//CRÔNICA// A carreata e as fissuras no muro da intolerância





Carlos Motta

Logo depois do fim da carreata do "Fora, Bolsonaro" de ontem (sábado, 24 de julho) por vários bairros e centro de Serra Negra, uma amiga me mostrou uma mensagem debochada que recebeu de um parente, bolsonarista roxo:

- Olha só o que ele escreveu: "Contei 20 carros, entre eles duas SUVs de comunista gourmet... Assim, o capitão vai ficar muitos anos mais na presidência."

Demos risadas. 

Não porque a blague do bolsonarista fosse engraçada - escutamos a mesma piada na carreata do dia 3 -, mas pelo fato de ele ter se preocupado tanto conosco ao ponto de contar os veículos que levamos à manifestação - que, por sinal, foram mais que 20.

Afinal, é como diz a cultura popular: "Ninguém chuta cachorro morto."

Serra Negra, muitos se lembram, deu 82% de seus votos ao "capitão" no segundo turno da última eleição presidencial. Sua vitória aqui foi avassaladora.

Mas pela receptividade que as duas carreatas tiveram da população, com muita gente dando sinais de positivo e aplaudindo os manifestantes, se houvesse uma eleição agora, esses 82% se reduziriam à metade - ou até menos.

Claro que Bolsonaro ainda tem muitos simpatizantes em Serra Negra. Praticamente todos os empresários locais votaram e votariam nele novamente, por razões que só Deus sabe, já que, desde o fim dos governos do PT, a única coisa que fazem é reclamar da vida.

Mas essa é outra história.

O importante, para quem deseja o bem-estar dos brasileiros e dos serranos, em especial, é notar que aquele pensamento único que tem tolhido o desenvolvimento da cidade está apresentando algumas fissuras. 

O grupo que vem organizando as carreatas do "Fora, Bolsonaro" já percebeu isso claramente.

Não só pelas manifestações de simpatia à causa, durante o percurso da carreata e nas redes sociais, mas pela reação dos bolsonaristas locais, cada vez mais agressivos: a bandeira de uma das participantes da carreata foi arrancada de suas mãos violentamente, na Rua Coronel Pedro Penteado.

Acostumados há tanto tempo a fazer o que bem entendem na cidade sem contestação, essas pessoas agora se escudam, para manter seus privilégios, mais fortemente em manifestações de intolerância, preconceito de classe, discriminação às minorias, ódio aos adversários ideológicos e, em resumo, profundo desprezo pela democracia.

São como múmias que se desfazem em pó assim que expostas ao oxigênio e à luz solar. 

Vivem uma realidade paralela, acreditando em fantasias que lhes são contadas por uma imensa fábrica de notícias falsas - as fake news.

Felizmente, como se vê em Serra Negra, são cada vez menos e mais isolados.

É como escreveu o poeta Mario Quintana em seu "Poeminho do Contra"

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!



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