//CIDADE// Concha acústica deve dar lugar a fontanário com espelho d'água

A concha acústica, na Rua Antônio Jorge José: fechada desde antes da pandemia 


Serra Negra deverá receber até o fim deste ano cerca de R$ 1,1 milhão do governo do Estado de São Paulo, repassados para investimentos na área do turismo pelo Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos (Dadetur).

Os recursos serão aplicados nas obras de revitalização da Praça Sesquicentenário e em um projeto, ainda em preparação, para reforma da área localizada atrás da sede da prefeitura, na Rua Antônio Jorge José, onde se encontra a concha acústica, que está fechada ao público, e é conhecida como “Coliseu”.

A proposta de destinar parte de recursos para revitalizar o local foi aprovada às pressas na última reunião ordinária do Conselho Municipal de Turismo (Comtur), dia 16 de novembro.

Mesmo sem um projeto com maiores detalhes de como aquela área será revitalizada, o Comtur aprovou a ideia com urgência para não deixar de receber os recursos, que devem ser liberados pelo governo do Estado para mais de 200 municípios do interior de São Paulo ainda em 2021, véspera de ano eleitoral.

“Temos de aprovar rapidamente, porque recebemos na quarta-feira [9 de novembro] uma ligação da Secretaria de Turismo falando desses valores. Até assustei”, disse o secretário de Obras e Infraestrutura e de Meio Ambiente, Carlos Bonásio. “Uma parte da verba já tinha saído para a Praça Sesquicentenário e até o fim do mês temos de informar o destino da outra parte”, explicou.

O secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, Carlos Tavares, afirmou que a escolha da concha acústica pelos técnicos da prefeitura foi feita com base no projeto de renovação do Plano Diretor do município, em andamento.

A obra prioritária recomendada pelo Plano Diretor para receber os investimentos, no entanto, seria a revitalização do Casco de Ouro. Mas o volume de recursos que deve ser liberado pelo Dadetur seria insuficiente para ela.

A recuperação da área da concha acústica, o secretário informou, se enquadra nos investimentos em infraestrutura de logradouros, previstos também no projeto de Plano Diretor.

O secretário de Obras e Infraestrutura informou que a intenção do projeto é que o local ganhe visibilidade e passe para o turista a mensagem da relação de Serra Negra com as fontes de água mineral.

O secretário argumentou ainda que o local vem sendo utilizado para ações ilícitas, como o comércio de drogas. “Hoje, o que era para ser um ponto turístico se transformou em ponto de drogas e um local de encontro de pessoas que querem praticar a prostituição”, afirmou.

O convênio com o Dadetur exige que a prefeitura apresente o objeto do convênio, ou seja a proposta, a ser firmado para o repasse de verbas.

Depois de o objeto aprovado pelo Comtur, a prefeitura desenvolve um projeto, explicando detalhadamente como será usada a verba repassada. O Dadetur analisa e se aprovar assina o convênio com a prefeitura.

O secretário de Obras e Infraestrutura informou que se aprovado, o projeto será elaborado por empresa contratada por meio de licitação e as obras devem ter início no primeiro trimestre de 2022.

Embora os secretários de Obras e de Turismo tenham negado que o projeto necessite de aprovação dos vereadores, o presidente da Câmara Municipal, César Augusto Borboni, informou que todos os projetos que recebem verba do Dadetur têm de necessariamente serem aprovados pelo Legislativo.

A toque de caixa

A aprovação do projeto às pressas pelo Comtur impossibilitou debates entre os seus integrantes sobre a importância da revitalização do local para os moradores e para Serra Negra e sobre o impacto ambiental e urbano da obra.

O presidente do Comtur, Achiles Mantovani Neto, apoiou a sugestão da prefeitura e defendeu sua aprovação pelos integrantes. “Acho que Serra Negra é uma estância de água mineral, mas não tem uma fonte aberta e de boa qualidade e boa apresentação para os turistas. Sabemos que não tem projeto claro, mas a ideia é boa e o resto dessa verba será aplicada na Sesquicentenário”, afirmou.

A arquiteta Andreia Saragiotto, integrante do Comtur, lembrou, por exemplo, que aquela área já sofreu um deslizamento de terra, que tornou sua encosta instável e sujeita a novos deslizamentos. “Aquela área que tem a entrada da montanha foi causada por um deslizamento no passado”, lembrou. 

A arquiteta também chamou a atenção para o bolsão de estacionamento existente ali. A falta de vagas para estacionar os carros é um dos principais problemas do trânsito em Serra Negra. Andreia explicou que sem aquele bolsão o problema de falta de estacionamento se agrava na cidade.

Por outro lado, muitas vans de turistas estacionam por ali e o estacionamento tiraria a visibilidade da fonte, que é o principal objetivo do projeto. A arquiteta e outros participantes solicitaram que os próximos objetos de recursos do Dadetur propostos pela prefeitura tenham um prazo maior para a discussão.

Detalhes na ata 

A ata publicada na edição de 22 de novembro do Diário Oficial do município, detalha vários pontos do projeto que não foram apresentados na reunião do conselho. O documento informa que o projeto prevê a criação de um fontanário temático com espelho d’água e cita intensa análise e estudo socioeconômico e de impacto ambiental, não apresentados aos integrantes do Comtur na reunião.

“Como formará um conjunto eclético de opções ao visitante formado por parque gastronômico, local de apresentação de atividades culturais como shows, exposições e festas, concorrerá para aumentar a taxa de empregabilidade do município, auxiliando no desenvolvimento econômico e turístico da cidade, com um maior movimento nos hotéis e comércio local”, diz, sobre a obra, a ata da reunião.

Em relação ao impacto ambiental, o documento informa que o objetivo é “minimizar os impactos negativos ao meio ambiente, transformando a obra em uma ação que promova a sustentabilidade nas três dimensões econômica, social e ambiental e assim contribuir de forma real com a implantação dos ODS do plano de ação da agenda 2030 da ONU, valorizando o uso e a conservação da água”.

O Viva! Serra Negra procurou as autoridades responsáveis para falar sobre o projeto. 

O presidente do Comtur pediu para a reportagem conversar com o secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico, que por sua vez solicitou que fosse consultado o secretário de Obras e Infraestrutura, que não deu retorno à reportagem, assim como a assessoria de imprensa da prefeitura, para a qual foi enviada uma série de perguntas sobre o assunto. 



Comentários