//CARLOS MOTTA// Prefeitura obriga quem tem "sintomas gripais" a usar máscara



No mesmo dia em que anunciou a desativação do "Covidário", na terça-feira, 30 de agosto, o prefeito Elmir Chedid editou um decreto, de número 5.434, que deve entrar nos anais dos textos mais insólitos produzidos pela mente humana, pela sua absoluta inexequibilidade. Ele simplesmente torna obrigatória "a utilização de máscaras de proteção facial, cobrindo boca e nariz, para todas as pessoas que estiverem com sintomas gripais".

Nesta manhã, ao descer pelo elevador para o térreo do prédio onde moro, tive a companhia de uma funcionária do condomínio. Ela estava mal - cabeça baixa, tossindo...

- O que aconteceu? - perguntei.

- Estou gripada, mais uma vez, é esse frio, esse vento - respondeu.

Eu estava com máscara, ela não. 

Não sabia ainda do tal decreto do prefeito. Se soubesse, o que faria, já que a  dedicada funcionária do condomínio estava desrespeitando essa nova lei de nossa querida Serra Negra?

Iria denunciá-la às autoridades?

E como fazê-lo, já que o decreto não especifica a quem cabe fiscalizar os serranos que porventura estejam gripados?

Ou então, para que faria isso, já o que decreto não estabelece nenhuma punição para quem desobedecê-lo?

Esses dois pontos bastam para mostrar o absurdo do texto.

Mas as razões para a sua existência são compreensíveis. 

Os casos de covid-19 voltaram a aumentar na cidade na última semana. E, pelo que se sabe, sem receber verbas estaduais e federais, a prefeitura está com muita dificuldade para tocar a área da saúde - ao contrário de outras, nas quais, pelo que se vê nas publicações oficiais, sobra dinheiro.

O "Covidário", neste cenário, não foi desativado por falta de pacientes, mas sim por falta de verba para mantê-lo.

Outros setores que meses atrás ajudavam a combater a pandemia, como o da fiscalização das normas sanitárias, também estão às moscas.

No meio de tudo isso, há ainda o imbroglio do Hospital Santa Rosa de Lima, que, segundo alguns vereadores que tiveram acesso à sua contabilidade, vive um caos financeiro de tal monta que será necessário um aporte adicional de cerca de R$ 250 mil mensais por parte da prefeitura para que ele continue funcionando.

Dito isso, voltemos ao decreto. Nele o prefeito pede para a população usar máscaras nos "deslocamentos pelos bens públicos" e nos "lugares privados fechados de atendimento ao público" - ou seja, comércio, serviços etc.

Também obriga o uso de máscaras em locais destinados "à prestação de saúde" (sic) e nos "meios de transporte coletivos de passageiros e respectivos locais de acesso, embarque e desembarque".

Além do prefeito, assinam essa obra-prima do nonsense o chefe de Gabinete, Rodrigo Demattê Angeli, e a secretária de Planejamento e Gestão Estratégica, Valquíria Felipe da Silva.

O nome do secretário de Saúde, Ricardo Minosso, não consta do documento. Ele está, para sua sorte, em gozo de férias. 

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado (ex-Estadão, Valor Econômico e Jornal da Tarde) e editor do Viva! Serra Negra


  

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