- Gerar link
- Outros aplicativos
Carlos Motta
Do lado direito do carro uma mulher com os olhos arregalados gritava "Luladrão" sem parar. Acompanhava o carro e gritava e gritava e gritava.
Do lado esquerdo, um homem de barba, com expressão de ódio no rosto, mexia os braços e me xingava. Nem preciso dizer do quê.
Outras pessoas faziam sinais de negativo, polegares para baixo.
Me senti num corredor polonês.
Mas sabia que era um corredor polonês pequeno, minúsculo, e que eu iria sobreviver. Afinal já esperava por esse tipo de reação no coração do bolsonarismo serrano, aquele trechinho da Rua Coronel Pedro Penteado que vai da Praça João Zelante até a esquina do Rádio Hotel.
Foi como previ.
O carro avançou alguns metros e vi, pelo retrovisor, o inferno se distanciar.
À frente, caminho livre, e como em quase todo o trajeto da carreata deste sábado, 3 de julho, pelo "Fora, Bolsonaro", Serra Negra mostrou que também não aguenta mais o governo do miliciano.
Passamos por vários bairros, vimos pessoas jovens e idosas, crianças, mulheres sozinhas e casais, e descobrimos que os 82% dos votos que Bolsonaro teve no segundo turno da eleição presidencial em 2018 devem já ter encolhido pela metade.
Gente nas janelas de prédios, sacadas de casas, em bares e mercadinhos, nas calçadas, muita gente mesmo, nos aplaudia e gritava o bordão que virou preferência nacional, o "fora, Bolsonaro".
Não sei dizer se a nossa carreata deste sábado, organizada em alguns poucos dias, sem lideranças ou formalidades, foi a maior manifestação pública dos últimos anos na cidade.
Pelo que ouvi de várias pessoas, foi mesmo.
Mas isso não importa. Ela valeu, acredito, para mostrar aos serranos que outro Brasil é possível, que outro país, bem melhor que este, vai ser construído quando essa quadrilha de milicianos for expulsa de Brasília e devidamente punida pelos inúmeros crimes cometidos.
Dia 24, se tudo der certo, voltaremos às ruas da cidade. Com mais ânimo, com mais vontade de mostrar que ninguém tem o direito de suprimir a voz de quem discorda do discurso oficial e pensa que o futuro está numa sociedade mais fraterna, justa e igualitária.
Acho que depois deste sábado Serra Negra subiu um degrau na escala da democracia.
SEJA NOSSO PARCEIRO!
Comentários
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos. Não serão aceitos, porém, comentários anônimos. Todos serão moderados. E não serão publicados os que estimulem o preconceito de qualquer espécie, ofendam, injuriem ou difamem quem quer que seja, contenham acusações improcedentes, preguem o ódio ou a violência.