//FERNANDO PESCIOTTA// McPicanha, Whopper Costela e o carnê atrasado



Por causa do desemprego e da inflação, o endividamento atinge o recorde de 77% das famílias brasileiras, o índice mais alto desde 2010.

É recorrente ouvir do governo o argumento de que a inflação é, nesse momento, um fenômeno global. É uma meia verdade.

As principais economias estão convivendo com uma inflação histórica, mas ainda bem mais baixa do que a brasileira. Além disso, a conjugação de preços altos lá fora se dá com níveis de emprego elevados.

Ou seja, faz algum sentido o Federal Reserve, o banco central dos EUA, elevar os juros básicos (para um terço do que indica o BC do Brasil), pois com o custo do dinheiro mais alto os trabalhadores, todos na ativa, reduzem o consumo e fazem os preços voltarem ao normal.

Aqui no Brasil, elevar os juros básicos para 12,75%, como deve ser anunciado nesta quarta-feira (4), significará ampliar a fome e trazer a ameaça de estagflação, quando a inflação convive com baixa atividade econômica.

Pesquisa do próprio governo indica que o nível de desemprego só ficou estabilizado no primeiro trimestre porque muitos trabalhadores simplesmente desistiram de procurar emprego. É a desesperança.

Ainda assim, ficou estabilizado para além de 11%, o que é uma enormidade.

Como se não bastasse um governo inepto, temos de conviver com falcatruas empresariais – uma coisa ajuda a explicar a outra. O pouco dinheiro que sobra pode ser gasto com sanduíche de picanha sem picanha ou lanche de costela sem costela.

Esse é o nível do empresariado brasileiro. Depois de o McDonald’s reconhecer que o McPicanha não tinha picanha, o Burger King assume que o Whopper Costela não tem costela.

Só para lembrar: o dono do Burger King é Jorge Paulo Lemann, o mesmo dono da Ambev, homem mais rico do Brasil e um dos maiores financiadores das campanhas que levaram o genocida ao poder.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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