vereador cobrou ainda do Executivo uma forma de cooperação do município de Monte Alegre do Sul, que utiliza os serviços do Corpo de Bombeiros de Serra Negra.

O líder do governo na Câmara, Beraldo Cattini, defendeu a atuação do Executivo, lembrando que a administração municipal adquiriu novas viaturas para o Corpo de Bombeiros, uma das quais para o patrulhamento da zona rural.

Nas redes sociais, a moradora Adriana De Biasi Dorigatti pediu à população para denunciar os responsáveis pelas queimadas. "Vamos colocar a mão na massa e acabar com os incendiários. Denuncie, compartilhe cidadanize!”, disse.

Pior agosto

Serra Negra reflete o cenário nacional em relação às queimadas no Brasil. A Amazônia teve o pior agosto dos últimos 12 anos em número de queimadas. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 33.116 focos de queimadas na Amazônia durante o mês passado.

"Estamos falando de áreas onde, em hipótese nenhuma o fogo devia estar ocorrendo e a gente constata que o fogo é causado por ações certamente criminosas", disse ao G1 o pesquisador do Inpe, Alberto Setzer.

Os 33 mil focos de queimadas em agosto estão acima da média histórica para o mês, que é de 26,3 mil focos. “A gente não está falando daquele manejo do pequeno agricultor, da sua pequena área, do seu roçado ou mesmo do indígena, alguns tipos de manejo que envolvem queimadas controladas. Nós estamos falando aqui de queimadas de grandes áreas que depende de muito recurso, de muito investimento econômico para poder fazer uma devastação como esta”, disse o gerente de florestas do Greenpeace, André Freitas.

O representante do Greenpeace avalia, ainda, que houve um relaxamento na legislação ambiental nos últimos quatro anos. "Todos os sinais emanam de Brasília em relação à permissividade nas leis, às flexibilidades que estão sendo dadas a algumas legislações, das quais algumas ilegais e mesmo ao enfraquecimento dos órgãos ambientais. É esse conjunto todo e também muito apoiado por uma bancada que tem interesses na região, tem levado a esse caos. As pessoas que estão invadindo o bioma, que estão invadindo as áreas públicas, terras indígenas, unidades de conservação, elas estão numa certeza de que lá na frente serão anistiadas pelo governo", salientou.




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