//ANÁLISE// Pastor medieval

                                                                                                                                                                                      


Fernando Pesciotta


O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse, em entrevista à estatal TV Brasil, que as universidades brasileiras deveriam ser para poucos privilegiados. E ironizou a demanda dos professores por vacinação contra a Covid-19, demonstrando todo seu desprezo pelos educadores.

Ribeiro disse que está cansado de pegar motoristas com diploma universitário. Esse pessoal deveria estar sendo utilizado como mão de obra técnica em informática, acrescentou.

O pastor à frente do MEC não é o único estúpido. Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, “lamentou” o fato de o filho do porteiro estar na faculdade.

Há muito o que refletir a partir das declarações. Elas são mais profundas do que uma análise apressada e superficial pode transparecer.

Remetem à tradição de uma oligarquia ignorante, mas afortunada, que ainda pensa exclusivamente nos seus interesses mesquinhos. Não há visão de país, planejamento, pretensão de crescimento ou políticas públicas voltadas ao bem-estar econômico e social da população.

Um país que pensa grande não precisa apenas de mão de obra barata para subsidiar os desejos de consumo de sua elite.

Um país que vislumbre um futuro promissor precisa de cabeças produtivas, de ideias, inovações, criatividade e organização planejada. Tudo o que o Brasil de Bolsonaro não tem.

É dever do Estado adotar políticas públicas que vislumbrem o desenvolvimento do cidadão para compor uma sociedade melhor.

Todos temos o direito de sonhar com a universidade, e o que vou fazer com o diploma depois é um problema nosso, do Estado inclusive, expandindo o mercado de trabalho e a economia.

Alguém já imaginou EUA, Inglaterra, França, Japão, Alemanha e até a China desprezando o acesso à universidade?

Não se pode esperar nada de Paulo Guedes, investidor em fundos controladores de escolas de educação a distância. Mas deve-se cobrar mais do ministro da Educação.

Serão anos para recuperar esse estrago. Toda a sociedade vai pagar um preço muito alto, até aqueles que acham que estão tirando proveito agora. Todos pagaremos por esse governo medieval.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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