//NEGÓCIOS// Começo do ano tem sido péssimo para a economia da cidade



A atividade econômica de Serra Negra neste início de 2022 registrou o pior desempenho dos últimos anos, segundo relatos de empresários e representantes do comércio, restaurantes, bares, lanchonetes e da rede hoteleira do município.

O aumento de contaminação pela covid-19, o volume de chuvas acima da média e em especial a queda da renda dos brasileiros reduziram o movimento de turistas durante o período de férias de verão.

Esses fatores, além das incertezas em relação à economia do país, avaliam os empresários serranos, podem afetar também os melhores períodos para a economia de Serra Negra, como os feriados, entre os quais o da Semana Santa, e a temporada de inverno.

A explosão de casos de contaminação pela nova variante ômicron e as chuvas provocaram o cancelamento de reservas em pousadas e hotéis no mês passado e início de fevereiro. As incertezas estão levando a cancelamentos até de reservas previstas para o mês de junho. 

A maior parte dos cancelamentos foi realizada por grupos de turistas, explica a empresária Cibele Dib, presidente da Associação Hotéis Restaurantes e Similares de Serra Negra (Ashores).

“Grupos de turistas cancelaram as reservas porque muitas pessoas se contaminaram e algumas estavam internadas. Nesses casos não temos nem como remarcar”, afirmou.

Hotéis e pousadas também registraram cancelamento de reservas por parte de turistas que pretendiam realizar ecoturismo e turismo rural. As chuvas impediram a realização desses passeios.

Em anos anteriores, nessa época, hotéis e pousadas já tinham reservas não só para os feriados do Carnaval e da Semana Santa como também para o mês de junho. Indefinições ainda em relação às datas desses dois feriados também dificultam o fechamento de pacotes e de reservas.

Cibele avalia que o movimento no turismo foi afetado também pela queda do poder aquisitivo do brasileiro e pelas expectativas de aprofundamento da crise econômica ao longo de 2022. 

A empresária acredita que os consumidores e turistas estariam economizando e evitando gastos devido à falta de perspectiva de retomada da economia.

Comércio aguarda o outono

O cancelamento das reservas e a queda do movimento de turistas em janeiro e início de fevereiro se refletem no comércio, informa o presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola (Acia) de Serra Negra, Tiago Jardim.

“A situação do comércio é parecida com a dos hotéis, até porque a falta de hóspedes reflete diretamente no comércio, que na maioria dos casos depende do turismo”, explica.

Entre a segunda quinzena de janeiro e o início do mês de fevereiro, Jardim avalia que as vendas caíram de forma considerável. Cibele e Jardim preveem um possível aquecimento da economia só a partir do fim de março ou início de abril. Muitos empresários da rede hoteleira têm preferido dar férias a boa parte dos funcionários ainda este mês. 

“A expectativa é que melhore com a chegada do outono [20 de março], quando acreditamos que Serra Negra será um bom destino para o turista neste tempo de crise, por estar próximo da capital e ter um custo mais baixo que outros destinos”, afirma Jardim.

Muitas incertezas

O ex-vereador Ricardo Fioravanti, empresário do comércio e da rede hoteleira, registrou em sua pousada cancelamentos devido à covid-19 e às chuvas. 

“As reportagens e vídeos sobre as chuvas às vezes até de cidades em que as enchentes foram muito piores do que em Serra Negra assustam os turistas que acham que a situação aqui também é de periculosidade”, explica.

Pandemia e chuvas já prejudicaram o faturamento das férias de verão mesmo que haja alguma melhora no movimento na segunda quinzena de fevereiro.

“Muitos lojistas ficaram dias sem abrir o caixa ao longo do mês de janeiro”, revela Fioravanti. A situação mais difícil, ele analisa, é a dos comerciantes que pagam aluguel.

Esses lojistas, que praticamente não venderam durante a semana, diz Fioravanti, aguardam os sábados e domingos na expectativa de em dois dias vender o que deixaram de vender em cinco dias para poder quitar dívidas, em especial impostos como IPTU, ICMS e ISS.

O empresário destaca também que este ano, o turismo da cidade não vai poder contar com o mesmo movimento de anos anteriores no Carnaval. Nesta época do ano, pelo menos metade das reservas para o feriado já estava garantida.

Este ano há muitas incertezas. “A data está mantida, mas não haverá festividades que podem ocorrer em abril. Muitas pessoas nem ligam para fazer as reservas porque ficam esperando definições ou porque o feriado será no fim do mês”, afirma.

As indefinições fazem com que a rede hoteleira adie contratações de mão de obra extra para os feriados e as encomendas de alimentos no caso dos hotéis e pousadas que servem refeições. O empresário compara este ano com o início da pandemia em 2020.

“Na pandemia sabíamos que estava fechado, mas é horrível trabalhar com a incerteza”, diz. A falta de expectativa, ele avalia, pode comprometer também as vendas e as reservas de inverno. O empresário também constatou a retração dos turistas devido à queda da renda.

“Além da covid-19 e das chuvas, estou vendo que o pessoal está mais pessimista, quer segurar gastos, não sabe como vai ser porque é ano eleitoral, não sabe como vai ficar a economia”, afirma.

A única notícia boa vem da indústria de malhas, que utiliza as previsões meteorológicas para produzir a coleção. As fábricas de Monte Sião, Fioravanti informa, estão prevendo um inverno menos intenso, mas mais longo. Isso, o empresário conclui, é o que os serranos necessitam para que haja movimento na cidade do mês de maio até agosto.

Economia desequilibrada

O presidente da Associação Comércio Forte, Rafael Accorsi, manifestou preocupação maior com os fatores macroeconômicos do país que afetam a economia local do que com os fatores pontuais, como pandemia e a covid-19.

“Estou preocupado com o futuro”, afirma. “Com a falta de investimento em projetos e na atividade econômica da vida real, o povo sofre”, salienta. 

O empresário avalia que a economia do país está funcionando de maneira desequilibrada com desempenho melhor em apenas alguns setores.

“Alguns segmentos tiveram alguma melhora, mas é a menor parte. Se dermos a sorte de conseguirmos atender essas pessoas que não serão tão afetadas pela crise, teremos alguma chance”, prevê.

Accorsi avalia que ainda é preciso aperfeiçoar o turismo serrano para que se destaque entre os destinos nacionais.

“Vejo os esforços da comunidade, mas esbarramos em vários fatores enquanto destino. Espero que a gente consiga mais resultados advindos dos esforços coletivos. Acompanhei de perto a movimentação e sei o quanto é difícil coordenar projetos, ideias e pessoas”, concluiu.




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