//CARLOS MOTTA// A pandemia mostra a sua força. Serra Negra vai enfrentá-la?

A média de casos diários de covid-19 neste início de ano em Serra Negra está igual à do mês de maio do ano passado: a cidade registrou diariamente, de 31 de dezembro a 5 de janeiro, 11,6 novos pacientes infectados com o novo coronavírus. Maio de 2021 foi o segundo pior mês da pandemia na cidade. Só perdeu para junho, quando a média diária de casos foi de 20,2. 

Os números são oficiais, do boletim publicado todos os dias pela prefeitura. Nas redes sociais, o Executivo local parece ter sentido o golpe desse aumento súbito de casos de covid-19: duas publicações na página da prefeitura no Facebook informam que o número de atendimentos no "Covidário" aumentou, nos últimos dias, 250%, e no Pronto Socorro Municipal, 50%.

São números alarmantes, que indicam que Serra Negra está sendo vítima de mais uma onda da pandemia, certamente agora provocada pela variante ômicron, que se espalha com uma rapidez jamais vista. 

Há ainda o complicador da epidemia de influenza, que dificulta o diagnóstico das afecções respiratórias: como os testes são coisa rara, fica difícil determinar se a pessoa tem covid-19 ou gripe.

A pandemia está voltando a ficar fora de controle em toda a região. A prefeitura de Amparo deve editar decreto com uma série de restrições ao funcionamento do comércio e outras atividades.

Em Serra Negra, pelo menos até agora, não há notícia de que seja feito algo semelhante. 

Até outro dia, as publicações da prefeitura em suas redes sociais eram apenas para louvar as festividades que organizou no fim do ano. Vários vídeos foram feitos com esse objetivo.

Na contramão, não foram poucos os munícipes que culparam essas festas pelo aumento de casos de covid-19. 

A argumentação tem lógica: os desfiles natalinos levaram uma multidão ao centro da cidade, que ficou por vários dias com bares e restaurantes lotados. 

Muitos turistas vieram à cidade para passar Natal e réveillon com amigos e familiares. 

Muitos devem ter trazido o coronavírus junto.

Felizmente, 81% da população de Serra Negra tomou as duas doses ou a dose única das vacinas contra a covid-19 - e portanto, está protegida contras as forma mais graves da doença.

Infelizmente, apenas 23% recebeu a terceira dose, que pode praticamente evitar as mortes.

Seja qual for a causa dessa enxurrada de casos, o que importa agora é evitar o pior. E o pior é lotar postos de saúde e hospitais, sobrecarregar o serviço público de saúde e estafar os profissionais da área. 

E a prefeitura deveria colaborar para isso, fiscalizando com seriedade o cumprimento das normais sanitárias que ela própria impôs. 

Porque senão vai ficar valendo na cidade a frase pela qual o ex-jogador corintiano e da seleção brasileira Vampeta ficou famoso, em sua passagem sem brilho pelo Flamengo. Sem papas na língua ou hipocrisia, Vampeta justificou assim suas pífias atuações pelo rubro-negro carioca: "Eles fingiam que me pagavam e eu fingia que jogava."

No caso, a prefeitura serrana precisa parar de fingir que toma medidas reais contra a pandemia e a população, igualmente, precisa parar de fingir que as cumpre.

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Carlos Motta é jornalista profissional diplomado, ex-Estadão, Jornal da Tarde e Valor Econômico, e editor do site Viva Serra Negra.