//OPINIÃO// Flexibilização coloca crianças e adolescentes em risco




Salete Silva

O governador João Doria anunciou esta semana que a vida está voltando ao normal no Estado de São Paulo. Sua expectativa é que com a queda substancial de casos de infecção por covid-19, internações, óbitos e de ocupação de Unidade de Terapia Intensiva, além do avanço da vacinação, será possível eliminar todas as restrições de horário e liberar atendimento presencial com capacidade de 100% a partir da segunda quinzena de agosto.

O otimismo do governador e de autoridades que pretendem acelerar o ritmo de retomada da economia de olho nas eleições de 2022 parece desconsiderar a chegada no Brasil da variante Delta que tem triplicado os casos de infecções em alguns países e atingindo em especial os mais jovens, incluindo crianças e adolescentes ainda não imunizados.

O Estado de São Paulo identificou 15 pacientes com a cepa Delta do novo coronavírus: 13 na capital paulista e duas no Interior, no Vale do Paraíba, até esta quarta-feira, 28 de julho.

Nas últimas semanas muitos países, alguns dos quais com a vacinação mais adiantada do que aqui, foram obrigados a retroceder nas medidas de segurança e de isolamento social para evitar as consequências de uma nova onda provocada pela variante Delta.

Os dados estatísticos revelam o que já se sabia. A vacina é o único tratamento para a covid-19. A comunidade científica apresentou vários estudos que demonstram a eficiência da vacina, em especial em países que já imunizaram mais de 50% da sua população com as duas doses. Ao contrário do que ocorreu com o tratamento precoce. Nenhum país até agora comprovou cientificamente ter combatido a pandemia com o uso de cloroquina ou ivermectina. 

Mas o cenário internacional indica que não é hora de relaxar, apesar de vários indicadores positivos, entre os quais o da transmissão abaixo de 1. O alerta sobre os riscos da nova variante serve em especial para proteção dos mais jovens e os que ainda não estão imunizados.

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Entre infectologistas e especialistas há um consenso de que os casos de infecção devem voltar a subir com a chegada da nova variante. Será inevitável. A avaliação tem como base o que ocorreu em países da Ásia, como Sri Lanka, Indonésia, Coreia, Singapura, Japão, além de países europeus e dos Estados Unidos.

O Vietnã é o caso mais simbólico. Mais pobre do que o Brasil e com cerca de 100 milhões de habitantes, o país controlou muito bem a pandemia no ano passado por meio de lockdown, testagem em massa, rastreamento e uso de máscara.

A situação estava tranquila quando a variante Delta chegou e provocou um descontrole. O Vietnã que só havia registrado 1.465 casos e 35 mortes ao longo de 2020, em algumas semanas chegou a registrar mais de 4 mil casos.

O mesmo ocorreu em países da Ásia, no Reino Unido, e mais recentemente nos Estados Unidos, que além da transmissão mais rápida da nova variante conta com a resistência da população em vacinar-se em diversos Estados.

O vírus mudou suficientemente para fugir dos anticorpos. A contaminação que ocorre no SARS-CoV-2  de  uma pessoa para duas a três sobe para cinco a oito pessoas. O controle da pandemia, portanto, fica mais difícil. A tendência é que se torne a variante predominante, como já ocorreu no México em que a cepa brasileira Gama era predominante até a chegada da Delta.

A contaminação de 1.000 pessoas em um festival de música na cidade de Utrecht, na Holanda, no início do mês de julho, é outro indicativo da capacidade de transmissão do vírus pela nova variante.

No fim de junho, a Holanda havia abolido todas as medidas de combate à pandemia, além de voltar a permitir grandes eventos que exigiam do público teste negativo ou comprovação de vacina.

O número diário de infecções disparou 500% no país, e está agora em torno de 8 mil por dia. A maioria dos holandeses considera, segundo pesquisas, que o governo agiu de forma irresponsável.

Adolescentes e jovens são os mais prejudicados pela flexibilização das medidas de segurança. Um programa de acompanhamento do Reino Unido que testa e rastreia um número significativo de pessoas comprova o aumento dos casos positivos nas faixas etárias mais jovens.

Não há tantas hospitalizações, mas os casos de transmissões estão aumentando e a situação está saindo do controle com crescimento de infecções entre crianças e adolescentes.

Entre os meses de maio e julho a contaminação de crianças de 2 a 4 anos que era praticamente zero chegou a 1,4%. Na faixa etária de 7 a 11 anos, que também era próxima a zero em maio, atingiu 2%. Entre 12 a 24 anos saiu de zero em maio para 2,9% em julho.

Enquanto não houver a vacinação dessas faixas etárias a tendência é aumentar a infecção. Por que não agir com moderação até que as crianças e jovens estejam vacinadas? No Brasil a experiência tem mostrado que a mensagem de que a situação está tranquila faz com que o cidadão baixe a guarda, não leve a sério as medidas de segurança, como o uso de máscara.

E como será o retorno às aulas? As escolas refletem a sociedade. Se o comportamento social for o de tranquilidade e relaxamento, as escolas não vão dar conta sozinhas de evitar a contaminação. O cenário internacional indica que flexibilizar de uma vez traz transtornos e coloca a população mais jovem em risco.

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