//PANDEMIA// Cidades turísticas têm mais dificuldade para conter covid-19, diz sanitarista

 

Antonio Luiz Caldas Júnior: aumento médio de
óbitos foi bem menor no Estado do que em Serra Negra neste ano

Enquanto em boa parte dos países a pandemia de covid-19 começa a diminuir, no Brasil a situação se agravou nas últimas semanas e o país, que tem emendado uma onda na outra desde o ano passado, mantém uma trajetória de alta de infecções e mortes que já chegam a quase 500 mil.

Serra Negra e outras cidades do Circuito das Águas Paulista apresentam uma velocidade de infecções e óbitos acima da média registrada no Estado de São Paulo. Somente a vacinação de 70% a 80% dos serranos conseguirá frear a pandemia, além das medidas de controle, como isolamento social e uso de máscaras.

Esse cenário da pandemia no mundo, no Brasil e em Serra Negra, foi traçado pelo médico sanitarista Antonio Luiz Caldas Júnior, professor do Departamento de Saúde Pública da Unesp de Botucatu, em entrevista ao programa Serra Negra na Roda desta quinta-feira, 10 de junho, transmitido pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

“Em termos de óbitos, Serra Negra aumentou dez vezes em relação ao ano passado”, destacou o professor, que informou que em 2020 apenas quatro mortes foram registradas na cidade. “O aumento médio de óbitos foi bem menor no Estado”, comparou.

O professor lembrou que em 2020 a pandemia foi muito bem controlada em Serra Negra. O aumento de casos se acelerou no município e em todo o Circuito das Águas, o professor avalia, devido ao aumento do fluxo de visitantes a partir de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período de férias.

Caldas Júnior explicou que o controle da pandemia em regiões turísticas, como Serra Negra, se mostrou mais difícil em outros países, entre os quais a Espanha. “Em outras partes do mundo há referência a esse fenômeno turístico. Outros países pagaram um preço alto pelo movimento turístico”, afirmou.

Ele lembrou que para evitar a contaminação em Madri, as pessoas fugiram para suas casas de veraneio em outros municípios, como ocorreu na região do Circuito das Águas Paulista. 

“A grande explosão de casos nos municípios ocorreu na sucessão da primeira onda, entre os meses de dezembro e janeiro. Na verdade, foi um tsunami de casos que foram também para o litoral, como Santos e São Vicente, com muita força bem no período de férias”, explicou.

Faltou, na opinião do sanitarista, uma unicidade nacional para que fossem adotadas de forma rápida as medidas para conter a expansão da doença no país, como fez a China, que isolou Wuhan, a cidade onde surgiu a covid-19, providenciou 60 mil voluntários, dos quais 10 mil médicos e construiu um hospital para mil leitos em dez dias. “A China registrou até agora um total de 5 mil óbitos, número que recentemente quase foi atingido em apenas um dia no Brasil”, ressaltou. 

O professor avalia que o Plano São Paulo de enfrentamento da covid-19 foi uma boa iniciativa, porque procurava harmonização das medidas no Estado. Mas houve, segundo ele, um afrouxamento excessivo em alguns aspectos por pressões políticas e econômicas.

“Quando a gente fala de fechamento, não estamos falando em acabar com a economia, mas com as atividades desnecessárias que propiciam a transmissão do vírus. Esse é um assunto polêmico e no Brasil há uma falsa contradição entre economia e saúde”, afirmou.

Caldas Júnior destacou ainda a necessidade de auxílio financeiro do poder público aos setores e municípios economicamente mais afetados, como os bares e restaurantes e as estâncias turísticas.

Dados apresentados na CPI da covid-19, em especial o estudo do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa), vão provar, segundo o professor, que não houve negligência do governo federal, mas intenção de tratar a doença com uma estratégia negacionista, que incluiu uma medicação sem comprovação científica.

“Quer passar um final de semana em Serra Negra, toma uma ivermectina e vai pra lá, não precisa usar máscara, pode ir em festa em balada... Isso não funciona”, afirmou o sanitarista. “Os documentos do Cepedisa mostram fake news, mensagens e declarações de Bolsonaro que revelam que houve um movimento para minimizar a gravidade da doença”, concluiu.

Santista, morador de Serra Negra, nos anos 50, o professor se diz um apaixonado pela cidade e pela região. Sua expectativa é que a vacinação deverá controlar a doença na cidade. Ele avalia que a vacinação em Serra Negra está ocorrendo em um bom ritmo se considerar a falta de oferta de vacinas.

Ele calcula que a cidade já vacinou cerca de 30% de sua população e precisa alcançar entre 70% e 80% dos serranos, cerca de 23 mil pessoas. “A vacinação começou em fevereiro, levou três meses e meio para chegar a 30%, e precisaria de sete meses, ou seja, até dezembro e janeiro, para vacinar o porcentual necessário", calculou.

O professor destaca, no entanto, a previsão do governador João Doria de vacinar até outubro todos os brasileiros do Estado de São Paulo. “Tomara, mas não é porque vacinou que liberou geral”, alerta sobre os cuidados que a população deve continuar a tomar mesmo depois de vacinada, usando máscaras, mantendo o distanciamento e higienizando as mãos.

Inglaterra e Portugal, assim como outros países, o professor explica, controlaram a pandemia com vacina, distanciamento social e medidas restritivas de aglomeração de pessoas que foram importantes em países como a Nova Zelândia, que nem vacinou a população, mas acabou com a circulação do coronavírus. 

A seguir, a íntegra do programa:



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