//NEGÓCIOS// Por que o turista de maior poder aquisitivo não vem a Serra Negra?

Para Tiago Jardim falta à cidade a infraestrutura turística
essencial para atender às necessidades de um público mais exigente

A crise econômica iniciada anteriormente à pandemia, a queda da renda média do brasileiro e a taxa de desemprego ainda em níveis recordes só aumentam a urgência de atrair para a cidade um público com maior poder aquisitivo, meta perseguida pelo Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Serra Negra há pelo menos quatro anos.

“Não atingimos esse objetivo e ainda estamos longe de atingir”, disse o presidente da Associação Comercial e Industrial de Serra Negra (Acia), Tiago Jardim. “Temos de atrair aquele turista que frequenta Monte Verde, Gramado e Campos do Jordão”, acrescenta.

Jardim considera que os esforços empreendidos pelas lideranças empresariais não surtiram efeito até agora porque ainda falta à cidade a infraestrutura turística essencial para atender às necessidades de um público mais exigente.

O empresário avalia que para atrair o turista que frequenta destinos mais sofisticados é preciso oferecer o mesmo nível de produtos e serviços desses locais. “Se deseja cobrar um preço como Gramado e ter visitantes com tíquete médio similar ao deles tem de ter produtos e serviços compatíveis. Se não temos o mesmo a oferecer, não dá para cobrar o mesmo preço”, comparou.

Na sua avaliação faltam treinamento de pessoal, capacitação, profissionalização do turismo, marketing, divulgação e uma integração das ações entre a rede hoteleira, o comércio, as rotas e o Comtur. Ele explica que a dificuldade é conciliar os interesses de todos os segmentos.

As lideranças da rede hoteleira defendem o que mais interessante para eles, o produtor rural tem a visão do que primordial para a sua rota turística e o comércio quer que o turista compre em sua loja. “Falta uma visão coletiva”, salienta.

Falta diferencial

Jardim não poupa o comércio. Ele atribui as dificuldades enfrentadas pelos lojistas à falta de um produto diferenciado e com a marca de Serra Negra para atrair os visitantes. Ele explica que o turista compra ou por necessidade ou por desejo.

O empresário avalia que o consumidor faz pesquisas de preços e avalia o custo benefício para comprar produtos essenciais pelo menor preço. Já o consumidor movido pelo desejo cria a necessidade e exige qualidade independentemente do custo.

Ele lembrou que Serra Negra oferecia produtos diferenciados aos clientes quando tinha ao menos quatro cadeias industriais mais estruturadas: malha, couro, artesanato e alimentos. O turista vinha a Serra Negra com o desejo do consumidor de comprar produtos só oferecidos na cidade.

A atual situação reflete também o cenário nacional. A fatia da indústria no Produto Interno Bruto caiu de 27,4% para 20,5% entre 2010 e 2020. No ano passado, a situação piorou e o PIB industrial estava 14% abaixo do de 2014. O país não tem política de desenvolvimento industrial. Os dados são do Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Serra Negra perdeu alguns produtos que eram exclusivos e que caracterizavam a cidade como comércio turístico”, afirma. 

Na opinião de Jardim, o consumidor encontra na internet o mesmo oferecido em Serra Negra. Com as facilidades virtuais não precisa se locomover até o centro de São Paulo para adquirir os produtos e também não precisa mais vir a Serra Negra para isso.

Jardim aponta que a saída é resgatar a indústria. Na sua avaliação, as lojas com menor dificuldade financeira na cidade são as que oferecem mercadorias diferenciadas, exclusivas ou as que ainda fabricam pelo menos parte de seus produtos.

Para o empresário, o foco tem de ser na exclusividade e Serra Negra tem de voltar a ter cadeias produtivas. “O que acaba prejudicando o nosso comércio é a falta de característica, de identidade em relação ao produto", constata. 



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