//FERNANDO PESCIOTTA// Salário curto, mês longo



São vários os indicadores de que o fim das medidas de proteção contra a covid-19, a alta da inflação, a queda da renda e a precarização do trabalho afetam diretamente as cadeias de produção e as vendas do comércio, mudando perfis de consumo e lógica de vendas que predominaram nos últimos dois anos.

Conforme revela reportagem do jornal O Globo, muitos trabalhadores estão antecipando até 40% do salário para pagar dívidas. Para isso, recorrem a serviços de crédito oferecidos por empresas que cobram taxa para saque, mas abrem mão de juros.

Em algumas dessas empresas, a maioria classificada como fintechs, a demanda por esse tipo de crédito cresceu 200% no primeiro semestre.

Em média, essas operações giram em torno de R$ 2 mil.

Com essa perda de renda, inflação alta e juros elevados mudam o perfil de consumo no Brasil. Itens que bombaram na pandemia estão com as vendas em queda.

Neste ano, até maio, o faturamento da indústria de eletroeletrônicos, por exemplo, caiu 19% em relação ao mesmo período de 2021. Em número de unidades vendidas, a queda é de 24%. Ou seja, essa diferença de números indica que a queda é provocada mais pelos consumidores de menor renda.

No curto prazo, não se vislumbra uma solução. O aumento do nível de emprego que tem sido comemorado pelo governo embute uma precarização que resulta em perda de poder aquisitivo.

Para agravar as condições de acesso ao consumo, a expectativa de economistas é de manutenção das altas taxas de juros, numa reação do Banco Central ao pacote eleitoral do governo. Esses especialistas indicam Selic de 13,75% no final do ano.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com



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