//CRÔNICA// Os balões no céu e as leis dos homens na terra



Carlos Motta


Esses balões de ar quente que de vez em quando surgem no céu de Serra Negra são a coisa mais bonita de se ver.

Toda vez, olho para eles como se tivesse voltado no tempo, me deliciando com os romances de Júlio Verne que lia quando era jovem, aquelas fantásticas aventuras de homens que viajavam pelo mundo soltos no ar, ao sabor dos ventos.

Apesar disso, confesso, nunca voaria naqueles troços. Lugares altos e abertos me causam ansiedade. Tenho medo até de subir o Morro do Fonseca na cadeirinha do miniférico.

Por isso invejo essas pessoas que voam nesses balões. Devem passar por uma experiência incrível.

Fora esse medo das alturas, pagar R$ 350, no mínimo, para esse passeio, não é para o meu bico.

Não sei ao certo quantas pessoas cabem no cesto de um desses balões. Talvez umas seis ou oito. 

Suponho que eles façam vários voos por dia, pelo menos em dois dias da semana. Operar um balão, portanto, pode se tornar uma atividade comercial muito lucrativa.

A Prefeitura de Serra Negra, evidentemente, sabe disso. Sabe, inclusive, que há muita gente interessada em fazer esse passeio, e que existem no Brasil inúmeros operadores de balões de ar quente.

Em Boituva, por exemplo, uma das principais cidades que oferecem o balonismo ao público, há várias empresas oferecendo passeios.

Sendo assim, não dá para entender por que a prefeitura simplesmente não regulamenta a prática na cidade e cobra dos operadores dos balões uma taxa para que usem uma área pública para as decolagens.

Digo isso porque hoje, 27 de julho, se encerra o prazo para que pessoas físicas ou jurídicas entreguem as propostas do chamamento público que vai escolher quem poderá oferecer passeios de balão de ar quente em Serra Negra.

Pelo que vi no edital, apenas o vencedor desse chamamento público poderá firmar a parceira com o município. Ou seja, o ganhador não terá concorrência. 

Não vi também nenhuma contrapartida para a prefeitura. O município vai ceder a área do Casco de Ouro para as decolagens e não vai receber nada em troca.

Não acho que isso seja justo. Nem conveniente para o município, principalmente nestes dias de crise econômica. 

Além do mais, parece que está virando moda entregar áreas públicas para que entidades privadas a administrem, como ocorre no Alto da Serra e na represa Santa Lídia.

Está certo, sou uma espécie de dinossauro, do tempo em que o bem público era mantido pelo poder público diretamente, sem intermediários. 

Como se vê, os tempos são outros, as práticas são outras, a moralidade, idem. 

É uma pena que as leis dos homens, ao contrário do princípio imutável da física que faz os balões subirem, sejam escritas segundo as suas próprias conveniências. Ou, muitas vezes, segundo as conveniências dos amigos.




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Comentários

  1. Caro Mota, escrevo aqui como Diretor Técnico do Clube de Voo Livre Alto da Serra para esclarecer a você os seus leitores alguns tópicos.
    A concessão dada ao Clube de Voo Livre Alto da Serra não nos dá direito de exploração financeira de forma alguma (as atividades comerciais lá no topo estão em área particular). Nós somos uma entidade sem fins lucrativos, pleiteamos e recebemos do município a responsabilidade de zelar pelo topo da montanha unicamente pelo nosso interesse na prática esportiva. E nos foi concedida, acredito que por nossos excelentes trabalhos na organização e manutenção que é feita com recursos próprios oriundos das anuidades e pequenas taxas colaborativas que recebemos de pilotos visitantes. Que diga-se de passagem, por nosso esforço, nosso cuidado e pela prática do voo o Alto da Serra tornou-se o ponto turístico mais importante do município. Atrai turistas e consequentemente trás lucros para toda cadeia turística da cidade.
    Consegue imaginar parceria e contrapartida melhor que essa para o poder público, uma vez que o custo é quase zero para o erário (eles ajudam mantendo a estrada, recolhendo o lixo das lixeiras, fornecendo água para os banheiros entre outros) e o retorno para o município é quase incalculável. Pense nos visitantes encantados com o voo e o visual do local que antes era horroroso, pense na repercussão em mídia espontânea das suas postagens em mídias sociais.
    Aproveito e convido você a subir nos dias de semana ou em um sábado logo cedo para ver nossa diretoria voluntariamente recolhendo lixo e bitucas da encosta e do topo, arrancando pragas da grama com as mãos, aparando e adubando a grama, organizando vagas, organizando a atividade do voo, entre outras que fazem aquele ponto turístico funcionar de forma exemplar.
    Obrigado pela oportunidade.
    Abraço e sucesso!

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