//POLÍTICA// Serra Negra fica fora do 7 de Setembro que divide o país

 


Quase 200 anos depois do grito da Independência que marcou a separação política entre Brasil e Portugal, a vida da maioria dos brasileiros, em especial dos que se encontram abaixo da linha da pobreza, não mudou muita coisa nem tampouco a condução do país, que continua nas mãos de uma pequena parcela da elite econômica e cada vez mais entregue aos grandes conglomerados econômicos internacionais.

O dia 7 de Setembro e a comemoração da data que deverá ser marcada por manifestações de apoio ao presidente e por atos convocados pelo Grito dos Excluídos e por movimentos sociais contra a carestia, o desemprego e pelo "fora, Bolsonaro" foi o tema do programa Serra Negra na Roda desta quinta-feira, 2 de setembro.

Participaram do debate o professor Felipe Pereira, que leciona na rede privada e é graduado e mestre pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e a professora de história da rede de ensino estadual de Serra Negra, Érica Pilom, presidente do diretório do PSOL de Serra Negra.

"A independência não modificou a vida da maioria da população, que continua impedida de exercer os seus direitos”, afirmou Érica. Ela explica que essa é uma das consequências de o grito ter ocorrido a partir de um “acordão” entre a elite econômica da época e não por meio de lutas populares.

A separação política entre Brasil e Portugal da forma como ocorreu não trouxe independência ao país, concorda Pereira. “Temos de olhar para isso de forma reflexiva e pensar neste dia 7 de Setembro, como um dia que não acabou”, afirmou. “Trouxe uma independência que nos deixou dependentes de uma elite que até hoje é forte no Congresso, dependente de uma sociedade excludente onde uma parcela é excluída das oportunidades”, acrescentou.

A expectativa dos professores é que milhares de brasileiros devem sair às ruas na semana que vem, seja para apoiar o presidente Jair Bolsonaro ou para protestar contra seu governo, no qual a crise econômica não só se agravou, com o aumento do desemprego, da pobreza e da carestia, como foi marcado por quase 600 mil óbitos, boa parte deles atribuída ao descaso do governo em relação à pandemia de covid-19.

Pereira atribui as manifestações em apoio a Bolsonaro ao que chama de fetiche da classe média. “O fetiche da classe média é pensar que faz parte da elite e o governo Bolsonaro trabalha muito bem esse fetiche”, afirma.

A classe média, explica o professor, embora seja explorada e enganada, considera que suas conquistas são frutos do seu próprio merecimento. “Essa parcela de brasileiros apoia esse governo porque acredita que é meritocrata e que os excluídos estão nessa situação de exclusão por culpa deles”. Bolsonaro, na sua avaliação, conseguiu canalizar a seu favor esse pensamento e vai levar milhares de pessoas às ruas pedindo liberdade.

Érica também prevê a manifestação de milhares de pessoas em apoio a Bolsonaro, mas prevê também que outros milhares devem ocupar as ruas contra o presidente. Esse movimento será encampado em especial pelo “Grito dos Excluídos” que desde a década de 1990 utiliza o Dia 7 de Setembro para manifestar suas reivindicações de inclusão da população marginalizada.

“Esse grupo, que faz esse contraponto denunciando as injustiças sociais, vai participar dessa luta por trabalho e renda e com a campanha "fora Bolsonaro".

Serra Negra não terá manifestação. O grupo de cidadãos que pretendiam se manifestar contra a carestia, o desemprego e pelo "fora, Bolsonaro" desistiu do ato na cidade porque foi impedido pela prefeitura de usar o espaço público para divulgar faixas e de colocar um outdoor pela empresa prestadora do serviço. O argumento utilizado por ambas as partes é que o tema da faixa e do outdoor era político.

“Quando informei o tema do outdoor disseram que não fazem propaganda política. Expliquei que não era propaganda, mas sim manifestação”, salientou Érica. A resposta da prefeitura ao grupo que pretendia colocar uma faixa em uma das praças do município foi a de que a “livre manifestação é permitida, mas não colocar esse tipo de faixa em local público”.

O grupo desistiu de fazer caminhada pelas ruas da cidade para evitar atritos com apoiadores de Bolsonaro. Desistiu também de realizar carreata devido ao preço do combustível. "As pessoas estão tendo de escolher entre usar a energia elétrica, comprar comida e andar de carro", afirmou Érica.

Assista a seguir a íntegra do programa:



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