//OPINIÃO// Toda cautela é pouca neste momento da pandemia



Salete Silva


O avanço da Fase Emergencial para a Vermelha do Plano São Paulo de enfrentamento da pandemia é recebido com alívio para a economia local, mas deve ser encarado com muita cautela pela população de forma geral.

O governo do Estado decidiu afrouxar as regras devido ao recuo no número de novas infecções, internações em especial nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e até de mortes.

A estabilidade no número de novos casos e de mortes é uma tendência nacional em patamares, no entanto, ainda muito elevados e com tendência de aceleração das contaminações.

A vacinação segue em ritmo lento. Em Serra Negra ainda centenas de profissionais da área da saúde e funcionários do Corpo de Bombeiros aguardam a vacinação.

Trabalhadores de linha de frente continuam expostos aos riscos de contaminação sem previsão de vacinação, como frentistas, motoristas e funcionários de comércios essenciais.

Pesquisa realizada pelo jornal Estado de Minas dá uma ideia das categorias de trabalhadores mais internados nos hospitais da Grande Belo Horizonte.

Entre os trabalhadores internados por pelo menos um dia por covid-19 na região metropolitana de Belo Horizonte, 62%, ou seja, a maioria, são faxineiros, garis e auxiliares de limpeza. Os aposentados correspondem a 30% do total.

Empregados domésticos, diaristas e cozinheiros representam 6,5% dos internados. Os demais como vendedor, caminhoneiro, entregador de mercadorias, auxiliar de produção e outros representam 0,3% cada categoria.

Outro levantamento realizado pelo El País por meio do estúdio de inteligência de dados Lagom Data indica que os trabalhadores mais atingidos pelo coronavírus são os frentistas de postos de gasolina, caixas de supermercado, motoristas de ônibus e vigilantes.

As mortes entre frentistas cresceram 68% entre janeiro e fevereiro deste ano em relação ao primeiro bimestre de 2020, anterior à pandemia. No caso dos operadores de caixa de supermercado, os óbitos entre esses profissionais aumentaram 67% na comparação entre os dois períodos.

As mortes de motoristas de ônibus superaram em 62% igual período do ano passado. Entre os vigilantes, incluindo profissionais terceirizados, entre os quais os contratados para monitorar temperatura na entrada de centros comerciais, as mortes aumentaram 59%.

Embora o presidente da República Jair Bolsonaro ainda relativize a gravidade da situação e incentive a população a se expor mesmo sem oferecer vacinação em massa, auxílio emergencial equivalente pelo menos a uma cesta básica e distribuição de máscaras à população mais vulnerável, os números indicam que  a covid-19 é a doença que mais mata no país.

Levantamento realizado pelo UOL revela que foram registradas 16.558 mortes por covid-19 entre 27 de março e 3 de abril de 2021. As mortes por pneumonia somaram 2.084; septicemia, 200; causas cardíacas inespecíficas, 1.454; acidente vascular cerebral (AVC), 1.290; infarto, 1.63; insuficiência respiratória, 1.104; mortes indeterminadas, 108; outras causas, 7.036.

No total foram 16.341 mortes por razões que não o covid-19. As mortes por covid-19, portanto, superaram nesse período as demais juntas em 217 óbitos. Os números refutam argumentos de que outras causas matam no país mais do que covid-19.

Ao tornar mais flexíveis as regras de restrição de funcionamento da economia e de circulação de pessoas no momento em que o país registra mais de 3.000 mortes em média por dia, os governos e municípios correm o risco de ter de retomar as medidas mais drásticas daqui a algumas semanas.

Infectologistas e especialistas, entre os quais profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam as medidas de restrição como responsáveis pelos “êxitos localizados” na contenção da pandemia, mas alertam para o risco de retomada do ritmo acelerado de transmissão em locais em que o número de óbitos ainda não cedeu e que a disponibilidade dos leitos de UTI ainda é muito crítica.

Na fase emergencial, os casos de infecção em Serra Negra chegaram a diminuir 48%. No sábado, 17 de abril, a cidade registrou 14 novos casos e 14 suspeitos. Estavam internadas 12 pessoas, das quais 5 em leitos de Unidade de Terapia Intensiva. Na semana de 12 a 18 de abril, 4 pessoas morreram, elevando o total de óbitos para 46 desde o início da pandemia.

A situação ainda é crítica no município. Se a população baixar a guarda, dispensar o uso de máscara e abusar nas saídas e aglomerações, provavelmente, a cidade correrá o risco de retornar à fase emergencial. 

Nas próximas semanas, com a vacinação mais direcionada aos grupos prioritários, os mais jovens, que se infectaram mais e de forma mais grave na atual fase da pandemia, devem continuar mais expostos e correndo maior risco de contaminação e internação.

Comentários

  1. Edmilson Eirós Oliveira19 de abril de 2021 às 21:03

    Parabéns pelos indicadores e informações muito relevantes. Infelizmente é uma fase que está impactando todas as estruturas de gestão privada e pública e de comportamento pessoal e profissional. Os administradores públicos pressionados para não quebrar a economia local e ao mesmo tempo manter o mínimo de estrutura hospitalar.
    As pessoas, por sua vez, não estão suportando mais o confinamento e se sentem no direito de cometer deslizes nas regras básicas de proteção. Aliado a tudo isto, uma forte presença de movimentos que buscam propagar a "desinformação" que visa justamente comprometer todo um esforço até o presente momento.
    Ou seja, quase um caos instalado. Uma próxima onda poderá ser mais fatal. Eis o problema.

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