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José Roberto Lopes Fidalgo
O barulho irritante e assustador das serras elétricas tem se tornado uma constante quase diária nas chamadas zonas periurbanas, onde atividades urbanas e rurais se misturam. Aliás, o conceito de áreas periurbanas vem se modificando com relativa rapidez, devido as cada vez mais intrincadas leis que compõem a legislação de ocupação do solo em Serra Negra, vítima de seguidas e não muito transparentes tentativas da modificação de seus limites, algumas delas, bem sucedidas ou não, respondendo a interesses difusos e não raro momentâneos.
Como eu, moradores mais antigos desses locais não detêm informações precisas sobre que áreas e de que forma a cobertura vegetal de vastos ou pequenos terrenos vizinhos podem ser devastadas, quais as espécies nativas não podem ser derrubadas, qual o conceito concreto de espécies nativas, por que enormes eucaliptos com décadas de vida podem ser colocados no chão, embora tenham, por antiguidade e resistência, se tornado parte integrante do meio ambiente onde se encontram, incluindo-se aí a serventia de abrigo a inúmeras espécies de aves.
E quando as serras elétricas chegam, alguns desses munícipes vão procurar a ajuda dos chamados órgãos competentes. Ali, são em geral informados que, embora o município possua uma Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, esta não tem competência para verificar, multar ou impedir possíveis crimes ambientais cometidos nas regiões da cidade, pois essa função cabe à Polícia Florestal, cuja sede localiza-se na vizinha Amparo e cujo telefone dificilmente é atendido.
E, quando isso porventura acontece, o reclamante é submetido a um questionário sobre a natureza da possível infração, o qual, por desconhecimento técnico, é quase sempre incapaz de responder. Já houve casos até mesmo de munícipes serem indagados se o cidadão sabe se o usuário da serra elétrica tem licença para utilizar a ferramenta, ou até mesmo serem orientados por funcionário da corporação a procurar a Delegacia da Polícia Civil em Serra Negra para formalizar sua queixa.
Contudo, o corte de árvores e devastação da cobertura vegetal não são os únicos problemas enfrentados pelos moradores, já que a aplicação de venenos cancerígenos para exterminar áreas verdes ou a realização de queimadas com o mesmo objetivo quase nunca encontram respaldo das autoridades quando denunciados. Em algumas ocasiões, a Guarda Municipal é que se faz presente para coibir provisoriamente essas irregularidades, o que, com certeza, não faz parte de suas atribuições.
Assim, o que alguns chamam de progresso, outros qualificam como devastação ambiental descontrolada, lembrando que um dos maiores patrimônios turísticos e, portanto, econômicos da “cidade saúde” é justamente a parte de sua natureza que ainda se encontra preservada.
Até quando, ninguém pode prever, já que os defensores da devastação se valem do sempre proclamado direito à propriedade privada e ao que chamam de “progresso”, como se este proporcionasse desenvolvimento e qualidade de vida para a cidade, em vez de mirrados aumentos de impostos municipais, empregos precários e temporários e atendendo, em geral, a interesses difusos de pequenos grupos preocupados apenas em obter vantagens financeiras fáceis à custa do bem-estar da maioria da população.
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José Roberto Lopes Fidalgo
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