//SALETE SILVA// Casos de covid-19 explodem em Serra Negra, com ajuda de negacionistas e "fake news"



Os casos de covid-19 explodiram em Serra Negra junto com o aumento da ocorrência de gripe. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada no bairro Alto das Palmeiras, conhecida por "Covidário", destinada a pacientes que apresentem sintomas gripais ou sintomas compatíveis com suspeita de covid-19, já atingiu o limite de sua capacidade de atendimento.

A assessoria de imprensa da prefeitura confirma o aumento de demanda por atendimentos na última quinzena. A recomendação é que as pessoas com sintomas gripais ou de covid-19 procurem, além do “Covidário”, as demais Unidades Básicas de Saúde do município ou o Pronto Socorro do Hospital Santa Rosa de Lima.

A pandemia começa a se agravar no país e também em Serra Negra não só devido à disseminação da ômicron, variante com maior capacidade de propagação, mas também como consequência das festas de fim de ano e da ausência de vacinação da segunda dose e de reforço.

O secretário de Saúde, Ricardo Minosso, já havia alertado na semana passada para o atraso considerável de vacinados que não retornaram para receber a segunda ou a terceira dose. 

Depois de quase dois meses sem internação por covid-19, Serra Negra registrou esta semana um caso de paciente suspeito de ter contraído a doença internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Esse paciente tem 77 anos, tomou as duas doses da vacina, mas não retornou para receber a dose de reforço.

Fake news

O negacionismo tem contagiado parte dos cidadãos serranos que têm protelado a vacinação da segunda e também terceira dose.

Nas redes sociais e nas rodas de conversas do município, os argumentos são negacionistas e baseados em "fake news" e desinformação disseminada em especial por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que continua relativizando a importância da vacina no combate à pandemia, além de promover aglomerações.

“Não vou tomar a terceira dose porque ela está provocando a morte das pessoas”, afirmou um funcionário de supermercado. Outros começam a duvidar da eficiência da vacina argumentando que se duas doses não funcionam não adianta tomar mais doses.

Outro argumento frequente é que na terceira dose os serranos vacinados estão apresentando sintomas mais graves, fato não confirmado pela Secretaria de Saúde. 

Ao contrário, não houve reação entre a maior parte dos vacinados com a terceira dose. Os que registraram reação foram sintomas leves que desapareceram alguns dias depois.

Começam a circular na cidade também fake news a respeito da vacinação entre crianças. Um dos vídeos compartilhados entre mães serranas é do virologista norte-americano Robert Malone.

Ele afirma que as vacinas de RNA mensageiro contra a covid-19, como as da Pfizer, produzem substâncias tóxicas no corpo de crianças. A informação é falsa e já foi amplamente desmentida, mas os serranos continuam compartilhando a desinformação. 

Levantamentos realizados no mundo inteiro e em especial em países europeus que já passaram pela quarta onda da pandemia revelam que a maior parte dos internados e de óbitos são de pacientes que não tomaram a vacina.

A revista científica The Lancet divulgou em novembro de 2021 estudo que comprova o fortalecimento significativo da imunidade de pessoas vacinadas com a dose de reforço da vacina da covid-19.

O aumento da imunidade impede o agravamento da doença, evitando internações e uma nova onda. O estudo revela que a vacina da Pfizer, disponível em Serra Negra para a dose de reforço, apresentou aumento de 25 vezes no nível de anticorpos de pacientes que receberam a AstraZeneca na primeira e segunda doses.

Apesar da capilaridade do Sistema Único de Saúde (SUS) e da cultura de vacinação enraizada entre os brasileiros graças às campanhas de vacinação estimuladas pelos governos anteriores durante décadas, o Brasil é apenas o 12º no ranking da América Latina entre os países que mais vacinaram contra a covid-19.

O Chile é o campeão de vacinação na região, com 85,6% da população completamente imunizada. Até as crianças chilenas a partir de 3 anos já estão sendo imunizadas. O Brasil, com apenas 65,7% da população vacinada com as duas doses, está atrás do Uruguai (76,6%), Argentina (76,5%) e Equador (69,1%), entre outros.

A parcela da população serrana que rejeita a vacina ainda tem como fonte de informação as redes sociais do presidente Jair Bolsonaro e os compartilhamentos feitos por meio do  WhatsApp com o objetivo de espalhar mentiras, confundir a população e servir a um governo que até agora tratou vidas humanas como descartáveis. 

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Salete Silva é jornalista profissional diplomada, ex-Gazeta Mercantil e Estadão, e editora do Viva! Serra Negra.




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