//OPINIÃO// Centro de Convenções: quem está interessado?



Carlos Motta


O Centro de Convenções do Circuito das Águas é o maior patrimônio físico de Serra Negra. Os moradores da cidade já se acostumaram com a monumental construção e talvez por isso não dão a ela a devida importância. Também pesa contra a sua valorização o fato de que há muitos anos o Centro de Convenções vem sendo subutilizado - para não dizer outra coisa.

Não há no interior paulista nada que se compare a ele. Achar algo similar no Brasil também é difícil. Nenhuma prefeitura do país, com exceção de algumas capitais, teria condições de construir algo tão imponente e funcional.

Para quem não sabe, o Centro de Convenções serve não só para o que seu nome sugere, ou seja, para abrigar convenções e eventos similares. Há nele um enorme teatro, com cerca de 1.100 lugares, um auditório menor, onde já funcionou um cinema, inúmeras salas que podem ser usadas para o que se queira - a Câmara Municipal ocupa um desses espaços -, um enorme vão coberto e um igualmente imenso estacionamento. 

Ah, nele funciona ainda um balneário, com equipamentos novíssimos, cuja exploração comercial foi cedida pela prefeitura a um particular por cinco anos, pela modestíssima quantia de R$ 1 mil mensais - R$ 60 mil no total. Uma pechincha extraordinária.

Para resumir, pode-se dizer, sem nenhum medo de errar que Serra Negra tem motivos de sobra para se orgulhar do seu Centro de Convenções. 

Pena que ele tenha sido tão maltratado pelos prefeitos da cidade nos últimos anos.

A atual administração municipal tem planos para o local. Pretende transferir para lá secretarias e o Gabinete do Prefeito. Dessa forma aliviará os cofres públicos do pagamento de aluguéis de imóveis. E deixará a enorme construção mais povoada.

Além disso está à procura de interessados em explorar comercialmente o local, por meio de uma concessão. Paralelamente, busca empresários ou órgãos públicos que queiram promover ali eventos, feiras e seminários.

A passagem relâmpago do governador João Doria pela cidade na última semana, além do marketing político - ele é pré-candidato à presidência e seu vice é pré-candidato ao governo do Estado -, também serviu para a prefeitura "vender" o Centro de Convenções às autoridades paulistas.

Doria, como todos sabem, esteve ligado profissionalmente a vida toda à área de eventos. Como governador pode ter largado os negócios diretamente, mas é óbvio que conhece o valor de um imóvel como o Centro de Convenções serrano. Tanto ele quanto seus auxiliares.

Também é óbvio que ele pode arranjar, num estalar de dedos, "investidores" para o Centro de Convenções.

O que fica no ar, porém, é se a vinda desses "investidores" é a melhor solução para revitalizar o monumental e hoje quase vazio imóvel.

Conceder o uso desse espaço para uma empresa pode ser a maneira mais fácil para a prefeitura "lucrar" com ele e se livrar da tarefa de administrá-lo. 

Conceder o seu uso à iniciativa privada traz, porém, alguns problemas:

1) Qual valor e que prazo seriam os mais adequados?

2) Quem vai fiscalizar o cumprimento do que foi acordado na concessão?

3) Quem vai coibir a cobrança de preços abusivos de ingressos nos eventos e de outros serviços, como o estacionamento de veículos?

4) Quem vai fiscalizar os serviços de manutenção do imóvel?

5) A população vai continuar a poder usar o local quando ele estiver fechado, como faz hoje, por exemplo, aos domingos, quando dezenas de jovens usam a área do estacionamento para se socializar?

Há, claro, várias outras questões a serem consideradas. 

Uma das mais importantes diz respeito à receita que o município teria ao passar a exploração do Centro de Convenções a particulares - será que ela seria maior do que se a própria prefeitura administrasse o local?

De uns tempos para cá privatizar virou moda no Brasil. Nem sempre, porém, a privatização deu certo. A crença de que a iniciativa privada é mais eficiente do que o Estado na gestão empresarial é exatamente isso, uma crença. Se a iniciativa privada fosse tão eficiente não haveria no Brasil as centenas de milhares de empresários falidos que apontam as estatísticas.

Entregar o Centro de Convenções para particulares pode ser um péssimo negócio para a cidade. 

Uma decisão dessas merece uma análise muito aprofundada, um debate que deve extrapolar as paredes do Paço Municipal. 

O que têm a dizer os nobres vereadores serranos sobre o assunto?

E, principalmente, o que tem a dizer a população serrana sobre um negócio que pode interessar a algumas pessoas e desagradar uma maioria?




 

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