//MEIO AMBIENTE// Cidade pode ter perdido investimentos para o Alto da Serra, diz prefeito


A moradora de Serra Negra Iza Bordotti de Carvalho, pós-graduada em recuperação de áreas degradadas e voluntária do Projeto Observando os Rios, da ONG SOS Mata Atlântica, e o prefeito Elmir Chedid conversaram sobre o projeto de asfaltamento da Rua Paulo Marchi, que dá acesso ao Alto da Serra, e sobre a construção de um mirante no local.

O encontro entre a ambientalista e o prefeito ocorreu de forma inesperada, no gabinete do secretário de Obra e Infraestrutura/Meio Ambiente, Carlos Bonásio, na quarta-feira, 27 de julho. Iza foi até lá para conhecer o projeto, conforme orientação do próprio prefeito.

O projeto de asfaltamento da Rua Paulo Marchi já está concluído, embora a prefeitura ainda não tenha recebido os recursos, estimados em R$ 2 milhões, para a execução da obra, nem tenha previsão de quando o dinheiro será repassado ao município. 

A reportagem do Viva! Serra Negra acompanhou a visita da moradora.

Cerca de 20 minutos depois do início da conversa com o secretário, o prefeito Elmir Chedid e seu chefe de Gabinete, Rodrigo Demattê Angeli, apareceram para participar da reunião. 

Chedid demonstrou inicialmente irritação com a presença da moradora e da reportagem: “Você sabe o que penso de você? Você não pensa antes de falar, acho que a gente tem de pensar”, disse à ambientalista, se referindo à conversa que tiveram semanas atrás sobre o assunto, durante um dos eventos do Festival de Inverno.

O prefeito iniciou a conversa lembrando que se preocupa com o meio ambiente da cidade desde sua gestão anterior, em 1998, quando trouxe para o município a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “Nada mais do que a minha obrigação, mas eu fiz, os outros não fizeram”, disse.

A expectativa de Chedid é de que 99% da água das torneiras de Serra Negra sejam tratadas e o mesmo porcentual de esgoto seja coletado e tratado até 2024. “É o maior serviço para o meio ambiente que uma cidade pode fazer”, salientou.

Ao longo da conversa com a ambientalista o clima foi ficando menos tenso e mais amistoso. Elmir disse que respeita a opinião de Iza sobre o Alto da Serra, embora discorde dela. Ele explicou, no entanto, que o local é um ponto turístico que precisa de investimentos e lembrou que já foram dispensadas as licenças da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) solicitadas pelo Ministério Público.

O prefeito lamentou o fato de que a cidade pode ter perdido os prazos para obter os recursos do governo do Estado para as obras no Alto da Serra devido à denúncia à promotoria feita por ambientalistas, que contaram com o apoio de parte da população contrária ao asfaltamento e à construção de um mirante no local.

As denúncias à promotoria teriam retardado o andamento do trabalho da administração municipal para acessar os programas para este ano de repasse de recursos da Secretaria Estadual de Turismo e Viagens, segundo o prefeito. “Talvez nem saia o dinheiro, talvez isso nem saia mais”, disse Chedid.

O prefeito explicou que as maiores dificuldades de realizar os projetos de infraestrutura e de turismo são a falta de tempo e a burocracia na administração municipal. Chedid disse ainda que o aumento de preços, em especial do petróleo, também tem contribuído para tornar inviável o custo das obras.

Asfalto preserva

Na avaliação de Chedid, o asfaltamento vai contribuir para preservar toda a área do Alto da Serra. A prefeitura deixará de passar uma máquina no local a cada 15 dias, algo que, segundo ele, causa impacto ambiental, assim como provoca o escoamento de parte do cascalho na montanha.

Iza ouviu explicações do secretário e do prefeito a respeito do projeto. Bonásio informou que no trecho de 1,2 quilômetro da Rua Paulo Marchi serão instaladas a sinalização conhecida como olho de gato, canaletas e bocas de lobo para que a água não escorra apenas pelos lados.

Em relação ao mirante, a proposta, ainda não transformada em projeto, prevê uma estrutura menor ao que a ambientalista imaginava. Além disso, o prefeito informou que vai usar películas de escurecimento para que as aves não se choquem com os vidros.

“Não queria ser candidato”

Chedid negou que ele ou sua família sejam proprietários ou sócios de empreiteiras especialistas em asfaltamento de ruas. Lembrou que iniciou sua vida profissional no ramo da família, o de transporte coletivo, quando adolescente, lavando ônibus. “O meu ramo é ônibus e também não está aqui”, afirmou. O prefeito informou que a empresa da família na cidade já foi vendida há algum tempo.

O prefeito também negou que seu irmão, o deputado Edmir Chedid, assim como seus outros dois irmãos que atuam na iniciativa privada, sejam empreiteiros. Ele salientou que seu objetivo é fomentar a criação de pequenas empreiteiras na cidade.

Chedid relatou ainda que não sabia que seria candidato à prefeitura de Serra Negra em 2020 e não tinha pretensão de se candidatar. “Meus amigos que pediram nesta última eleição para ser candidato. Já não tinha empresa aqui”, afirmou.

O saldo da conversa com a ambientalista foi avaliado como positivo pelo prefeito. “Foi bom conversar”, afirmou. Iza, no entanto, disse que tem dificuldade de agendar conversas com o prefeito, que atribuiu a falta de tempo para atendê-la aos compromissos de trabalho. Ele disse que entra cedo e sai tarde da prefeitura e que assina mais de 200 documentos por dia. “Tenho de confiar na minha equipe, porque não dá para ler tudo", afirmou.

A ambientalista manifestou mais tranquilidade com relação aos projetos, mas disse que só vai se pronunciar sobre o assunto depois de ouvir os demais ativistas da cidade e estudar melhor o assunto.

A reportagem do Viva! Serra Negra solicitou à assessoria de imprensa da prefeitura cópias dos projetos de asfaltamento e do mirante no Alto da Serra, mas eles não foram enviados à redação até o fechamento desta matéria.


 


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