//IMPRENSA// Covid já matou 86 jornalistas neste ano. Um recorde mundial

Paulo Zocchi: procura pelo jornalismo cresceu neste um ano de pandemia

O Brasil é recordista mundial em mortes de jornalistas vitimados pelo covid-19. De acordo com levantamento do Departamento de Saúde da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), 169 profissionais morreram entre abril de 2020 e março de 2021. Este ano, já são 86 vítimas, porcentual 8,6% maior que no total de 2020.

Esses números foram revelados pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e vice-presidente da Fenaj, Paulo Zocchi, no programa Serra Negra na Roda, transmitido na quarta-feira, 7 de abril, Dia do Jornalista. O programa é produzido pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari e apresentado por Salete Silva e Carlos Motta.

"O jornalismo é uma atividade essencial à sociedade e o jornalista também está na linha de frente do combate à pandemia", disse Zocchi. E segundo ele, neste um ano de duração da pandemia, aumentou a procura pelo jornalismo. "Cresceu a audiência das televisões e rádios e a procura por sites, jornais e revistas, pois as pessoas estão procurando intuitivamente se informar, estão procurando informações confiáveis."

Zocchi afirmou, porém, que se trava uma luta diária contra as "fake news" promovidas pelo presidente Bolsonaro e seus seguidores. "Temos um presidente que dissemina a desinformação, um presidente negacionista", disse. Para ele, não há dúvidas de que o governo federal é inimigo da imprensa. "Bolsonaro é uma herança do regime militar, uma expressão política dos porões da ditadura."

Como reforço de sua afirmação, Zocchi deu números do crescimento da violência contra os jornalistas, com base no relatório anual que a Fenaj prepara desde 1998. "Em 2017 tivemos 99 ocorrências de violência contra jornalistas; em 2018, 135; em 2019, já sob o governo Bolsonaro, 208; e em 2020, 428 ocorrências."

Essas ocorrências incluem xingamentos, ameaças, agressões e ataques diretos aos profissionais. "Num regime democrático todo mundo tem o direito de contestar uma notícia ou reportagem, isso faz parte, mas Bolsonaro e seu grupo atacam os indivíduos e a própria imprensa como instituição, agindo como um ditador que é contra a liberdade de informação."

Zocchi diz ser favorável à federalização de crimes contra jornalistas, para evitar que eles não sejam investigados e punidos, como muitas vezes ocorre em cidades menores. "Nessas localidades, geralmente a violência parte de algum chefe político local, que tem laços de amizade com as autoridades", explicou.

A Fenaj já ingressou, junto com outras entidades, com um pedido de impeachment de Bolsonaro, por inúmeros crimes de responsabilidade, e também com uma ação judicial por causa das sucessivas agressões aos jornalistas que o presidente promoveu no "cercadinho" do Palácio do Alvorada, onde costuma falar com seus apoiadores.

Já o sindicato dos jornalistas de São Paulo ingressou com uma Ação Civil Pública contra o presidente da República pelos danos morais coletivos causados à categoria. O sindicato pleiteia à Justiça liminar para que Bolsonaro se abstenha de realizar novas manifestações com “ofensa, deslegitimação ou desqualificação à profissão de jornalista ou à pessoa física dos profissionais de imprensa, bem como de vazar/divulgar quaisquer dados pessoais de jornalistas”. Pede, ainda, uma indenização de R$ 100 mil, em favor do Instituto Vladimir Herzog.

Zocchi acredita que o cenário de polarização política vivido hoje pelo Brasil faz com que muitas pessoas que apoiam o governo federal neguem "fatos óbvios ululantes". Apesar disso ele acha que o jornalismo está vencendo as fake news. "O jornalismo busca a veracidade e é como se diz: água mole em pedra dura... Tenho a certeza de que o jornalismo brasileiro se fortaleceu neste ano de pandemia."

Assista abaixo a íntegra do programa:



 

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