//CARLOS MOTTA// Saúde em crise, praças reformadas e monumentos cafonas



A cidade da saúde está doente. 

Seu único hospital sobrevive à custa de aparelhos, prestes a ser desligados por falta de dinheiro para sua manutenção - R$ 250 mil mensais é o buraco que precisa ser tampado. 

As reclamações dos moradores sobre a longa espera para fazer os necessários exames ou as tão aguardadas cirurgias se acumulam.

Faltam especialistas para atender os moradores. 

Mas o covidário, tão importante para a população na fase aguda da pandemia de covid-19, foi desativado. Se foi, quer dizer que pelo menos estamos livres dessa doença.

Será mesmo?

O que se sabe é que os casos de covid-19 têm crescido na cidade e, pior de tudo, que os governos federal e estadual, de Jair Bolsonaro e Rodrigo Garcia, não estão enviando há um bom tempo um tostão sequer para a área da saúde de Serra Negra. 

A torneira fechou, o município que beba de suas fontes para não morrer de sede.

Sendo assim, como manter o covidário aberto, se aberto ele implica gastos e mais gastos?

Para que bancar esse luxo se a população praticamente normalizou a pandemia, nem dá mais bola a ela?

Em tempo de eleição, e principalmente em eleição na qual o irmão do prefeito concorre ao seu oitavo mandato na Assembleia Legislativa, certas coisas passam a ser prioridade para a administração municipal.

Convenhamos, a saúde nunca esteve bem em Serra Negra.

O hospital é ninho de problemas há décadas, vive de crise em crise, se arrasta como pode.

Reclamações sobre mau atendimento nos postos de saúde, falta de médicos, demora para fazer exames, transporte de pacientes etc etc, sempre existiram.

A verba para a saúde idem, ibidem, sempre foi insuficiente.

E se tantos problemas, acumulados há anos, nunca foram resolvidos, para que se preocupar com eles justo agora, quando a eleição está aí e é preciso reeleger o "deputado da cidade"?

O melhor é fazer de conta que tudo está hoje como sempre esteve, que a prefeitura faz o que pode, que as pessoas reclamam de barriga cheia e que a situação não é tão ruim assim como dizem.

E para alegrar o clima nesta véspera de eleição, que tal construir uma cópia bem cafona da Fontana de Trevi e reformar praças que foram reformadas outro dia desses?

Serra Negra, lembrem-se todos, é uma cidade turística, respira o turismo, vive do turismo, faz tudo pelo turista.

E o turista não vem para cá em busca de problemas ou chateação. Ele quer se divertir, relaxar, ver coisas bonitas, agradáveis, comer e beber do melhor.

O turismo é a fonte de renda da cidade. Quanto mais turistas alegres e satisfeitos o município tiver, mais dinheiro vão deixar por estas terras. 

Sim, mais dinheiro para os donos das lojas, dos bares, dos restaurantes, dos hotéis, das pousadas... 

Porque para os trabalhadores, resta sempre a esperança de que o magérrimo salário dê ao menos para pagar as contas do mês.

Com mais turistas, os cofres públicos também ficam mais cheios.

E com mais dinheiro, a prefeitura vai poder cuidar melhor da cidade, talvez asfaltar o caminho para o Alto da Serra e mesmo construir um mirante lá em cima, fazer mais monumentos, reformar mais praças...

A cidade da saúde está doente?

Bobagem, o remédio é vitamina C e cama, pois amanhã vai ser outro dia e nada melhor que uma boa noite de sono, já que Deus ajuda quem cedo madruga, o trabalho enobrece o homem e a união faz a força.

E, acima de tudo, mais vale uma cópia brega da Fontana di Trevi na mão do que um hospital funcionando.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Valor Econômico e Jornal da Tarde) e editor do Viva! Serra Negra




 


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