//CULTURA// Livro vai mostrar as capelas centenárias que guardam parte da história de Serra Negra


Capela Nossa Senhora de Caravaggio, no Bairro dos Fróes: construída em 1897


Depois de mais de um século, a Capela Nossa Senhora de Caravaggio, construída no Bairro dos Fróes, na zona rural de Serra Negra, em homenagem à Nossa Senhora que teria aparecido em Caravaggio, na Itália, no século XIV, ainda está de pé.

Apesar do abandono, das paredes rachadas, da estrutura deteriorada pelos 124 anos e de ser conhecida pelos moradores das imediações como Capela dos Anjos, a inscrição em italiano com o nome da santa na sua fachada não deixa dúvida.

O singelo santuário encontrado em abril deste ano por um grupo de serranos dedicado à preservação da história foi construído em 1897 pelo descendente de italianos Pascoal Fedel.

A construção, abandonada, guarda muitas histórias

Sem portas, com apenas um portão de madeira na entrada, a capela acabou sendo chamada de Capela dos Anjos pelos moradores do bairro, que enterravam crianças e recém-nascidos que morriam no local.

Os mais antigos contavam que as mães temiam que as crianças e bebês enterrados chorassem se fosse instalada uma porta na entrada da capela. Havia até quem dizia ouvir o choro das crianças. 

Essa história da Capela Nossa Senhora de Caravaggio é uma das 57 que serão contadas no livro sobre as capelas de Serra Negra, que será lançado até o fim do ano por um grupo de serranos dedicado à preservação da história da cidade, com o apoio da prefeitura.

Dentro, vestígios de quando estava aberta

“Quando encontramos essa capela materialmente foi uma emoção muito grande”, relata a doutora em Ciências Sociais, Maria Inez Masaro, a primeira serrana a estudar a história das capelas do município.

O interesse começou em 2014, quando Maria Inez estava escrevendo um livro sobre a Matriz Nossa Senhora do Rosário, a pedido do pároco, que pretendia comemorar os 100 anos de sua construção contando a história da igreja.

As capelas do município estavam citadas no livro tombo, uma espécie de diário da diocese, onde são documentados os atos e fatos importantes de valor histórico, além de acontecimentos de relevância para a igreja.

“A Capela de Caravaggio foi citada no livro tombo datado de 1914, embora tenha sido construída em 1897”, relata Maria Inez. 

Devota de Nossa Senhora de Caravaggio, que no Brasil tem seu maior santuário na cidade de Farroupilha, Rio Grande do Sul, Maria Inez se interessou inicialmente pela história dessa capela.

“Foi uma das que comecei a procurar mais cedo e foi uma das últimas que conseguimos encontrar”, relata. A ideia de catalogar e fotografar as capelas conquistou a adesão de um grupo de serranos interessados em preservar a história do município.

Maria Inez: próximo passo é restaurar

“A Ângela Amoroso já saía comigo para fazer as fotos e levantar as informações sobre a matriz. Percebemos que o trabalho sobre as capelas não poderia ser de dupla nem individual. Precisaria ser de um grupo, porque era um trabalho extenso. Fomos agregando pessoas que tinham o mesmo olhar sobre aqueles espaços”, explicou.

Foi assim que a partir de 2016 Maria Inez, começou a receber ajuda da restauradora Vânia Machado, da professora Benedita Gomes Rosa, do professor de filosofia e história André Couto Canhassi, da historiadora Fátima Fiorini Pedrotti Partiti e do administrador Nestor Souza Leme.

A pesquisa realizada pelo grupo resultou nas histórias e relatos de pelo menos 57 capelas localizadas na zona rural da cidade. São capelas construídas há mais de 50 anos. Algumas, como a de Nossa Senhora de Caravaggio, há mais de 100 anos.

O foco do trabalho são as capelas que continuam localizadas na zona rural. “Preferimos as capelas que permanecem rurais e também as que, embora um pouco mais recentes, têm comunidades ativas ainda de fiéis que frequentam missas, rezam terço e fazem celebrações”, destacou.

O roteiro da pesquisa seguiu as citações encontradas nos livros tombos, a data em que foram provisionadas e os locais. Há capelas das quais só restaram vestígios. Algumas estão em ruínas, mas muitas se mantêm preservadas e cuidadas.

O objetivo inicial era resgatar a história das capelas. “Nesses santuários encontramos um patrimônio memorável, tanto artístico como espiritual, uma comprovação da fé do povo antigo”, explica Maria Inez.

Esses espaços religiosos, Maria Inez avalia, foram construídos para que a população pudesse agradecer, fazer e cumprir promessas e depositar suas esperanças de dias melhores.

Interior da Capela da Sagrada Família

Mostrar a religiosidade do povo serrano e deixar os relatos sobre isso escritos era a ideia no primeiro momento, mas a descoberta das capelas, algumas em estado de deterioração, despertou no grupo o desejo de restaurar e preservar esses pequenos santuários.

“Depois que o livro for editado pretendemos investir nesse campo. Já consultamos pessoas ligadas ao patrimônio histórico e cultural de Campinas para que nos possam ajudar nessa tarefa”, revela.

Os serranos vão encontrar no livro das capelas mais do que histórias e fotos. “Vão se deparar com seus ancestrais e famílias que já no final do século XIX e início do século XX lutavam por uma vida melhor”, concluiu.




Comentários

  1. Parabéns Maria Inez pelo excelente trabalho!

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  2. Parabéns Maria Inez e parabéns a todo o grupo envolvido!

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  3. Saber desse envolvimento extraordinário de pesquisa, catalogação, divulgação e, por fim restauração por iniciativa de Maria Inez, Ângela Amoroso e equipe de voluntários é continuar acreditando na humanidade no que ela tem de melhor: o amor em suas diversas manifestações.

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  4. Completando...

    Por fim, estou emocionado em saber dessa iniciativa tão importante em manter a "chama" de espiritualidade nessas comunidades, na forma de capelas, portais dos céus, algumas de tradição secular.

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