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Carlos Motta
Nesta terça-feira, 27 de abril, o boletim da prefeitura sobre a pandemia informou a ocorrência de mais 38 casos de covid-19 na cidade. Com isso, o sinal se inverteu: a pequena queda que se verificava na média semanal de casos se transformou em alta. E o fio de esperança de dias melhores se rompeu.
Em meio a essa notícia desalentadora, uma outra agitou a parcela da população que se importa com o destino da cidade: a de que o prefeito Elmir Chedid havia fechado por tempo indeterminado o Alto da Serra, ponto turístico mais badalado do município.
A razão para essa medida foi o caos que a superlotação provocou no local no fim de semana.
No pré-pandemia, não raras vezes o Alto da Serra recebeu uma multidão de visitantes. O problema é que agora, com a rapidez e facilidade com que a doença se transmite, é inconcebível que se promovam aglomerações.
O Alto da Serra, porém, é só a ponta de um iceberg bem maior, que camufla uma série de fatores que impedem o controle da pandemia na cidade.
Todos sabem que para diminuir o contágio do coronavírus é necessário que as pessoas usem máscaras de proteção facial, mantenham distância uma das outras, higienizem as mãos e sejam vacinadas. Isso é o básico, o beabá que a pandemia ensinou e que deveria ser seguido por todos.
Em Serra Negra, como de resto em todo o país, infelizmente, essas regras tão simples são ignoradas por uns tantos, jovens e velhos, trabalhadores e patrões.
O prefeito, na transmissão em rede social em que anunciou que fecharia o Alto da Serra, pegou pesado com comerciantes que não observam os protocolos sanitários. Fez muito bem.
Outra providência que tomou foi proibir o consumo de bebidas alcoólicas neste e no próximo fim de semana para diminuir a lotação dos bares. Correto.
Mas no atual estágio da pandemia e na situação em que se encontram os sistemas público e privado de saúde, tais providências são como tentar esvaziar o oceano com um copo d'água.
É preciso ir muito além, é preciso ter coragem para enfrentar o lobby de comerciantes pela "abertura geral e irrestrita" e achar um jeito de diminuir drasticamente a circulação das pessoas na cidade, impedindo assim a transmissão do coronavírus.
O risco que Serra Negra corre, se o cenário atual não for alterado, é estender a pandemia e suas consequências gravíssimas por um longo período, o que vai resultar em mais perdas de vidas, mais sofrimento, e agravamento da crise financeira.
Até a terça-feira, 27 de abril, 1.852 pessoas haviam contraído o covid-19 no município. Não se sabe quantas tiveram e têm sequelas da doença.
Mas se sabe que 50 vidas foram tiradas do nosso convívio - número que certamente vai aumentar nos próximos dias.
Em tempo:
1) A visitação ao Alto da Serra, no pós-pandemia, terá de obedecer regras rígidas. A estrada que leva os visitantes ao local não vai aguentar, por muito tempo, o enorme fluxo de veículos. Cobrar ingressos, como alguns querem, é privar uma parcela da população de usufruir um bem comum. Uma solução seria limitar o número de visitantes por determinado período de tempo, distribuindo senhas, em algum local do centro da cidade, para quem quiser ir até lá.
2) Não existe solução mágica para a pandemia, nem cura milagrosa para o covid-19. Adotar o tal "tratamento precoce", como querem alguns vereadores, não é só jogar dinheiro público fora, mas atentar contra a saúde - e a vida - das pessoas.
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O óbvio do óbvio do óbvio. Mas, como dizem cientistas, sociólogos, filósofos e psicanalistas, grande número de pessoas tem, com frequência, imensas dificuldades de enxergar o ÓBVIO. Nem com óculos, telescópios ou microscópios.
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