//CARLOS MOTTA// Prezado vereador, os jovens serranos não pedem coisas impossíveis


 

Prezado vereador Beraldo Cattini, líder do governo na Câmara Municipal:

Começo estas mal traçadas dizendo que muito me alegrou o fato de V.Sa. ter citado, na última sessão da Câmara Municipal, o folheto com o resumo das sugestões dos estudantes serranos para melhorar a cidade, que foi enviado também a todos os seus pares e ao sr. prefeito, secretários e autoridades do Poder Judiciário. 

Cabe esclarecer que tais sugestões fazem parte das 93 redações inscritas para o Prêmio Vladimir Kapor de Cidadania, promovido pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari. 

Como integrei a Comissão Organizadora do concurso, coube a mim preparar a sua síntese, resumindo as propostas dos jovens, para que as autoridades locais dos três Poderes pudessem ter uma noção mínima do que eles querem para a sua comunidade.

Dito isso, gostaria de acrescentar algumas questões sobre o seu pronunciamento - se é que o compreendi bem.

V.Sa., creio, sugeriu que houvesse um "debate" entre os jovens serranos. De um lado, aqueles que fizeram as sugestões, as defendendo; do outro, aqueles que são contra as propostas. Dessa forma, em seu entendimento, os jovens poderiam entender melhor as dificuldades que o poder público enfrenta para colocar em prática as propostas.

Não sei se V.Sa. leu integralmente a centena de sugestões do folheto que recebeu.

Se o fez, deve ter notado que não há entre as proposições dos jovens nenhuma que não seja a favor da melhoria da qualidade de vida dos moradores de Serra Negra. Nenhuma.

Assim sendo, acho impossível que haja entre os serranos alguém que não queira o desenvolvimento social, econômico e espiritual de sua cidade.

Afinal, quem não deseja o progresso, o bem-estar de todos?

Acredito que esse é não só o desejo de V.Sa. como o de todos os seus pares.

Quanto à referida dificuldade para o poder público transformar em realidade os desejos dos jovens serranos, tenha certeza V.Sa. que não só eu, como a maioria dos estudantes, está ciente desse fato, pois vivencia isso, passa por dificuldades até maiores que os da prefeitura no seu dia a dia. 

Sabemos que o país atravessa talvez a pior crise da história - uma crise que não afeta apenas a sobrevivência de dezenas de milhões de pessoas, mas uma crise moral, ética, uma crise de valores, uma crise que está transformando o Brasil numa terra de oportunistas e charlatões, de gente que ignora os princípios mais básicos da civilização, que desconhece a solidariedade e vive movida pela ganância.

Sim, tudo está mais difícil hoje para todos. Nesse cenário, o poder público, sabemos, tem demandas terríveis a enfrentar - e não pode atendê-las integralmente.

Os jovens serranos, porém, não pedem coisas impossíveis, caras, luxuosas ou ostentatórias. 

Não pedem monumentos. Pedem escolas, cursos profissionalizantes. Pedem mais emprego, pedem iluminação nas áreas rurais, pedem coleta seletiva de lixo. 

Pedem, veja só V. Sa., um cinema onde possam se divertir, pedem mais locais de entretenimento, pedem passeios pela cidade "explicando pontos históricos", como sugeriu um dos estudantes.

Pedem, por incrível que pareça, museus de arte e históricos. E bibliotecas. E apresentações artísticas em locais públicos.

Não creio, e tenho certeza de que V.Sa. também, que tais sugestões sejam inexequíveis - ou mesmo fora de propósito.

Por fim, e para encerrar esta missiva, peço a V.Sa. e a seus pares que ajudem a educar os nossos jovens no exercício da cidadania, fazendo com que eles se interessem ainda mais pelos problemas da cidade e busquem  soluções para eles, e principalmente, que os ajudem a desenvolver os seus talentos e os façam sonhar ainda mais com uma sociedade justa, menos desigual e fraterna e que dê reais oportunidades para todos.

Eles merecem isso. Eles merecem tudo isso e precisam ser ouvidos.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Valor Econômico e Jornal da Tarde) e editor do Viva! Serra Negra




  

 

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